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Inseminação artificial em tempo fixo melhora eficiência no rebanho

Palestra de Pietro Baruselli tratou sobre a mitigação de CO2 (Divulgação/ GlobalGen)

Realizado em Goiânia (GO), nos dias 30 de julho a 1 de agosto, a quarta edição do GlobalSynch Group reuniu um time de elite da pesquisa científica. Para abrir o evento em grande estilo, Pietro Baruselli, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) apresentou estudos relacionando a eficiência produtiva à mitigação de gases de efeito estufa na pecuária.

Segundo ele, entre 1961 e 2021, a população mundial cresceu 158% (de 3 para 8 bilhões de pessoas) enquanto o rebanho bovino aumentou 62% no mesmo período (940 milhões para 1,5 bilhão de cabeças), lembrando que os bovinos respondem por 25% das carnes produzidas e 85% do leite consumido em todo o planeta. O grande desafio, então, tem sido aumentar a produção de alimentos gerando o menor impacto ambiental possível, especialmente no que tange à emissão de gases de efeito estufa (GEE).

“Se conseguirmos reduzir a idade ao primeiro parto de quatro para dois anos, elevar o peso à desmama e aumentar a taxa de produção de bezerros de 60% para 80%, é possível diminuir a produção de CO2 equivalente em 40%”, garante Baruselli, munido de dados levantados em centenas de fazendas de cria, sistema que ocupa 120 milhões de hectares no Brasil. E quanto mais cedo a matriz parir, maior será a produção de bezerros, mais arrobas se terá por hectare, mais baixo será o consumo de água e menor será a emissão de GEE.

A meta estipulada pelo especialista é audaciosa: ter uma vaca Nelore já parida aos dois anos de idade (a média nacional atual é acima de quatro anos), algo difícil de se atingir sem o uso da inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Hoje, apenas as fazendas mais conceituadas em precocidade sexual conseguem emprenhar novilhas zebuínas aos 13 ou 14 meses de idade. Isso porque se trata de uma categoria suscetível a uma série de desafios, como visto na palestra do professor Roberto Sartori, da Esalq/USP: “Novilha precoce, uma caixinha de surpresas”.

“Tudo aquilo que a gente viu e aprendeu no passado com novilhas de dois anos, não necessariamente está se aplicando às precocinhas”, observa Sartori. O especialista se refere à dificuldade de elevar a fertilidade desta categoria, mesmo após a sucessão de um ou mais protocolos de indução de puberdade. “Não dá mais para fazer o diagnóstico de gestação apenas aos 30 dias. Até os 60 dias, muita coisa muda”, adverte. Pelos resultados de experimentos do especialista, mesmo com a novilha precoce apresentando corpo lúteo no D0 (dia do início do protocolo de IATF) e apresentando prenhez no ultrassom depois de um mês, podem ocorrer perdas gestacionais.

Progesterona + Estradiol

O GlobalSynch Group também trouxe algumas particularidades interessantes dos protocolos de IATF, uma delas foi apresentada pelo médico-veterinário Pedro Henrique Deo, da Fazenda Nova Piratininga. Ele comparou diferentes estratégias de indução em um experimento que envolveu 2012 novilhas Nelore de 22 meses de idade. Em resumo, utilizar implante de progesterona mais cipionato de estradiol resultou em mais novilhas com corpo lúteo no dia zero do protocolo de IATF e maior expressão de cio.

“Ficou bem claro que induzir a ovulação de novilhas previamente ao protocolo proporciona maior formação de CL [corpo lúteo] no D0 do protocolo, mais expressão de cio e, consequentemente, maior número de prenhezes”, constatou Deo, que ainda contou com apoio do professor Leonardo Melo (UFG) para mostrar outra pesquisa sobre ovulação em novilhas. “Em relação a qual duração de protocolo utilizar, em novilhas confinadas, especificamente, talvez fosse interessante usar um período mais curto, de sete dias, porque diminui a chance de ocorrer ovulação antecipada”, sugere o professor da UFG.

Estação reprodutiva

Já quanto ao momento mais oportuno para entrar com os protocolos de IATF, Gabriel Cunha, médico-veterinário e consultor da Fazenda Katispera, indica que seja logo no início da estação de monta.  “Tudo que eu fizer para a minha vaca estar pronta no primeiro dia da estação produtiva é positivo. Quanto mais cedo a vaca parir, maior será o peso da desmama e mais cedo esse animal será abatido. Os animais que nascem no final do período reprodutivo podem demorar mais de três anos para serem abatidos”, explica o veterinário.

Em relação aos protocolos de IATF mais modernos, o professor Sartori apresentou a deixa para destacar o Rebreed 21, que possibilita a produção de bezerros do cedo com a concepção da fêmea o mais breve possível após o parto, claro, respeitando-se a fisiologia do animal. Para tanto, são propostas três IATFs, em um período de 42 dias, com duas ressincronizações, começando o novo protocolo 12 dias após a primeira e a segunda inseminações. Em um dos comparativos apresentados pelo professor da Esalq/USP, a prenhez acumulada em primíparas, depois dos 42 dias, foi de 74% na sincronização convencional (intervalos de 30 dias) e 75% com Rebreed21. Já nas multíparas, os resultados foram 82% para a convencional e 89% com Rebreed21.

Painel das centrais

Como vem se tornando tradição no GlobalSynch Group, os participantes tiveram oportunidade de interagir com representantes de algumas das maiores empresas de inseminação artificial do país: Genex, Alta Genetics, Select Sires e Semex, além do programa de avaliação genética DeltaGen, com moderação de Ricardo Abreu, gerente de fomento da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

O debate ferveu após uma pergunta sobre o uso dos índices de qualificação utilizados nos sumários dos programas para ranquear os touros. Uma resposta que resumiu bem o posicionamento das centrais partiu de Juliana Ferragute, da Genex: “Eu, Juliana, não acredito em escolha de touro baseado em índice. Pra mim, tem de ser olhadas as características específicas individuais, dentro da necessidade do criador”, disse, aproveitando o momento para criticar a falta de foco de muitos pecuaristas, muitas vezes, reféns das “modas” do momento.

JBJ Experience

Neste ano, a programação do GlobalSynch compreendeu um dia de campo na JBJ Genetics, em Nazário (GO). A propriedade possui um confinamento com mais de 20 mil cabeças e as outras fazendas do grupo possuem 40 mil fêmeas em reprodução, das quais destaca-se um time de 150 doadoras Nelore PO, responsáveis pelo ingresso da JBJ na pecuária seletiva, no ano passado, como convidada no Leilão da Nelore Paranã. Neste ano, a JBJ abriu a Expogenética com dois remates próprios.

“A ABCZ entendeu que a gente tinha condição de abrir a Expogenética e eu também tinha certeza de que foi uma grande estreia. Ainda neste ano, esperamos ter entre 30 e 80 touros em centrais de inseminação”, projeta o diretor de Pecuária da JBJ, Guilherme Oliveira. Ele valoriza as avaliações genéticas, mas quer um foco maior em morfologia, precocidade e equilíbrio na régua de DEPs. Também acredita que a parceria com a GlobalGen foi essencial para acelerar o processo. “Somos parceiros há quatro anos e, pra mim, o maior diferencial competitivo da GlobalGen é o fato dela ser uma empresa especializada. A equipe, os treinamentos, o dia a dia, as informações, a tecnologia, tudo é voltado à reprodução”, finaliza o diretor.

Banco de dados robusto

“Mais uma vez o GlobalSync trouxe o que tem de melhor no conhecimento de genética e professores renomados. Também é palco de uma grande troca de experiências”, reconhece Urias de Souza, vice-presidente do Conselho de Administração da UCBVet, empresa controladora da GlobalGen. “Em 2020, estávamos em 40 pessoas e devíamos ter 400 mil dados e 4 milhões de sincronizações no mercado. Hoje, reunimos 150 pessoas, um milhão e meio de dados coletados e 10 milhões de fêmeas sincronizadas no Brasil, graças a esta parceria com técnicos e criadores. Para nós, isso é motivo de grande orgulho”, comemora Rodrigo Faleiros, diretor superintendente da UCBVet. Entre os palestrantes do evento, estavam a equipe técnica da GlobalGen e empresas parceiras.

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