Campo Grande Empresas (MS) – Mudar a característica do transporte de mercadorias e produtos em Mato Grosso do Sul deve demandar R$ 49,42 bilhões em investimentos até 2035. É o que diz o relatório logístico elaborado pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL) em colaboração com o governo do Estado.
A entrega do relatório final a diversos setores da cadeia transportadora e produtora de MS ocorreu na semana passada, no auditório do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul).
Segundo a EPL, o estudo cria uma base de dados e é um legado para os próximos anos de gestão, esse valor seria principalmente gasto na ampliação da malha ferroviária e na otimização da malha rodoviária, além de duplicação de alguns trechos. Também estão previstos investimentos em hidrovias e aeroportos.
Segundo o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, a produção de milho, soja, carne e celulose em MS tem crescido ano a ano e, consequentemente, o tráfego de veículos tem acompanhado e o efeito disso se nota na elevação de custos da produção.
“Os caminhões estão percorrendo longas distâncias. Quer dizer, quando a gente fala em gargalo, em logística, o produto sai de alguma forma, mesmo com custo elevado. Então o estudo foi feito com toda a base de produtos do Estado e todo o produto que transita em Mato Grosso do Sul”.
Conforme Cícero Filho, economista da EPL, o relatório demorou 13 meses para ser concluído, e no período que os técnicos percorreram MS o principal desafio foi acessar dados.
“O Estado tem uma vocação para o agro muito forte, e o problema maior encontrado foi o acesso a dados, no entanto, a receptividade e a disposição dos municípios foram fundamentais”, comenta.
DIVERSIFICAÇÃO
Segundo Lilian Campos Soares, coordenadora do Observatório Nacional de Transporte e Logística, o problema maior encontrado é a concentração do fluxo de produtos.
“O escoamento da produção pelas estradas representa quase 80%, e isso encarece os produtos e tira competitividade”.
Jaime Verruck declara que os 1.500 km de ferrovia tidos como objetivo é uma proposta para médio e longo prazo. “Assim conseguimos mudar o perfil, sair de 80% do volume transportado em rodovia para 50% e os outros 50% em ferrovias”.
Cícero Filho conta que com a diversificação da malha do Estado a pressão sobre os preços deve cair. “A gente tem uma estimativa de redução de 26% do custo de transporte, já considerando o valor do tempo da carga e o valor do frete”, pontua.
Para o economista, essas novas rotas de escoamento dariam às commodities produzidas em MS diferentes canais de transporte.
“O fluxo de minério de ferro de Corumbá provavelmente focaria na ferrovia. A carga agrícola teria o perfil de descer pela Ferroeste para os portos do sul, principalmente soja e milho. A celulose teria um potencial de usar a BR-262, por exemplo, além do Corredor Bioceânico, com cargas gerais e outros tipos de produtos”, finaliza.
De acordo com o relatório, o modal com menor capacidade de expansão são as hidrovias, por causa do fluxo. Segundo Jaime Verruck, de Porto Esperança até o terminal e Porto Murtinho o espaço é dividido com a Bolívia. Já de Porto Murtinho até Corumbá existem três pontos críticos que necessitam de dragagem para a melhora do fluxo e para permitir que as embarcações façam manobras.
“Mesmo em funcionamento normal, as barcaças têm de ser desconectadas para que se façam curvas. Então, você imagina um setor de barcaça e o tempo que ele leva para desconectar, passa a barcaça e aí retorna”.
Ele segue dizendo que já há um estudo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e um pedido de licenciamento ao Ibama para essa autorização de dragagem.
Segundo Verruck, o governador Reinaldo Azambuja já se disponibilizou a alocar R$ 15 milhões em recursos para executar a obra. “Isso melhoraria o fluxo, inclusive quando se tem a redução do calado do rio. Esses são os pontos críticos que travam”.
INVESTIMENTO
O relatório final da EPL traz expectativa de geração de 127 mil empregos no período de 12 anos com a diversificação da infraestrutura em Mato Grosso do Sul.
Esse volume de trabalhadores seria fundamental para realização de 5.800 km de obras em rodovias, no valor estimado de R$ 18,10 bilhões; mais de 1.500 km em obras em ferrovias, com R$ 30,47 bilhões em investimentos; mais de 1.100 km em obras em hidrovias, com R$ 765 milhões estimados; e obras de adequação e ampliação em seis aeroportos, com investimento de R$ 82 milhões.
Conforme a peça, atualmente, MS dispõe de aproximadamente 100 km duplicados de rodovia e precisaria de 2.275 km em obras de duplicação, o que totalizará mais de 2.375 km em rodovias duplicadas. Neste montante consta a duplicação urgente da BR-163, que corta MS da divisa com o Paraná até a divisa com Mato Grosso. Esse projeto está estimado em R$ 3 bilhões e integra as regiões Norte e Sul do País.
Na porção leste do Estado, duas rotas carecem de duplicação, a mais urgente seria a duplicação da BR-262 ligando Campo Grande a Três Lagoas, passando por Água Clara e Ribas do Rio Pardo. Principalmente para atender os megainvestimentos em celulose, da Arauco e da Suzano, e o grande volume de mercadorias escoado pela rodovia.
A segunda ligará Nova Alvorada do Sul à divisa com o estado de São Paulo. O custo de duplicação ficaria em R$ 2 bilhões no primeiro caso e R$ 918 milhões no segundo.
Além dessa duplicação, seria ampliada a malha rodoviária pavimentada. Com 14.793,66 de quilômetros totais, Mato Grosso do Sul possui apenas 30,95%, ou 4.579,36 km pavimentados.
Também será necessária a ampliação da malha ferroviária dos 890 km atuais para 1.500 km projetados, uma expansão de 70% no total. Entre os principais projetos, a remodelagem da Malha Oeste, que sai de Corumbá e vai até o Rio de Janeiro, passando por São Paulo, custaria R$14,8 bilhões.
A construção da Ferroeste de Dourados a Cascavel, no Paraná, está estimada em R$ 10 bilhões, e entre Dourados e Maracaju, R$ 2,850 bilhões.
O investimento mais caro feito em trecho dentro do Estado deve ser a construção da ferrovia Pantanal, estimada em R$ 13,8 bilhões, que ligaria Maracaju a Porto Murtinho, garantindo intermodalidade ao novo Corredor Bioceânico.
Os investimentos em terminais de grãos em Maracaju, Dourados, porto para o recebimento de mercadorias em Bataguassu, terminais ferroviários e dragagem da hidrovia do Rio Paraguai, de Cáceres a Porto Murtinho e depois do Rio Apa até Santa Fé, fora de MS, além da construção de pontes e pontos de integração entre os diferentes modais, resumem as sugestões e planos do relatório logístico.
Ao todo, foram sugeridos 123 empreendimentos, sendo 6 aeroportuários, 6 ferroviários, 8 hidroviários e 103 rodoviários.