Em um movimento inédito, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estabeleceu, pela primeira vez, diretrizes específicas para a avaliação da conformidade de data centers que integram as redes de telecomunicações no Brasil. A regulamentação reconhece a importância estratégica dessas infraestruturas diante da consolidação do 5G, do avanço da computação em nuvem e da inteligência artificial, e promete impactar profundamente as operações de empresas que dependem da robustez e segurança desses centros de dados.
A nova norma chega em um momento decisivo, no qual a interseção entre tecnologia da informação e telecomunicações se torna cada vez mais evidente. Com a crescente digitalização dos serviços, a exigência por estruturas resilientes, seguras e sustentáveis se intensifica — e agora passa a ser uma demanda legal.
De acordo com a Anatel, todos os data centers vinculados à infraestrutura das operadoras de telecomunicações precisarão comprovar conformidade em quatro pilares centrais:
- Resiliência operacional: Capacidade de manter serviços funcionando mesmo diante de falhas ou situações críticas, com redundância de energia, conectividade e sistemas essenciais.
- Segurança física e cibernética: Controle rigoroso de acesso, monitoramento 24 horas e aplicação de protocolos de proteção contra ataques físicos e digitais.
- Eficiência energética: Uso racional de energia, com destaque para resfriamento inteligente, fontes renováveis e metas de PUE (Power Usage Effectiveness).
- Sustentabilidade ambiental: Gestão de resíduos eletrônicos, uso responsável de recursos naturais e busca por certificações ambientais reconhecidas.
“Essa regulamentação vem para organizar um setor que se tornou essencial à vida digital moderna. Com redes 5G e tecnologias como IoT e inteligência artificial, o papel dos data centers se tornou crítico – e precisa seguir padrões mais elevados de operação”, afirma Paulo Amorim, CEO da K2A Technology Solutions, empresa de tecnologia especializada em transformação digital na área Governança, Gestão de Contratos, Custos e Ativos de TI & Telecom.
Impacto direto para empresas e fornecedores
O novo marco regulatório não se limita às grandes operadoras de telecomunicações. Empresas que mantêm centros de dados próprios, ou que terceirizam esse serviço por meio de colocation e cloud computing, também serão afetadas. Isso porque a responsabilidade pela conformidade passa a ser compartilhada entre contratantes e contratados.
“Mesmo empresas que não atuam diretamente com telecomunicações precisarão reavaliar seus contratos e suas operações de TI. Quem terceiriza um data center também será corresponsável por garantir que a estrutura esteja de acordo com as novas exigências”, alerta Amorim.
Segundo o executivo, o momento exige uma ação coordenada entre os setores de tecnologia, jurídico e compliance das organizações. “É o tipo de mudança que não pode ser tratada como uma atualização técnica. Trata-se de um novo patamar regulatório que exige planejamento estratégico e investimentos.”
Transformação do parque tecnológico nacional
Atualmente, o Brasil conta com mais de 100 data centers comerciais em operação, e os investimentos no setor ultrapassam a casa dos bilhões de reais. Com a nova regulamentação, especialistas acreditam que o país poderá acelerar a modernização dessas infraestruturas, especialmente nas instalações mais antigas, que precisarão passar por upgrades relevantes para atender aos padrões da Anatel.
Além disso, a norma considera os desafios impostos pela nova lógica de distribuição de dados com o edge computing, voltado à redução de latência e fundamental para a plena implementação do 5G. Pequenos data centers distribuídos geograficamente — usados em aplicações como veículos autônomos e controle de máquinas industriais — também terão de seguir as diretrizes da agência.
Próximos passos e cronograma
A Anatel tem até 240 dias para publicar os procedimentos operacionais que detalham os critérios de avaliação, os processos de certificação e as metodologias de monitoramento contínuo. Já os data centers atualmente em operação terão o prazo de três anos para se adequarem às novas exigências — uma janela considerada viável pelo setor, mas que exigirá planejamento intensivo. Enquanto isso, empresas podem se antecipar e começar desde já a diagnosticar suas operações.
“Essa é uma oportunidade de ouro para empresas revisarem suas estruturas, mitigarem riscos e ganharem competitividade. Quem estiver em conformidade desde o início certamente terá vantagens comerciais e reputacionais num mercado cada vez mais exigente”, conclui Paulo Amorim.
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