Ícone do site STG News

Competência em saúde emocional como estratégia de liderança

(Foto: Freepik)

Por Marilene de A. Martins Queiroz

Quando o assunto é liderança de alto nível os critérios são claros no que concerne às competências técnicas e comportamentais requeridas para construir uma carreira de sucesso com prosperidade nos negócios.

Porém, ao longo dos anos, o termo liderança foi ganhando novos conceitos e significados,  tais como: liderança autocrática, democrática e liberal que vai desde o estilo  coache a liderança 4.0 que se preocupa com as relações humanas em um mundo VUCA (volátil – volatility; incerto – uncertainly; complexo – complexity; ambíguo – ambuguity) e em constante transformação. Isso impacta diretamente nos modelos de gestão e, na maioria das vezes, a certeza de ontem na escolha de um estilo parece ser antiga demais no cenário atual.

Para liderar nesse contexto é preciso reconhecer as diversidades inerentes aos processos e estar preparado para as transformações requeridas desde as estratégias competitivas a forma de se relacionar com o cliente. Assim parece distante afirmar que por anos liderar num cenário otimista com negócios consolidados dentro de uma cultura forte era relativamente confortável. O conforto aqui é sinônimo de risco.

Embora muitos negócios se mantenham consolidados, o novo normal exige um  líder capaz de superar desafios diante da crise e de apresentar soluções viáveis, efetivas e sustentáveis economicamente sem colocar em risco a saúde a nível individual e coletiva, o que reflete na empresa como um todo.

Dentre outros aspectos, esse gestor precisa inovar e ao mesmo tempo promover as mudanças necessárias para manter a equipe motivada frente as adversidades e incertezas em relação ao futuro. Assim liderar em alto nível não é uma tarefa fácil e exige mais que títulos e competências técnicas. Quando pensamos nesse profissional, as competências emocionais, socioemocionais, de resiliência e de resolução de problemas são pré-requisitos essenciais para superar os desafios impostos no cenário atual.   

Um estudo desenvolvido pela 3SEG, ao analisar dados nas despesas com planos de saúde de 1180 executivos que trabalham em empresas situadas em São Paulo, observaram um crescimento de 329,43% com psicoterapia  no período entre maio de 2020 e junho de 2021. Outro dado importante é que esses executivos trabalham em segmentos diversos desde a indústria, serviços financeiros, consultorias, escritórios de advocacia e empresas de tecnologia. Ou  seja,  as consequências do estresse na saúde emocional dos líderes não se restringem aos profissionais da saúde, todos independente do segmento de atuação, estão sofrendo os reflexos da crise.

Outro estudo desenvolvido pela  PEBMED, healthtech da Afya Educacional  que produz conteúdo para médicos, aponta que 78% dos profissionais da saúde, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem tiveram sinais de Burnout frente a pandemia. A Síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional é um distúrbio emocional associada à sobrecarga profissional. O esforço excessivo causa esgotamento físico e mental. O adoecimento está associado a depressão e pode levar a ideação suicida e ao autoextermínio. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 45 minutos perdemos uma pessoa para o suicídio. São aproximadamente 1 milhão de casos globalmente e 12 mil óbitos por ano só no Brasil (OMS).

 Além disso o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens na faixa etária de 15 a 29 anos (OMS). Essas pessoas também fazem parte direta ou indiretamente do mundo corporativo. Afinal são o amor de alguém, esse alguém pode ser um colaborador da empresa ou alguém próximo dele. Não devemos esquecer que somados a isso, todos estão vivendo um luto coletivo proveniente da Covid-19.

Nesse contexto, o modelo tradicional de liderar e performar os objetivos organizacionais, pautado no comando e controle desconectado das questões universais  tais como sustentabilidade, inclusão, diversidade e saúde mental é o mesmo que navegar na tempestade contra a maré, possivelmente terão os seus esforços direcionados a sobrevivência.

Meio a isso tudo não basta dizer que a empresa apoia a diversidade, inclusão e que a saúde mental está no radar. É preciso desenvolver ações efetivas, performando a equipe para operar os negócios de forma segura, porém sensível as adversidades socioeconômicas, políticas e sanitárias que impactam diretamente na saúde física e emocional de todos, independentemente do nível hierárquico.  

Assim, liderar nesse cenário é sinônimo de resiliência, competência emocional e bravura. Por ora, adotar posturas tímidas, superficiais, pelas vias dos treinamentos motivacionais não irá diminuir a dor: ela é coletiva, corporativa, latente e visceral. Para mitigar os danos provenientes disso é preciso dar condições para que o time desenvolva o trabalho de forma saudável e segura psicologicamente para manter o equilíbrio da empresa como um todo.  

Marilene de A. Martins Queiroz

Psicóloga, Mestre em Psicologia, Diretora do Instituto Habiens

Sair da versão mobile