Por Alberto Pereira Nunes Neto
Ao contrário dos governos, o setor privado brasileiro, formado por trabalhadores e empresários, sempre deu certo e segura as pontas do País quando precisa. Gerando milhões de empregos, bilhões de renda direta e estimulando o consumo, capaz de movimentar a economia e sustentar o setor público – em todas esferas e instâncias. Precisamos destacar o papel do setor privado brasileiro: sustentar o poder público de fato, pois, sem o valor “abocanhado” da renda e do trabalho dos brasileiros, governos, tribunais e parlamentos não teriam dinheiro para um simples almoço, o que dirá para luxos e privilégios que mantêm.
No entanto, os papéis se invertem. Trabalhadores e empresários são colocados em papéis secundários quando se decide os rumos do País e o protagonismo muda de lado. O caso da taxa de juros é um exemplo entre tantos. Com uma Selic de 13,75% ao ano, o Brasil ostenta uma das maiores taxas de das economias mundiais. Esse índice, que já vigora no Brasil desde setembro de 2022, é mantido com a justificativa de limitar o acesso ao crédito e evitar aceleração no consumo para, assim, tentar controlar a inflação, que já estava em alta e, apesar do esforço, não diminuiu quase nada.
Com o índice oficial de juros nesse patamar tão alto, a economia sofre e afeta todos. Quem oferece crédito tem redução na procura; o empresário perde muitas oportunidades de negócio por não arcar com os riscos de investimentos ou realizar parte de venda a prazo; e o consumidor limita seu poder de compra e encarece seus endividamentos já contratados.
Ou seja, o remédio amargo dos juros para controlar a inflação demora a fazer efeito e traz grandes males para a economia. E a situação piora quando se passa mais de um ano elevando ou mantendo juros altos e não se consegue controlar os preços. Além da inflação resiliente, temos redução de vendas, investimentos e empregos, além da elevação do endividamento das famílias e empresas.
Mas, de fato, o alto patamar da Selic ainda favorece dois segmentos da economia: os bancos e, em parte, o governo, que vende títulos públicos para rolar a dívida pública. Mesmo com menor procura, o setor financeiro eleva sua remuneração diante de famílias e empresas, que, quando assumem um contrato de empréstimo com juros neste patamar, acabam os remunerando com mais juros.
Desde o início do mês, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) tinha acabado de referendar a manutenção da Selic, o DataFolha fez uma pesquisa em 126 cidades do Brasil com 2.028 pessoas com 16 anos ou mais, mostrou que 71% dos brasileiros acham que a taxa de juros está mais alta do que devia.
A elevada taxa de juros só beneficia o capital especulativo e não contribui para o crescimento nem para a estabilidade da economia. Para o Brasil retomar um ritmo de crescimento decente, algo que não ocorre há anos, precisamos que os planejadores econômicos confiem na capacidade das empresas, que sacrifiquem menos o setor privado e combatam a inflação com mecanismos de controle monetário que não apenas elevar a Selic.
Pagar a conta, para o setor privado, não é novidade. Mas espero que pelo menos deixem a economia crescer e deem paz para o consumidor voltar a comprar.
Alberto Pereira Nunes Neto
Empresário, vice-presidente da Acieg e Presidente do Grupo Planalto Indústria (@planaltoindustria)