Campo Grande Empresas (MS) – Com o agravamento da pandemia e a alta do desemprego, trabalhadores buscam alternativas para driblar a crise, e uma delas tem sido o empreendedorismo.
Mato Grosso do Sul registrou aumento de 10,9% no número de empresas abertas em 2020, sendo mais da metade de microempreendedores individuais (MEIs), segundo os dados divulgados pela Serasa Experian.
De acordo com os dados do Portal do Empreendedor, em março deste ano o Estado contabilizava 166.550 microempreendedores, enquanto no mesmo período do ano passado eram 140.421 empresários.
Entre os indicadores que explicam o crescimento das formalizações estão as mudanças nas relações de trabalho, o aumento do desemprego e as vantagens que a formalização garante, como aposentadoria por tempo de contribuição, salário-maternidade e auxílio-doença.
Em 2020, foram registrados 35.605 novos microempresários, o maior número registrado na última década. Em 2019 foram 32.804 novos empreendedores e no ano anterior 26.573.
O crescimento no número de empreendedores no Estado é reflexo da necessidade de novas formas de garantir a renda e um reflexo do cenário de demissões causado pela pandemia da Covid-19, explica a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias.
“Em tempos de crise as oportunidades surgem e é necessário ter criatividade para poder gerar, substituir ou complementar renda, e é nesse sentido que muitos MEIs têm surgido. Houve o aumento do desemprego e com isso a necessidade de encontrar oportunidades. A pandemia influenciou diretamente na necessidade de empreender e ter novas opções de renda”, contextualiza a economista.
O microempreendedor individual é um regime tributário simplificado criado para facilitar a formalização de pequenos negócios e trabalhadores autônomos, como prestadores de serviços, por exemplo.
Para a analista do Sebrae-MS, Vanessa Schmidt, o regime garante direitos e benefícios para negócios pequenos, que antes não recebiam amparo.
“O MEI surgiu como uma alternativa para que as pessoas que trabalhavam no mercado informal, com nível de faturamento limitado, pudessem formalizar suas empresas de forma simples e se desenvolverem”, explica.
EMPREENDEDORES
Os segmentos que mais se destacaram com a inserção de novos microempreendedores em Mato Grosso do Sul foram: vestuário, cabeleireiros, manicures, promoção de vendas, lanchonetes, bares, restaurantes e serviços domésticos.
A confeiteira Luciana Tavares, 42 anos, viu que a formalização de seu negócio poderia ser uma oportunidade de mudança e de crescimento.
or conta da insatisfação com seu antigo emprego, ela resolveu dar um novo rumo à sua vida e abrir seu próprio negócio. Atualmente, é proprietária da loja Cravo & Canela, que vende bolos e tortas.
“Decidi largar tudo para viver de bolo, isso é o que eu gosto de fazer. Preparar bolos para mim funciona como uma terapia, por isso larguei meu trabalho como auxiliar administrativa e comecei o meu negócio. Eu comecei dentro da minha casa, conquistei meus clientes e um tempo depois abri a minha própria loja. Sou muito feliz e realizada com o que eu faço”, pontua Luciana.
Há nove meses, Paula Andrade, 26 anos, decidiu começar a vender trufas e salgados para complementar a sua renda após ser dispensada de seu trabalho no início da pandemia.
Com a alta procura pelos seus serviços, ela inaugurou recentemente a sua própria casa de doces, Quitutes da Paula.
“Tudo começou no susto, no início da pandemia perdi meu emprego, mas sempre gostei de cozinhar e fazer doces, e pela necessidade da minha família comecei a vender para os vizinhos, familiares e amigos, o que deu mais certo do que eu poderia imaginar. Hoje tenho meu próprio negócio, coisa que nunca imaginei, o meu espaço ainda é pequeno, mas espero continuar crescendo”, relata.
Com o objetivo de se desenvolver e expandir seus negócios, Paula percebeu que teria mais condições de investir no ramo sendo formalizada.
“Quando percebi que as pessoas estavam gostando dos meus bolos, decidi ir atrás de suporte, pensei que essa poderia ser uma oportunidade. Por isso, fiz o MEI no início deste ano e espero que seja de ainda mais trabalho, não tenho do que reclamar em um momento em que tantas pessoas estão sem emprego”, destaca a confeiteira.
FORMALIZAÇÃO
Uma das vantagens ao se tornar MEI é que o trabalhador autônomo passa a ter um registro formal no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
Dessa forma, o empresário se legaliza e passa a ter alguns direitos. Porém, para ser um MEI é preciso cumprir requisitos, sendo eles: possuir faturamento anual de até R$ 81 mil, ter no máximo um empregado e não ser sócio ou titular de outra empresa.
A economista Daniela Dias aponta que uma das principais falhas na formalização de uma empresa é encarar o empreendimento apenas como uma fonte de renda, e não como um negócio que pode expandir.
“Percebemos que muitas empresas não têm planejamento de longo prazo ou gestão de risco, o que é fundamental. A abertura do MEI funciona para formalização e para garantia de alguns benefícios, mas para crescer, ter outras filiais e expandir é importante ter um planejamento adequado, até mesmo para momentos de crise”, explica.
Com o CNPJ, o MEI pode emitir notas fiscais e ter acesso a direitos e a benefícios previdenciários.
Além disso, o limite de faturamento anual estabelecido pela lei é de R$ 81 mil (R$ 6.750 por mês). Apenas servidores, pensionistas, estrangeiros sem visto permanente e titulares de outras empresas não estão autorizados a se cadastrar no programa.