Cerca de 80% das empresas brasileiras não cumprem a cota da Lei de Aprendizagem, popularmente conhecida como Lei do Aprendiz, que visa promover a qualificação profissional e o acesso de jovens ao mercado de trabalho. A informação foi revelada no estudo “Jovens Periféricos no mercado de trabalho brasileiro”, elaborado pela consultoria Santo Caos e pelo IOS – Instituto da Oportunidade Social. A pesquisa, que tem como objetivo entender como os jovens periféricos entendem e enxergam o mercado de trabalho, teve acesso aos dados do Ministério do Trabalho e Emprego via Lei de Acesso à Informação, constatando que ¼ das empresas fiscalizadas ao longo de 2024 (37.098 ao todo) não possuem nenhum aprendiz.
O estudo constatou que 1% das empresas fiscalizadas são responsáveis por 47% das cotas não preenchidas, escancarando uma real barreira da inclusão do jovem periférico no mercado de trabalho. O cumprimento da cota nas empresas fiscalizadas elevaria em 10% o número de aprendizes em atividade.
“Enxergamos a Lei da Aprendizagem como uma ferramenta para gerar valor, tanto para a empresa que tem um menor custo de contratação, quanto para o jovem que obtém uma oportunidade para ascender profissionalmente. Porém, quando temos acesso a esses dados, o sentimento da falta de oportunidade dos jovens com os quais nos relacionamentos e atendemos torna-se palpável. É preciso ter uma conscientização das empresas de que o custo da multa não pode sobrepor a contratação desses jovens que têm tanto para agregar”, destaca Alecsandra Neri, gestora de Operações do IOS.
Além da perda de potenciais colaboradores, não cumprir com a lei pode trazer impactos financeiros significativos nas empresas. De acordo com o estudo, apenas em 2024, o valor potencial de multas impostas para as mais de 63 mil cotas não cumpridas, seria entre cerca de R$ 26 milhões (valores de multa mínimos) até mais de R$ 133 milhões (em casos de multas nos valores máximos previstos na lei), um custo que não deve ser desprezado, principalmente para o caso de empresas de grande porte.
Geração Z x Geração Z periférica do Brasil
Este levantamento tem como intuito trazer uma nova visão sobre como a Geração Z da periferia do Brasil, que se difere da Geração Z que teve acesso a instituições de ensino particulares e oportunidades como trainee ou estágios de forma “automática”, entende e enxerga o mercado de trabalho. Isso porque, a amostra do estudo tem como base 2.154 jovens de diferentes classes sociais, com a faixa etária de 15 a 29 anos.
A partir das rodas de conversas e pesquisas quantitativas, o estudo apurou, por exemplo, que 42% têm como principal motivação para procurar trabalho ajudar financeiramente em casa. Já 30% têm o desejo de adquirir experiência profissional e desenvolver habilidades, enquanto 24% desejam ter o seu próprio dinheiro.
Outro ponto alto do estudo é a percepção de equidade das oportunidades. Apenas 35% dos jovens de classe CDE acreditam que apenas com esforço e dedicação é possível ter as mesmas oportunidades, independente da origem. Isso significa que cerca de 2/3 dos entrevistados não creem na meritocracia como principal ou única forma de ascensão profissional.
“Durante a nossa apuração, percebemos que grande parte dos entrevistados ressaltam não só a falta de acesso à educação de qualidade, mas a falta de apoio para que possam sequer escolher sua carreira, já que o apoio a família é o principal gatilho de busca a um trabalho. Ouvimos discursos pessimistas e pesados, apontando como a cultura corporativa da maior parte das empresas não promove a real inclusão do jovem periférico brasileiro, e escancarando a diferença entre o que se diz sobre geração Z e a realidade dessa população no cenário brasileiro”, afirma o sócio fundador da Santo Caos, Jean Soldatelli.
Esses jovens também demostraram uma maior procura por vagas administrativas (63%) do que por vagas operacionais (17%), o que demonstra o desejo do jovem periférico por cargos mais técnicos. Depois, aparecem os empreendedores (11%) e, por último, a busca por empregos informais ou de forma autônoma (9%). No entanto, é preciso destacar que entre os jovens que tiveram a experiência de trabalhar formalmente, ¾ começaram antes da maioridade.
Perfil do público no detalhe
O estudo ‘Jovens Periféricos no mercado de trabalho brasileiro’ tem como base 2.154 jovens de todo o Brasil participantes no estudo, sendo 1.929 jovens da classe CDE (que a renda familiar é composta por menos de 2 até 10 salários-mínimos) e de 225 jovens da classe AB (de 10 a mais de 20 salários-mínimos). Nota-se que o estudo utilizou como base a classificação do IBGE e presente no Estatuto da Juventude, que define jovens aqueles com idade entre 15 e 29 anos.
O público foi dividido em três grandes grupos: “Não entraram no mercado de trabalho”, pesquisa quantitativa online com 518 jovens de classe CDE de 15 estados brasileiros, realizada entre jan-fev/25 e mais quatro rodas de conversa com 47 jovens de classe CDE em SP, BH e Recife, realizadas em mar/25; “Entraram no mercado de trabalho”, pesquisa quantitativa online com 1.636 jovens de todas as classes e de todos estados, ao longo de 2023 e 2024 e mais quatro rodas de conversa com 47 jovens de classe CDE em SP, BH e Recife, realizadas em mar/25; e “O mercado de trabalho e os jovens”, análise de 37.098 empresas fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego ao longo de 2024, em todos os estados do Brasil, disponibilizados via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Sobre a Santo Caos
A Santo Caos é uma consultoria de cultura organizacional que, desde 2013, fortalece o ambiente de trabalho em mais de 180 grandes empresas de todo o Brasil e América Latina, como McDonald’s, Raízen, Editora Globo e Sabesp. Além de sua atuação consultiva que busca aumentar o pertencimento dos colaboradores nas empresas em que atua, também publicou mais de 20 estudos pioneiros no mercado de trabalho brasileiro, como Demitindo Preconceitos (2015 e 2021), sobre a inclusão de pessoas LGBTI+, Migué (2018), sobre as faltas e atrasos na rotina do trabalhador brasileiro e Terceirização (2020), sobre o impacto desse formato de trabalho no engajamento e inclusão. É Empresa B certificada e associada ao Instituto Ethos, além de ter recebido premiações como o Prêmio Aberje e o Selo de Diversidade do Estado de São Paulo.
Sobre o Instituto da Oportunidade Social
O Instituto da Oportunidade Social (IOS) dá continuidade à sua missão de 27 anos de oferecer treinamento profissional gratuito e serviços de recolocação profissional para jovens minorizados e pessoas com deficiência. Com foco em tecnologia e habilidades administrativas, além do desenvolvimento socioemocional crucial, a instituição equipa os participantes com as ferramentas necessárias para o sucesso no competitivo mercado de trabalho atual, formado mais de 47 mil profissionais nessa jornada. O IOS é líder reconhecido em impacto social, classificado entre as melhores ONGs do mundo pela TheDotGood e certificado como “Entidade Beneficente de Assistência Social” pelo CEBAS. O sucesso da organização é possível graças a parcerias com empresas líderes como TOTVS – sua fundadora e principal mantenedora –, Dell, Zendesk, e outras que compartilham o compromisso de capacitar a próxima geração de talentos.
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