Rondonópolis Empresas (MS) – A Justiça autorizou no mês de janeiro o processamento de recuperação judicial do Grupo Mafini, no mercado agropecuário desde 1984, com atuação nas últimas décadas em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso. Segundo documento ao qual o Canal Rural teve acesso, o juiz Cleber Luis Zeferino de Paula, da 4ª Vara Cível de Sinop autorizou o processamento da recuperação judicial atendendo pedido dos advogados Julierme Romero e Rubem Vandoni.
A história do grupo começa em 1984, quando Aquiles Mafini compra a Fazenda Continental em Campo Novo do Parecis (MT), com 1.347 hectares agriculturável. Até o ano de 2021, a empresa passou a atuar também no ramo de transporte e empreendimentos imobiliários. Segundo o processo de recuperação judicial, o passivo atual está na casa dos R$ 200 milhões e em 60 dias a empresa deve apresentar um plano de pagamento a seus credores, um grupo formado por instituições financeiras, empresas privadas e poder público.
Em entrevista ao Canal Rural, o advogado que representou o grupo, Rubem Vandoni, da RJV Advogados, explicou que o principal objetivo da recuperação judicial é manter o emprego das pessoas que prestam serviços para a empresa e garantir que uma atividade continue, gerando renda e até tributos para a região.
“Vamos apresentar como pretendemos pagar todos os credores. Esse plano será submetido a uma assembleia de credores, que dirá se concordam com o pagamento. A recuperação judicial é mediada pelo poder judiciário e é muito mais negocial, em um consenso entre a empresa e seus credores”, disse.
Segundo ele, o escritório que representa o grupo mantém as portas abertas aos credores, explicando a lei e o processo que será feito durante a recuperação judicial.
“Ninguém gosta de ficar sem receber, mas a lei nos ampara e a gente precisa sempre estar conversando com transparência e seriedade para que todo mundo seja pago. O objetivo é preservar todas as atividades. Dentro do planejamento do grupo, o fôlego que a recuperação judicial proporciona será suficiente para que todas as atividades e empregos sejam preservados. É uma questão muito viável”, esclareceu.
A construção de um império
Durante exatos 30 anos, o Grupo Mafini investiu em diversos segmentos ligados à agropecuária:
- Ainda em 1984, Aquiles Mafini fundou a Agromil (Agrícola Mafini Ltda.), que atuava na compra, venda e armazenamento de cereais e comercialização de insumos agrícolas no Paraná.
- Em 1987, Aquiles se casou com Silvana Margarete Mafini, que virou sócia da empresa.
- Em 2000, Aquiles adquiriu um imóvel em Lucas do Rio Verde (MT), com 200 hectares, onde seria construído um loteamento residencial. Mais tarde, vendeu a empresa Agromil e, com os valores, comprou as fazendas Novo Horizonte, Agromil I e Agromil III em Nova Ubiratã (MT), somando 4.881 hectares.
- Em 2005, com a implantação de um polo industrial da BRF em Lucas do Rio Verde, o grupo iniciou o projeto de loteamento residencial em um imóvel adquirido anos antes.
- Foi em 2006 que o grupo lançou o projeto com cerca de 800 terrenos e uma estimativa de faturamento de R$ 24 milhões. No ano de 2012, o casal fundou a empresa Agromil Transportes Ltda., com o propósito de comprar veículos para atender às próprias demandas, suprindo as necessidades das fazendas, como transportes de grãos, insumos e maquinários.
Início dos problemas financeiros
No ano de 2014, em uma reunião com uma instituição financeira, houve, segundo consta nos autos, uma promessa de liberação de R$ 20 milhões para o grupo. No entanto, em 2016 o montante liberado foi de 13 milhões, iniciando as primeiras dificuldades financeiras do grupo.
Segundo o processo, ainda, em 2015 o Grupo Mafini obteve uma proposta para construção de uma galeria comercial por uma empresa, a qual teria aplicado um golpe, indicando que ela vendia os espaços das lojas da galeria e não repassava o percentual cabível ao grupo. O grupo Mafini, então, passou a tocar o projeto da galeria comercial sozinho, transformando o projeto inicial no “Primeiro Shopping Center” de Lucas do Rio Verde. A inauguração estava prevista para 2020. No entanto, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) frustrou os negócios uma vez que a organização esperava faturar R$ 350 mil mensais com aluguéis do estabelecimento comercial.
Ainda em 2015, o grupo relata que teve parte da área urbana anexa ao Loteamento Residencial Mafini invadida, gerando mais R$ 2,5 milhões de prejuízo. Naquele ano, a Fazenda Agromil I também foi invadida e o montante gasto para regularizar a propriedade, até hoje pendente, dificultou o financiamento para o plantio na área, impossibilitando garantias para acessar empréstimos, o que agravou ainda mais a crise.
No mesmo ano, o grupo relata que teve parte da área urbana anexa ao Loteamento Residencial Mafini invadida, gerando mais R$ 2,5 milhões de prejuízo. Naquele ano, a Fazenda Agromil I também foi invadida e o montante gasto para regularizar a propriedade, até hoje pendente, dificultou o financiamento para o plantio na área, impossibilitando garantias para acessar empréstimos, o que agravou ainda mais a crise.
Apesar das dificuldades, o grupo fez investimentos em máquinas e equipamentos. A previsão para a safra 2019/2020 era de aumentar o cultivo de soja de 4.200 hectares para 6.200 hectares, já o milho passaria de 3.580 hectares para 4.600 hectares. No entanto, durante a safra houve muita chuva em Novas Ubiratã (MT), que impossibilitaram a colheita em tempo hábil, fazendo com que a soja apodrecesse na lavoura, além de dificultar o escoamento da safra devido às estradas de acesso às fazendas estarem danificadas, impossibilitando a passagem de caminhões. Nesse período houve uma quebra de safra e o Grupo teve um déficit de 150 mil sacas de soja, gerando um prejuízo na ordem de R$ 22 milhões.
As chuvas atrasaram também a janela de plantio do milho, pois a estimativa de colheita seria de 420 mil sacas e foram colhidas apenas 180.000 sacas. Além das intempéries climáticas, houveram perdas na produção da safra 2019/2020, devido à falta de aplicação de fungicida na cultura de soja, ocasionados pelo atraso na entrega dos produtos em uma área financiada, gerando prejuízo na ordem de R$ 4.073.958,00.
Por causa desses e outros contratempos, o grupo alegou que fica inviabilizada a realização de financiamentos e que não foi possível levantar recursos para a safra atual, tendo que reduzir drasticamente a área de plantio. Ainda em 2020, diante do cenário enfrentado, o grupo sofreu a busca e apreensão de seis caminhões adquiridos através de financiamento, que totalizam um valor de compra de R$ 2,76 milhões. Ao todo, o grupo alega que a crise gerou um passivo de quase R$ 200 milhões, razão pela qual necessitam do “manto de proteção da recuperação judicial para renegociação com a comunidade credora”.