Campo Grande Empresas (MS) – O escoamento da produção de minério a partir de Corumbá, com menor impacto, de outras cargas está seriamente comprometido, principalmente em se tratando do transporte fluvial no Estado.
A cheia no Rio Paraguai não ocorreu novamente neste ano e não há sinais de melhora significativa sobre o nível da bacia em decorrência da crise hídrica. Tal como ocorreu em 2020, o transporte por meio fluvial na região do Pantanal deve novamente ser paralisado.
Sem o transporte fluvial, o uso de caminhões passa a ser mais exigido, porém, a BR-262, principalmente no trecho entre Corumbá e Miranda, tem terreno instável e a via não suporta esse tipo de carregamento constantemente.
Desde outubro de 2020, os caminhões estão sendo utilizados pelas mineradoras. O meio rodoviário também apresenta dificuldade para atender à demanda de produção.
Com as chatas, embarcações utilizadas para esse tipo de transporte, é possível levar até 200 mil toneladas de minério de ferro até portos que ficam na Argentina e no Uruguai.
Em compensação, o uso de transporte rodoviário tem capacidade muito menor. São necessários cerca de 170 caminhões para transportar 30 mil toneladas do minério.
A dificuldade em logística impacta diretamente a distribuição da commodity, que está em fase de crescimento em questão de produção. Balanço da Vale para o 2º trimestre de 2021, divulgado no dia 19, mostrou que houve crescimento nos três últimos trimestres.
Balanço da Vale para o 2º trimestre de 2021, divulgado no dia 19, mostrou que houve crescimento nos dois últimos trimestres. Neste último boletim, foram produzidas 684 mil toneladas, contra 500 mil toneladas no 1º trimestre deste ano.
O grupo Vetorial e Vetria divulgou que utiliza atualmente quase 300 caminhões por mês no transporte de minério de ferro por não poder contar com o transporte fluvial em sua maior capacidade.
No dia 15 de julho, a diretoria do grupo reuniu-se com o prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (Podemos), para solicitar apoio em viabilizar melhor estrutura na ferrovia, que ainda passa por processo de relicitação, sem data a curto prazo para ter melhorias.
“Estamos preocupados, porém é algo que não podemos atuar diretamente. As exportações de minério são muito afetadas, sem dúvida”, pontua o secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, Cássio Costa Marques.
Esse cenário de dificuldade de escoamento ainda tem a possibilidade de impactar no valor final do minério de ferro, manganês e no ferro-gusa. Porém, ainda não houve divulgação oficial de empresas e governos sobre o impacto da inviabilização da hidrovia e sua relação com o valor de mercado das commodities.
PREOCUPAÇÃO
O Serviço Geológico do Brasil já emitiu comunicado de que os patamares na bacia do Rio Paraguai estão entre os menores já registrados para esta época do ano. Como a seca vai pelo menos até outubro, o nível tende a baixar mais.
Na medição em Ladário, o último boletim apontou que a cota estava em 1,34 metro em 13 de julho; ontem, o nível era de 1,17 m e a previsão é de que esse nível chegue a -40 centímetros até 16 de outubro.
Conforme o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), instituições internacionais também estão atentas à situação e há início de uma mobilização para avaliar risco de problemas na exportação de commodities.
“Pelo segundo ano consecutivo, o Rio Paraguai, que drena a Bacia do Alto Paraguai e o bioma Pantanal, vem apresentando valores do nível da água significativamente abaixo da média”, divulgou o Serviço Geológico do Brasil em nota.
“Com tendência de declínio de seu nível até o mês de outubro, quando normalmente termina o processo de vazante, o Rio Paraguai preocupa em todas as estações monitoradas pelo Serviço Geológico do Brasil”, informou.
“O comportamento dos rios na bacia vem confirmando o prognóstico divulgado pelo órgão desde o dia 6 de junho deste ano, quando ficou claro que o processo de vazante havia iniciado antecipadamente em 2021”, completou.
Além de Ladário, o sistema realiza monitoramento em Cáceres (MT), Forte Coimbra (MS), Porto Murtinho (MS) e Cuiabá (MT). Em Ladário, a medição traduz para os técnicos como está o grau de estiagem no bioma Pantanal.
Com isso, vai para três anos que o Rio Paraguai não apresenta a tradicional cheia. Nesses períodos mais abundantes, o nível chega a superar 4 metros em Ladário. Em 2018, o pico chegou a 5,35 metros.
ANTECIPAÇÃO
A previsão agora é de que para os próximos 28 dias o nível deve baixar para 88 centímetros, o que pode inviabilizar o uso da hidrovia para transporte de cargas, principalmente o minério de ferro, a partir da região de Corumbá.
Em outubro de 2020, quando houve a paralisação do transporte fluvial, a medição apontou para 0 na régua em Ladário. Isso impacta também os produtores rurais, que precisam se programar para realizar embarques antecipados de gado e produtos.
A Vale, que explora jazidas de minério de ferro a céu aberto na mina de Corumbá e extrai manganês de forma subterrânea na Mina de Urucum, tem trabalhado para tentar antecipar o despacho de produção por via fluvial. Porém, ela prossegue com a utilização do meio rodoviário para escoar as commodities.
“A Vale utiliza logística multimodal [fluvial, rodoviário e ferroviário] para atendimento ao mercado e tem feito o necessário para antecipar os embarques pelo Rio Paraguai. A operação logística é realizada de forma segura, responsável e em constante diálogo com os órgãos públicos e comunidades, seguindo rigorosamente a legislação”, divulgou a empresa em nota, sem dar detalhes do volume da produção.
Após o fechamento dos mercados, a Vale divulgaria seu balanço trimestral.
A Superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Mato Grosso do Sul atua desde o começo de julho na Hidrovia do Rio Paraguai (HN-950) com serviço de dragagem e desobstrução de vegetação para tentar garantir melhores condições de navegação.
A previsão é de que neste ano seja feita a dragagem de 557.500 m³ de areia. O serviço só deve terminar em dezembro de 2022 e estão sendo empenhados R$ 16,1 milhões nesses dois anos de intervenção.