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Freio na China expõe risco de dependência brasileira nas exportações

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Campo Grande Empresas (MS) – O Brasil manteve em 2021 o patamar recorde de dependência comercial em relação à China, o que pode ter consequências negativas se os sinais preocupantes de perda de fôlego e desaceleração da potência asiática se confirmarem.

No ano passado, a China foi destino de quase um terço (31,3%) das exportações nacionais, somando US$ 87,751 bilhões -nível semelhante ao recorde de 32% registrado em 2020, segundo dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais.

Em segundo lugar como principais compradores, vêm os Estados Unidos (11,1%), a Argentina (4,2%), os Países Baixos ou Holanda (3,3%) e o Chile (2,5%).

Do lado das importações, os chineses também dominam, mas de forma mais discreta: de lá, vieram 21,7% dos produtos que o Brasil comprou do exterior. Em seguida, estão os Estados Unidos (18%), a Argentina (5,5%), a Alemanha (5,2%) e a Índia (3,1%).

A China foi o grande impulsionador do superciclo de commodities -os produtos primários, sem beneficiamento- do início dos anos 2000, que se refletiu em prosperidade econômica e melhores indicadores para os brasileiros.

A partir da crise internacional de 2008 e ao longo da década de 2010, os preços das commodities caíram, e o Brasil amargou períodos de crises e recessões, até que um novo ciclo parecia se desenhar nos últimos anos.

O peso dos chineses no comércio exterior brasileiro se intensificou desde 2009, quando eles superaram os norte-americanos como principal destino das exportações brasileiras. O que preocupa os analistas é o reflexo disso na balança comercial, caso os sinais de desaceleração da economia chinesa se intensifiquem.

O economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Rafael Cagnin, ressalta que os chineses acabam sendo o principal destino dos produtos nacionais, pelo alto grau de concentração das exportações em três grandes itens: minério de ferro, petróleo e soja.

No ano passado, os produtos básicos, com baixo valor agregado, vendidos aos chineses continuaram liderando a pauta de exportações, enquanto os manufaturados se concentraram em mercados compradores mais próximos, como a Argentina.

Na última segunda-feira (17), o governo chinês divulgou os resultados de 2021 do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Os asiáticos cresceram 8,1% no ano -maior patamar em uma década, mas boa parte desse resultado se deu no primeiro semestre.

O sinal amarelo veio a partir dos dados do quarto trimestre, quando a China cresceu 4%, acima das expectativas dos analistas, mas aquém do resultado positivo de 4,9% no terceiro trimestre de 2021 e de 6,5% no mesmo período de 2020.

Segundo avaliação de ​Ning Jizhe, diretor do NBS (National Bureau of Statistics da China), “a economia chinesa está sob uma tripla pressão: contração de demanda, choque de oferta e enfraquecimento das expectativas”.

Os chineses não vão ter um 2022 tranquilo. Há sinais de que a fraqueza do mercado imobiliário deve persistir e o país sente os efeitos da disseminação local da variante ômicron do novo coronavírus.

“É uma questão de bom senso, depender de poucos parceiros aumenta a vulnerabilidade. O ideal para diversificar riscos é expandir o número de compradores e de produtos. Só que as relações vêm se concentrando cada vez mais”, diz Cagnin.

Ele também destaca a dificuldade da ampliação das exportações pela indústria manufatureira, que traria um universo mais amplo de compradores e maior dinamismo, caso os produtos brasileiros se tornassem mais competitivos lá fora.

Certamente, seria bom para o Brasil se os seus fluxos comerciais dependessem menos da China, avalia o professor Felippe Serigati, da EESP/FGV (Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas), coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio.

“Todavia é importante ressaltar que essa forte sujeição aumenta a exposição tanto do Brasil quanto da China. Em um contexto mais amplo, vimos os efeitos disso acontecendo com a própria economia mundial e sua forte dependência junto às cadeias globais de suprimentos concentradas em poucos fornecedores.”

O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, concorda que o Brasil se encontra em uma situação de dependência muito elevada.

“Podemos ter problemas nos próximos anos, basta ver que os Estados Unidos estão fazendo um esforço para retirar empresas da China. A nossa fragilidade é muito maior.”

Ele ressalta que a diversificação da pauta de exportações é um problema que deveria ser alvo de preocupação por parte do Brasil há anos, independentemente do desempenho da economia chinesa.

“Não apenas o peso da China na nossa balança comercial preocupa mas o tipo de dependência também é ruim. Basear nossas vendas em commodities é injustificável, dadas as potencialidades do Brasil”, diz.

COMMODITIES METÁLICAS SENTEM DESACELERAÇÃO

Os sinais de desaceleração da economia chinesa, com a perspectiva de uma maior instabilidade no mercado imobiliário do país, também se refletem nas previsões para uma das principais commodities brasileiras: o minério de ferro.

Segundo projeções da AEB, o produto deve registrar uma queda de preço de 34,1% na cotação internacional neste ano. Projeções indicam que a tonelada da commodity deve ser vendida por US$ 85 em 2022, vindo de US$ 129 no ano passado.

“Uma desaceleração da economia chinesa puxada pelo setor de construção civil desaquecerá a demanda por essa commodity. Já para as agropecuárias, a curto e médio prazo, é esperado que o Brasil tenha uma demanda relativamente estável do lado chinês”, diz Serigati, da FGV.

O ex-embaixador do Brasil em Pequim Marcos Caramuru pondera as críticas ao peso supostamente excessivo dos chineses na balança brasileira.

“Estrategicamente seria interessante desviar a demanda, mas para qual lugar? Quem poderia comprar do Brasil nessa magnitude? Sem essa resposta, vamos ter uma política que mira não vender os nossos produtos, e esse raciocínio não leva a lugar algum.”

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