No Brasil, as mulheres representam apenas 6% dos cargos de liderança no setor de energia, mostra um estudo da FESA Executive Search, com 25 empresas do país, considerando cargos de CEO ou de liderança nas áreas de operações, manutenção, novos negócios e engenharia e construção.
No setor público, embora elas tenham alcançado o patamar de 59% do total de servidores federais, a ocupação de cargos de liderança permanece baixa. Na atual gestão, por exemplo, apenas um, dos 23 três ministérios, é chefiado por uma mulher — o da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Para jogar luz sobre a composição de altos cargos na administração pública, o movimento Sim, elas existem está, desde 2018, à frente de iniciativas de promoção de igualdade de gênero e de paridade de oportunidades nas diferentes áreas do ramo de energia e mineração.
De acordo com as fundadoras Renata Isfer, Agnes da Costa e Fernanda Delgado, a ideia inicial era dar destaque às mulheres do setor energético que poderiam exercer cargos de liderança no Ministério de Minas e Energia (MME), entre outros órgãos e agências reguladoras do governo.
Em entrevista à agência epbr, na Rio Oil & Gas 2022, Renata Isfer contou que as organizações como a ANP, Aneel, EPE, ONS não haviam tido mulheres como diretoras e em posições de chefia.
“Quando a gente começou, não existia absolutamente nenhuma mulher no altos cargos de liderança no setor público. Foi daí que surgiu a ideia do Sim, elas existem”, explicou. Assista na íntegra!
Hoje o projeto conta com atividades como webinars, podcasts e um programa de mentoria para mulheres jovens ingressando no setor de energia, Empodere C, em parceria com a Plataforma Energy C, que já está em sua segunda edição.
Mas o carro chefe do projeto é a lista, a ser entregue aos candidatos à Presidência da República, de nomes de profissionais competentes e comprometidas com o setor, indicadas voluntariamente por quem atua na área. A primeira lista foi lançada em 2018. A segunda este ano, e o número de indicadas chega a mais de 400 profissionais.
No site do projeto também é possível cadastrar mulheres palestrantes e encontrar indicações de fontes especialistas em diversos subtemas da Energia. Neste link
Mudanças em curso
A própria Rio Oil & Gas deste ano já trouxe algumas demonstrações da força que o tema de inclusão e diversidade vem ganhando no setor de energia.
O encontro contou com uma Arena ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) onde se concentraram painéis sobre inclusão, diversidade e gênero.
Mas o caminho até a efetiva diversidade ainda é longo.
Em 2021, a taxa de emprego nas áreas de energia aumentou cerca de 1,3 milhão em relação a 2019, podendo avançar mais seis pontos percentuais até o final deste ano.
Mesmo com o crescimento de empregos na indústria energética a nível global, a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra que os índices de participação feminina neste ramo estão abaixo da média global.
Na economia em geral, mulheres ainda não conseguiram equidade e representam 39% do emprego global. Na indústria de energia, o cenário é ainda pior: apenas 16% das vagas em setores tradicionais são ocupadas por elas.
E, assim como no restante da economia, a participação em altos cargos é de pouco menos de 14% em média, com grandes variações por segmento: nuclear e carvão têm as piores taxas, com 8% e 9%, respectivamente, enquanto as concessionárias de energia elétrica estão entre as mais altas, com quase 20%.
Na indústria solar, a que mais emprega mulheres no setor de energia, 58% delas atuam em funções administrativas. Tratando-se de cargos de liderança, o percentual cai para 30% em gerências e apenas 13% das gerências sêniores.
Disparidade salarial
Diante de um ambiente predominantemente dominado por homens, muitas são as barreiras profissionais enfrentadas por mulheres funcionárias no setor energético.
Segundo relatório do IEA, as mulheres são mais propensas a deixar empresas de energia para empregos fora do ramo, isso ocorre porque elas encaram problemas como a disparidade salarial.
A diferença entre salários de homens e mulheres no setor energético, por exemplo, é maior do que em qualquer outro setor. Os salários das trabalhadoras do gênero feminino são quase 20% inferiores aos dos trabalhadores do gênero masculino.
Vale ressaltar que a IEA considerou homens e mulheres com funções semelhantes dentro das instituições, assim como suas habilidades, experiências profissionais e educacionais.
Mudar isso, diz a agência, demanda políticas públicas de inclusão para inserção de mulheres no setor. Isso porque a escassez de incentivos também influencia na falta de contribuição feminina no segmento, o que impede a construção de novos olhares, pensamentos e perspectivas para uma transição energética justa.