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Arquitetura como meio de transformação

(Freepik)

Por Luana Lousa

Vivemos tempos extraordinários, de inevitável evolução…

A leveza do intangível nos observa enquanto nosso mundo se afunda em hecatombes … seria Deus um criador às avessas? Ou seríamos nós, criaturas ao contrário? O que fizemos com o que nos foi presenteado, delegado? 

Nos foi entregue um volume indescritível de possibilidades e nossa gestão incorreu entre as piores escolhas. Daquelas águas transparentes, fizemos lama e esgoto. Daquele céu azul, fizemos densa névoa, daquele ar puro, carbono irrespirável! O solo mais fértil , bebeu das chuvas mais ácidas e quase morreu! As “Amazônias” de cada parte do planeta tomaram forma de moveis e alimentaram lareiras e indústrias, restando, quase que só, a Amazônia Brasileira. 

Já é velho … mas ainda continuamos na caquética retórica do aquecimento global, da pegada de carbono, de poluição de rios e mares, de salvar animais, de proteger a nossa Amazônia, dos absurdos do trafico de órgãos e até de mulheres e crianças! Falamos de proteger as minorias, ajudar os mais carentes e, até, a cinematográfica, fome na África continua absurdamente, em pauta… 

Pra tudo isso, láaaa atrás , num passado remoto, criamos a ONU, a OMS … e tantos outros órgãos, tratados e alianças internacionais que pudessem nos resguardar de tantas injustiças. Mas porque continuamos com os mesmos, ou piores, problemas que antes? O que fizeram as organizações criadas para promover paz e bem entre as nações, raças, pessoas, ciências, tecnologias, garantindo um futuro melhor para a HUMANIDADE?  Por que  problemas tão arcaicos ainda continuam como vórtice promotor das “COPs” da vida? Parece interessante aos “donos” do mundo, manter determinados assuntos em pauta… 

E o que a ARQUITETURA e as CIDADES tem a ver com isso? Posso dizer que TUDO! Elas são o EXATO reflexo de tudo isso! Poderia discorrer paginas sobre as “monoculturas da mente”* e  sua tradução física, a Arquitetura! Mas não precisamos de tanto, basta que você pense na cidade onde mora e observe qual a “personalidade” que carrega nos edifícios que a compõe! Qual a localidade impressa? Assim será fácil identificar o que vem acontecendo ao longo dos últimos quase, 2 séculos.  Fomos induzidos a pensar igual, a fazer igual, a questionar igual! Fomos conduzidos, carinhosamente, à cegueira, à surdez, ao despautério seco de palavras e percepções, por aqueles que, furtivamente, pensávamos estar a nos cuidar.   

Nos distanciamos do básico, do simples e do natural! Se tivéssemos atentos, veríamos o obvio: a diversidade em tudo que a natureza produz! Sentiríamos o “ETHOS”** do universo, seus padrões e suas harmonias! Jamais aceitaríamos o volume de veneno, que convivemos diariamente, em nossas paredes, móveis, roupas, casas, ambientes de trabalho e, principalmente, em nossas comidas!  Não aceitaríamos com tanta normalidade a perda de nossas identidades e nem a inversão de valores em conversão de benefícios, em nossa sociedade, em vantagem de poucos! Nada disso é normal***, nas leis da criação. 

Sim, somos nações diferentes, povos diferentes, culturas diferentes, pessoas diferentes e, claro, ARQUITETURAS DIFERENTES deveriam nos representar… habitar o COMUM, o “igual para todos”,  não é natural, não faz parte de SER HUMANO! A DIVERSIDADE é o que nos une, nos nutre, nos emociona, nos enobrece e nos conecta à grande Teia, ao mistério da VIDA!  

Tivemos que viver toda essa “evolução retrograda” para perceber que a vida se manifesta na matemática, pura e simples, da VERDADE e da Luz, nosso corpo acompanha o Sol, simples assim!!! Arquiteturas e cidades precisam respeitar, simplesmente, isso. Somos Natureza! 

Que venham as novas arquiteturas e formatem as novas cidades, como reflexo fiel de cada sociedade que está renascendo, ao longo dos 12 mil quilômetros do perímetro do nosso planeta! 

 Mas vivemos tempos extraordinarios e EVOLUIR não é mais uma opção, é inevitável! 

Luana Lousa

Bioarquiteta – ArquiteturaViva

* Monoculturas da mente, conceito que deu origem ao livro de mesmo nome, escrito por Vandana Shiva. Física, filósofa,  indiana, Vandana Shiva é reconhecida internacionalmente como figura de destaque no movimento antiglobalização.

** Ethos é uma palavra com origem grega, que significa “caráter moral”. É usada para descrever o conjunto de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou nação.

*** Do latim Norma, régua de carpinteiro. Daí significar “de acordo com as medidas”, “de acordo com as regras”.

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