O estado de Goiás é o sétimo maior produtor de vestuários do Brasil e a indústria da moda goiana é sucesso no Brasil. Segundo o Sebrae, em Goiás, a cadeia têxtil é gigantesca, que reflete uma média de 200 mil postos de trabalho diretos e indiretos, além de ser responsável por aproximadamente 75% da produção total da região Centro-Oeste. Entre o ramo têxtil e confecções, o Estado possui quase três mil empresas. Goiânia tem se consolidado no cenário nacional por sua relevância para as confecções, justamente por possuir maior relevância econômica, geração de empregos e uma boa perspectiva de crescimento, o que movimenta a economia local e nacional. A capital goiana ainda é o endereço do segundo maior polo atacadista do Brasil, a chamada Região da 44, que fica atrás apenas do Brás, em São Paulo.
Segundo Sérgio Naves, presidente da Associação Empresarial da Região da 44 (AER-44), no ano de 2023, a Região da 44 registrou uma movimentação financeira de R$ 14 bilhões, recebendo neste mesmo período 15,5 milhões de visitantes e comercializando 280 milhões de peças de roupas. “Neste ano de 2024, por exemplo, tivemos um mês de julho surpreendente, pois recebemos 1,1 milhão de visitantes. Para o mês de julho, esta movimentação realmente nos surpreendeu. No ano passado, neste mesmo mês, recebemos cerca de 800 mil turistas de compras, um número que já foi muito bom para a época. Isso consolida a 44 como um polo de turismo e para o final deste ano, em dezembro, a nossa expectativa é receber 1,2 milhão de visitantes e movimentar mais de R$ 1,2 bilhão”, destaca.
O governo do Estado, atento ao potencial de oportunidade de emprego e renda que a moda oferece, lançou em parceria com a AER44 o Cinturão da Moda, que reúne mais 30 municípios goianos que produzem para a Região da 44. A iniciativa envolve também o assessoramento para criação e organização de cooperativas de costureiras, fornecimento de máquinas de corte a laser para prefeituras e cooperativas, além do Centro de Distribuição que faz a conexão entre as costureiras e pequenas confecções do interior e os lojistas da 44. Goiás é um polo que comercializa moda barata, de alta qualidade, com destaque principalmente para o jeans, um dos melhores do País.
Para Bráulio Duarte, fundador e diretor jurídico da AER-44, a Região da 44 potencializa ainda mais a vocação econômica do Estado. “Recebemos além da produção goiana, marcas de fora que vendem aqui para todo o Brasil. Como somos um polo de turismo de compras, as oportunidades de emprego são altas para todo o Estado. Num pequeno perímetro de 12 ruas e duas avenidas reunimos mais de 14 mil pontos de vendas, 140 empreendimentos entre shoppings, galerias e hotéis. Fomentamos a indústria da confecção em mais de 30 cidades goianas. Sem contar a localização estratégica, então obviamente ter uma loja ou confecção na capital goiana é muito interessante”, afirma.
De acordo com a Junta Comercial de Goiás (JUCEG), Goiás possui 1.169.729 empresas ativas, considerando também os microempreendedores individuais (MEI). Goiânia corresponde a 30,57% desse número de empresas, com 357.702 negócios ativos. No ramo da indústria têxtil e de confecções, segundo dados do Instituto Estudos e Marketing Industrial (IEMI), o setor têxtil conta com 3,6 mil profissionais e o de confecção tem 21,3 mil empregados. Os dados de 2021 são os mais recentes. Com a constante evolução do mercado e a crescente demanda por qualificação e inovação, diversas instituições oferecem cursos para qualificação e inovação da mão de obra para o setor.
Outro destaque é o aumento de marcas autorais. Eventos relacionados a área de moda podem gerar visibilidade para novos estilistas e novas marcas. Em Goiás destaca-se a Semana da Moda, denominada “Goiás Fashion Week”, um dos eventos de moda mais prestigiados no Brasil, que foi incluída no Calendário Cívico, Cultural e Turístico do Estado de Goiás. Em Anápolis, o Anápolis Fashion Week (AFW), que é a semana de moda anapolina, valoriza a moda local, com a missão de revelar talentos. Outro evento relevante para a moda goiana e com objetivo de movimentar a indústria criativa em Goiás, é a Amarê Fashion, maior evento de moda do Centro-Oeste, que é uma realização do Sebrae Goiás e Sistema Fecomércio, Sesc e Senac (GO), com apoio do governo de Goiás.
O Senac Goiás é responsável pela curadoria das passarelas da Semana de Moda. A instituição busca trazer, a cada ano, marcas fortes, consistentes e relevantes. Por meio do projeto Senac Fashion School, os alunos recebem a mentoria de um grande ícone da moda por meio do curso de Planejamento e Criação de Coleção de Moda. Através das consultorias, os alunos passam por todas as etapas de criação e desenvolvimento de uma coleção completa. Todo o processo de aprendizagem, criação, confecção e desfile é registrado em um documentário que é lançado no último dia do evento de moda.
O estilista Deusivan Martins de Araújo (57) participou do projeto Senac Fashion School e durante a Amarê Fashion realizou o lançamento da sua marca, intitulada ISUED (@isued_veste), com uma pegada dentro do estilo streetwear e com tratamento de alfaiataria. Desde a infância, o profissional tinha a habilidade para desenhar e já na adolescência começou a elaborar alguns acessórios para uso próprio, como pulseiras e chaveiros artesanais. No final dos anos 80, fez um curso de desenho de moda, conseguindo trabalhar em lojas de tecidos, onde desenhava peças, principalmente, vestidos de festas para os clientes que compravam os tecidos. Em 1993, trabalhou em São Paulo, na rua São Caetano, conhecida à época como Rua das Noivas, e de volta a Goiânia começou a montar vitrines no Shopping Flamboyant e no centro da cidade, além de criar peças para algumas confecções de Goiânia.
Em 2011, o estilista investiu numa marca de camisas masculinas, mas os planos não decolaram. Deusivan chegou a se aventurar em outras áreas, fora do ramo da moda, fez graduação em Ecologia e Análise Ambiental pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e concluiu o mestrado em Ecologia e Evolução. Porém seu amor pela moda falou mais alto, investiu em novos cursos de desenho e modelagem e, finalmente, em 2020 ingressou no curso de Design de Moda, pela UFG. “Com todo esse conhecimento acumulado em anos, entre práticas e disciplinas acadêmicas, consegui estruturar um plano para o lançamento da minha marca, a ISUED. Com a oportunidade de participar na Amarê, eu pude apresentar minha primeira coleção. Assim cheguei ao mercado com mais amadurecimento e apoio de várias pessoas e, claro, de instituições como a UFG, o Sebrae e o Senac”, garante.
Com um estilo sofisticado e moderno, a ISUED é conhecida por suas peças que combinam conforto e elegância. A coleção “Aura de Andurá” é pensada nos mínimos detalhes e carrega um toque de originalidade, ideal para quem busca destacar-se com autenticidade. Conforto e estilo com designs divertidos e criativos para o dia a dia. É o streetwear com a descontração do meio silvestre que combina liberdade e movimento.
Durante as aulas no Senac, Deusivan se envolveu com vários profissionais da área da moda, como bordadeiras, costureiras, designers, artesãos e vários outros, unidos com um único propósito, o de aprender com professores empenhados e preparados. “Isso tudo foi muito enriquecedor para todos, com certeza. Durante o processo, concluímos todas as etapas para o desenvolvimento de uma coleção, buscando inspiração com pesquisas sobre materiais e histórias que compuseram looks com referências aos elementos naturais e as entidades do Zodíaco. Aí então foi só colocar ‘as mãos na massa’ e, posteriormente, confeccionar as peças. Tudo isso foi finalizado em um lindo desfile na Amarê e num editorial na Vogue Brasil. Então, foi uma experiência incrível e de muito aprendizado. Então, em projetos como esse do Senac, os profissionais da área da moda e estilistas, têm a chance de aprender a se estruturar para o mercado e podem estabelecer contatos nas várias partes da cadeia da produção da moda”, reitera.
O estilista Eliseu Vieira de Arruda Lomes (26) também participou do projeto Senac Fashion School e logo após lançou sua marca de roupas ÉLOBO (@elobo.oficial). Eliseu, que atua na área da moda há sete anos, iniciou sua carreira desenhando e só depois aprendeu a costurar e modelar. Iniciou seus estudos no Senac com um propósito profissional e considera o projeto Senac Fashion School um divisor de águas na sua carreira em que pôde transmitir as suas ideias a diversas pessoas por meio da moda. “Foi incrível a troca de experiências entre professores e alunos. Fez com que o ganho de vivências fosse mais forte. Eu sou estilista. Amo a identidade visual da alfaiataria, do acabamento, do avesso ser tão importante quanto o direito da peça. Me inspiro no Alexander McQueen, na construção de cada detalhe e uso de texturas. Almejo transmitir minhas ideias para que sejam vistas não apenas para consumo imediato, mas também como obras de arte. Não me sinto só estilista, sou um artista que está esculpindo a sua obra, no material tecido que se ajusta e se adapta às curvas do corpo”, ressalta.
O nome da marca ÉLOBO é inspirada no lobo-guará, símbolo do cerrado brasileiro, que está em risco de extinção e nos seus místicos contos em que o animal hipnotizava os caçadores com seu olhar dramático e seu olhar intenso. O objetivo da marca é trazer os aspectos do cerrado, desde a valorização cultural além da produção regional. A coleção, intitulada “Ser Inflexível”, destaca as nuances do Cerrado e o estilista faz uso de formas geométricas e linhas retas que reforçam vigor e resistência. Cada peça é um diálogo entre recortes inovadores e conceitos que se entrelaçam à estética contemporânea. “A coleção se inspira em cores e texturas da natureza, na sustentabilidade ambiental e nas histórias que habitam essa região tão rica, que é o Centro-Oeste. A coleção é um convite ao novo, que conta histórias, celebra a diversidade e a beleza do nosso país. Cada peça conta uma história, através de elementos subjetivos”, afirma o estilista.
Crescimento do e-commerce no mercado da moda
O mercado de moda enfrentou mutações significativas durante a pandemia, acelerando a transição para o e-commerce. Segundo a pesquisa “Consumo de moda no Brasil”, do Opinion Box, 66% do público prefere fazer compras de roupas, calçados e acessórios virtualmente. As marcas ÉLOBO e ISUED são exemplos de marcas digitais. É o chamado digital branding, também conhecido como marketing digital, que é o processo de gestão de uma marca que combina tanto o branding tradicional quanto o marketing digital. Todo o relacionamento com os consumidores é feito de forma on-line e as redes sociais são canais de relacionamento e não apenas canais de exposição.
Isso também reflete o aumento no número de brasileiros que estão cada vez mais inclinados a realizar compras de moda on-line, por conta da comodidade, variedade de peças e preços mais competitivos. Além disso, o consumo consciente é relevância no mercado de moda para as novas gerações. Números do relatório de dados do Mercado Global de Moda de 2024 mostraram que 46,4% dos consumidores globais compraram roupas sustentáveis, enquanto um terço adquiriu calçados feitos de materiais ecológicos.
O mercado de segunda mão, também conhecido como second-hand, é um mercado em expansão, não só no Brasil como no mundo, principalmente pela emergência climática e todas as novas formas de moda sustentável. A estilista Lídia Keila de Oliveira (37) acredita que o mercado de segunda mão tem muito potencial e que está ganhando cada vez mais espaço. “Depois da pandemia, a gente vê um boom desse mercado, até pela forma mais profissional que os brechós estão lidando, as curadorias, o próprio marketing dos brechós, que estão se profissionalizando. Estamos vendo também uma maior recepção do público de todas as classes. Não tem mais só aquele público de classe C e D, mas a gente já consegue ver vários nichos e vários públicos de toda a gente”, pondera.
Formada em Design de Moda, a profissional foi estilista por 15 anos em uma empresa convencional e hoje é curadora do Brechó Gato Freud (@gatofreudbrecho). A ideia inicial era fundar um brechó on-line para que a sobrinha aprendesse a trabalhar na área, mas ela foi estudar outra coisa e a estilista ficou com o brechó sozinha. O brechó, que completou três anos em agosto, busca estabelecer a marca e firmar o conceito artístico no ramo de brechós. “Meus planos futuros é firmar ainda a marca, que a gente possa vender uma peça realmente transformada, ressignificada e criar essa identificação com o público, que aos poucos sabe o que é um trabalho artístico. Não tenho pretensão de ser um mega brechó, a minha pretensão é de fidelizar clientes que gostam de arte. Esse é o nicho para o plano futuro, o de fidelizar cada vez mais, colocar nossa cara cada vez mais na marca e tirar esse conceito de que só vendemos roupa usada. Vendemos roupa usada sim, segunda mão sim, porém ressignificado”, descreve.
A divulgação on-line permite uma maior viabilidade do negócio e consequentemente atingir públicos em diversos lugares. O Brechó Gato Freud, por exemplo, trabalha com a transformação de peças, usando a técnica da upcycling, que é a modificação das peças, e realiza curadoria específica, que é o diferencial do brechó. “A gente pega uma peça que estava condenada e a gente faz realmente um trabalho de curadoria dela, a gente salva aquela peça e eu faço questão de fazer esse processo de mostrar isso no brechó. Então, a gente não só vende, mas a gente transforma, ressignifica as peças, dá uma nova história para as peças e o on-line tem todo esse espaço para você conseguir mostrar esse tipo de conteúdo e acaba captando clientes por on-line”, reitera.
Em Goiânia, acontece o principal evento de brechós da cidade, o Encontro de Brechós. Evento importante para o nicho de brechós. O Brechó Gato Freud, que participa do evento, percebeu uma maior captação de clientes. “Quando o brechó estava com quase sete meses a gente já começou a fazer os encontros no Encontro de Brechó e, de lá pra cá, a gente deu um boom, deu um salto porque foi nesse evento que eu consegui captar clientes de brechó de Goiânia. Consegui fidelizar quem se identifica com o tipo de produto que a gente trabalha”, comemora.
Foco em competências e inovações
O mercado da moda no estado de Goiás, apresenta um crescimento significativo, relacionado ao crescimento do número de empresas têxteis e de confecções, além do aumento proporcional na demanda de trabalhadores para o setor. Diante desse cenário, intensifica-se o interesse pela qualificação e inovação da mão de obra. De acordo com a coordenadora de Programas Finalísticos de Moda do Senac Goiás, Ildeth Dias de Sousa, o mercado de moda em Goiás está passando por um processo de adaptação e transformação. Para a profissional, há uma crescente valorização da moda autoral e do empreendedorismo local, com marcas goianas buscando se destacar, no entanto, o setor ainda enfrenta desafios, como a concorrência com grandes redes varejistas e a necessidade de se modernizar frente à digitalização do mercado. “A demanda por profissionais qualificados, como estilistas, consultores de imagem e especialistas em produção, tem crescido e isso é promissor, porém a competitividade é intensa e exige cada vez mais inovação e qualificação. É preciso preparar os novos profissionais para os desafios do setor, com foco principalmente em competências técnicas e digitais”, destaca.
Segundo Ildeth, os cursos da área de Moda do Senac Goiás se destacam por sua formação completa e diversificada, voltada para as múltiplas necessidades do mercado, que atendem a diferentes segmentos e tipos de ocupação diversificados. A instituição oferece um portfólio variado que permite ao aluno escolher o curso mais adequado ao seu perfil e objetivo profissional, seja como estilista, empreendedor, consultor de imagem ou profissional de produção de moda. “Anualmente o número de alunos nos cursos de Moda tem tido um aumento a cada ciclo, acompanhando a demanda crescente por profissionais qualificados em áreas como consultoria de imagem, criação e produção de moda. Embora o setor enfrente desafios, as novas tendências, como a digitalização e o consumo consciente, têm impulsionado a busca por formação especializada e o fortalecimento de marcas locais”, frisa.
Com foco na educação e qualificação, o Senac Goiás está ofertando três cursos completos e inovadores para a área de Moda, que atendem a diferentes necessidades e perfis profissionais. São eles: Consultoria de Estilo – Personal Stylist, Dress Code Empresarial – Etiqueta Profissional e Criação de Coleção de Moda. Cada um deles foi desenvolvido para atender tanto iniciantes quanto profissionais que desejam se especializar ou até mesmo transitar para novas áreas dentro do setor.
⦁ Consultoria de Estilo – Personal Stylist: Com duração de 84 horas, o curso visa capacitar o aluno a atuar como consultor de imagem pessoal e corporativa, abordando temas como imagem pessoal, estilos, biótipos corporais, coloração pessoal e organização de guarda-roupa. O curso prepara o aluno para trabalhar com clientes em diferentes contextos, além de focar nas relações interpessoais e na comunicação visual, oferecendo uma abordagem mais humanizada e prática. Essa formação permite que o profissional atue em diversos segmentos, como consultoria de imagem pessoal, assessoria de estilo para lojas e confecções, e até na produção de figurinos para desfiles e produções audiovisuais.
⦁ Dress Code Empresarial – Etiqueta Profissional: O curso tem duração de 20 horas, é ideal para quem deseja aprimorar sua apresentação no ambiente corporativo, levando em conta a importância da imagem pessoal e dos códigos de vestir no contexto profissional. O conteúdo abrange desde os princípios básicos de estilo e comportamento até as especificidades do dress code para diferentes tipos físicos e para o ambiente virtual. Combina teoria de antropometria e comunicação visual, ajudando o aluno a compreender e aplicar esses conceitos em seu dia a dia e no de seus clientes. O curso é voltado para profissionais que desejam trabalhar com consultoria de imagem ou para quem busca melhorar sua própria performance no ambiente profissional.
⦁ Criação de Coleção de Moda: O curso também tem duração de 20 horas e foi desenvolvido para quem deseja empreender ou atuar diretamente no mercado de moda, criando coleções para marcas próprias ou para empresas do setor. O aluno aprenderá desde a pesquisa temática até o desenvolvimento da coleção, passando pela escolha de cores, tecidos e a formação do mix de produtos. Esse curso é ideal para quem busca se destacar no mercado de moda, pois oferece uma formação sólida sobre o processo criativo e as tendências do setor, com foco na construção de coleções que atendam ao perfil do consumidor e ao DNA da marca.
_______
LEITORES ESTRATÉGICOS
Participem do canal STG NEWS – o portal de notícias sobre estratégia, negócios e carreira da Região Centro-Oeste: https://x.gd/O20wi