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Burnout: o ônus da produtividade tóxica

(Foto: Pexels)

Por Marilene de A. Martins Queiroz

Por muito tempo a pressão por resultados e o estresse no ambiente de trabalho  foi associado ao sucesso profissional. Isso reflete uma perspectiva enviesada da competência em torno da produtividade que sustentam as práticas de trabalho exaustivas e motivadas pelas premiações e aspirações de cargos e salários cada vez mais altos. Para alcançar os resultados esperados a rotina do colaborador fica exposto a demandas fora do horário de expediente, prazos curtos, jornada de trabalho exaustiva, chefes rígidos, excesso de responsabilidade, férias curtas. Com a pandemia as equipes foram reduzidas, sugiram mais pressão e o medo do desemprego.

Nesta perspectiva o sucesso na carreira e a prosperidade nos negócios segue na  contramão da saúde e bem-estar de empresários e colaboradores. Os critérios geralmente utilizados para descrever o tão sonhado sucesso é composto de “ingredientes” e práticas exaustivas responsáveis pelo esgotamento físico e mental classificado na síndrome de burnout.

Além disso, o  modelo de trabalho focada exclusivamente na pressão por números, tende a criar um clima de hostilidade quando os resultados esperados não são alcançados. Uma experiência angustiante para os que não chegam ao topo da pirâmide do “sucesso,” mesmo vivendo os extremos da produtividade e exaustão nas relações de trabalho.

Não bastasse isso, as práticas de liderança pautado na positividade tóxica difundida nas escolas de coach atribuem ao trabalhador a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso profissional. Neste modelo o sucesso está associado a crença de que você deve “trabalhar  enquanto os outros dormem” independente da qualidade do trabalho. Atitudes assim, reforçam a cultura da sociedade do cansaço em detrimento da saúde e qualidade de vida do trabalhador. O esgotamento resultante disso dá lugar a síndrome de burnout.

De acordo com um estudo desenvolvido pela Isma Brasil, 70% das pessoas relatam sintomas e complicações na saúde relacionados ao estresse, destes 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem de burnout.  Os custos da má gestão do estresse no Brasil correspondem a mais de 80 bilhões de dólares aos cofres das empresas. Num ranking de oito países, os brasileiros ficam a frente dos chineses e americanos, só estamos atrás do Japão com 70% da população acometida pelo burnout. Além disso somos o país mais ansioso do mundo e o segundo mais deprimido.

De acordo com a Secretaria Especial de Previdência do Trabalho as solicitações de auxílio-doença relacionado a burnout no período de 2014 a 2018 aumentaram em mais de 114,80%. Segundo dados do Ministério do Trabalho no primeiro semestre de 2021 foram concedidos 108.263 benefícios temporários aos trabalhadores relacionados aos transtornos mentais e comportamentais.

Segundo o Fórum Econômico Mundial (2019) estima-se que até 2030 serão gastos aproximadamente 6 trilhões de dólares com a má administração do estresse dentro das empresas. Mesmo diante de dados tão expressivos, o tema saúde mental não é uma prioridade nas organizações. Neste sentido a Organização Mundial de Saúde (OMS) colocou o assunto na pauta das discussões e estabeleceu metas para que as empresas desenvolvam ações efetivas para minimizar o problema. Isso fica evidente ao incluiu o Burnout na nova Classificação das Doenças Internacionais (CID) como uma doença ocupacional relacionada a má gestão do estresse no ambiente de  trabalho. A classificação deve entrar em vigor a partir de 1° de janeiro de  2022. 

Com a essa classificação a má gestão do estresse na empresa pode dar direito ao colaborador a  indenização moral e material pelo aparecimento ou agravamento da síndrome de burnout.

Assim, o olhar do empregador deve ir além dos possíveis custos com solicitações de indenização e os prejuízos proveniente do afastamento do trabalhador. Espera-se que os empresários incluam o assunto na pauta das estratégias organizacionais, assim como fizeram com a diversidade, inclusão e sustentabilidade. É possível converter os prejuízos em investimentos se as lideranças trabalharem a prevenção, desenvolvendo boas práticas de gestão de estresse com ênfase na prevenção do burnout. Isso exige dos líderes e gestores competência de gestão em saúde mental e expertise para mediar os processos para promover a saúde e bem-estar dos colaboradores.

Neste sentido não basta contratar serviços avulsos desalinhados da realidade da empresa e dos processos de trabalhos. O fluxo da comunicação, assim como o clima organizacional, a relação  entre líder e liderado, o relacionamento com clientes, parceiros e fornecedores merecem atenção no que se referem a segurança psicológica dos empresários e colaboradores. Só assim é possível mitigar os problemas reduzindo os custos e possíveis transtornos no que se referem a má gestão do estresse na empresa e os impactos disso marca empregadora.

Marilene De A. Martins Queiroz

Psicóloga, Mestre em Psicologia e Diretora do Instituto Habiens.

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