Rondonópolis Empresas (MT) – Com a instabilidade no mercado de insumos em que o agronegócio vive hoje, é importante que o produtor entenda a situação pela qual o setor passa, principalmente sobre oferta e preço, o que isso impacta em suas ações e na próxima safra também.
Segundo o analista de fertilizantes, Jeferson Souza, da Agrinvest Commodities, palestrante do painel Solos do XXII Encontro Técnico Soja da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), realizado em Cuiabá/MT, é fundamental que a classe produtora tenha o discernimento do quão pesado o fertilizante ficou em sua conta final, ou seja, no custo de produção.
“Aí é que vai um link interessante que podemos traçar com relação ao solo. Na minha opinião, a principal coisa a se fazer hoje é da porteira para dentro”, destaca Souza. Em sua avaliação apresentada durante o evento, ele sinalizou que os preços dos fertilizantes, por exemplo, devem se manter em alta nos próximos meses, não havendo indícios de queda.
“Pode até acontecer, mas o que recomendamos é que o produtor trabalhe esta situação com os mecanismos que possui”, indicou o consultor.
Mas, não é só aqui. O preço dos insumos segue o mesmo padrão nos Estados Unidos, na China e diversos países, todos eles hoje estão vivendo perto da máxima histórica de valores, de acordo com o profissional da Agrinvest, “Está caro para todo mundo, esse é o ponto. Podemos dizer que acabamos vivenciando um sofrimento maior, já que estamos em um momento crítico de compra, a nossa janela ainda está aberta, os EUA não mais, por exemplo. O produtor americano já está pensando na safra que vem, então ele já comprou tudo”, explica o analista.
E então, o que fazer?
Unanimidade do painel de Solos durante o Encontro Técnico da Fundação MT, os pesquisadores e especialistas concordaram de que a condição do solo é a chave que o produtor rural tem em mãos.
O pesquisador da Fundação MT, engenheiro agrônomo e mestre em Ciência do Solo, Felipe Bertol, que coordenou as discussões sobre o assunto, aponta quais são os três pilares que devem ser considerados pelos agricultores para qualquer tomada de decisão.
O primeiro deles é a caracterização do sistema produtivo, que contempla a aptidão agrícola do solo; qual a sequência de cultivos da área e as características químicas, físicas e biológicas dos locais de plantio. O segundo pilar são as práticas de adubação, que incluem quantidade de nutrientes aportados, quais fontes e qual o modo de aplicação. Já o terceiro ponto é o histórico de produtividade, que diz o que está limitando-a, se há muita resposta à adubação e se há produtividade estável.
Uma das ferramentas que está disponível no lado de dentro da porteira é a redução da adubação. Segundo a Lei dos Incrementos Decrescentes do professor alemão Eilhard Alfred Mitscherlich, por exemplo, “à medida que um solo pobre recebe adições crescentes de um dado nutriente, os ganhos de rendimento são inicialmente mais elevados, mas diminuem sucessivamente com o aumento das doses aplicadas até atingir a estabilidade, quando a adição de mais fertilizante pode reduzir a produtividade ou causar toxidez”. Estudos da Fundação MT também demonstram que esse ajuste nem sempre desfavorece o solo e os resultados da lavoura, mas para isso há critérios a serem observados.
Tudo tem que ser realizado da forma correta. O primeiro passo, segundo Bertol, é ter uma assistência técnica de qualidade e basear todas as decisões no histórico de produtividade das culturas envolvidas no sistema produtivo da área, monitoramento dos teores dos nutrientes através de análise de solo de qualidade, aspectos físicos do solo (textura, densidade, infiltração de água) e boa distribuição de fertilizantes.
Poupança de outras safras
Uma orientação genérica para a decisão de reduzir a adubação, de acordo com o pesquisador, é a lógica da poupança. “Se na safra passada o produtor fez o manejo da adubação com a perspectiva de produzir mais, mas em razão das condições climáticas ele produziu menos, então nesta safra é possível aproveitar o que não foi exportado ano passado. Mas, tem que avaliar qual a dinâmica do nutriente a ser poupado, o papel dele na planta e as características do solo, e estando com sobras, a redução pode ser feita com tranquilidade, como é o caso de nutrientes como fósforo e potássio em solos de fertilidade construída”, explica o pesquisador.
O engenheiro agrônomo e diretor na Tec Fertil Agroconsultoria, José Francisco da Cunha, que também participou do painel de Solos, reforça que o produtor precisa adaptar para sua realidade todas as opções disponíveis hoje no sentido de amenizar o cenário vivido.
Gestão é importante também
Para o analista da Agrinvest, Souza, a maior lição que o produtor pode tirar do último ano com a instabilidade dos insumos no mercado, é a de ter um cuidado maior com a gestão da propriedade. “Não se pode só olhar o preço nominal, recentemente houve uma oportunidade quando a relação de troca melhorou e aumentou o preço da soja. Muitos não acompanharam isso. Só focaram no preço nominal da matéria-prima, por exemplo”, detalha.
Cunha também compartilha da mesma opinião, destacando que apesar de que nesse momento da safra o preço parece não ser uma preocupação grande, deve-se ter atenção com relação aos suprimentos.
“O produtor ainda está tendo uma remuneração alta, então entendemos que ele não deve procurar encontrar a melhor relação de troca agora, porque também está obtendo uma boa lucratividade, que foi alavancada pelos preços agrícolas. Então sugerimos que deixe isso um pouco de lado e foque no abastecimento, ainda mais que o tempo vai ficando curto”, ressalta o consultor.
Com o passar dos meses, pior vai ficando a situação e os riscos aumentam. “Temos que nos preparar bem para alocar o que tivermos disponível, da melhor forma possível. Se todo mundo fizer isso, no coletivo, conseguimos bons resultados para todos. Agora se só raciocinarmos individualmente – eu vou correr para garantir o meu – aí o cenário vai continuar complicado ou vai se complicar ainda mais”, completa o diretor da Tec Fertil.
Para o especialista da Agrinvest, temos no Brasil uma tecnologia gigante no setor, sendo uma referência global em produtividade e agricultura de precisão, mas que o país ainda peca na comercialização.
“Todo esse trabalho acaba indo por água abaixo, é preciso ir com duas mãos, da porteira para dentro e para fora. É interessante o produtor saber o que realmente está acontecendo, aliar esses dois lados. Nesse caso, o problema é externo, mas se ele manejar bem na fazenda, com o auxílio de instituições como a Fundação MT, ele consegue ter bons rendimentos e passar por essa crise”, conclui o profissional.
Fundação MT: Criada em 1993, a instituição tem um importante papel no desenvolvimento da agricultura, servindo de suporte ao meio agrícola na missão de dar vida aos resultados através do desenvolvimento de tecnologias aplicadas à agricultura. A sede está situada em Rondonópolis-MT, contando com três laboratórios e casas de vegetação, um centro de pesquisa local e outros seis Centros de Pesquisa Avançada (CAD) distribuídos pelo Estado, nos municípios de Sapezal, Sorriso, Nova Mutum, Itiquira, Primavera do Leste e Serra da Petrovina.