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Mesmo com crise hídrica, número de agricultores familiares em MS cresce 62,4%

Eva da Silva Andrade (à esquerda) voltou a comercializar verduras e legumes na feira agroecológica da UFMS; ela acredita que com o retorno das aulas em 2022 as vendas poderão crescer - (Reprodução)

Campo Grande Empresas (MS) – Em 2019 Mato Grosso do Sul tinha 43.223 agricultores familiares, conforme dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), já em 2021, o número saltou para 70.200.

Mesmo com o aumento de 62,4% (ou  26.977) no número de pequenos produtores, muitos relatam ter enfrentado grandes dificuldades em decorrência da pandemia da Covid-19 e principalmente pela crise hídrica.  

Do total de produtores, 33 mil são assentados da reforma agrária; 600 são quilombolas; outros 14 mil são indígenas;  20,5 mil agricultores familiares tradicionais; e 2.100 pescadores profissionais e artesãos. 

O município com maior número de pequenos produtores rurais é Sidrolândia com 4.730 famílias. Segundo o titular da Semagro Jaime Verruck, o governo implentou uma política de modernização da agricultura familiar. 

“A fim de valorizar e promover a fixação do homem no campo, oferecendo condições para a melhoria da produção e da competitividade de assentamentos, comunidades indígenas e quilombolas”, disse.

Ainda de acordo com o secretário, o produtor recebe assistência técnica da gestão estadual em todas as pontas, “orientando tecnicamente, melhorando o acesso ao crédito, as compras públicas, os equipamentos, fechando as cadeias necessárias para o crescimento do setor”, finaliza Verruck.  

PRODUTORES

Em Jaraguari, a produtora familiar, Eva da Silva Andrade, de 66 anos, relatou que os últimos dois anos foram desafiadores para a classe. Ao lado de seu marido, Eva trabalha há 17 anos, cultivando verduras, frutas e hortaliças, mas nunca tinha enfrentado  um cenário como o atual.  

“Olha, esses últimos dois anos foram bem complicados. Nós sentimos bastante queda nas vendas, com a crise hídrica ficou ainda mais difícil, perdemos muitos produtos, a gente perdeu verduras e legumes”, informou.

Com a pandemia Eva disse ter sofrido com a redução da produção, o que mudou totalmente o funcionamento do sítio, que antes contava com a ajuda de três colaboradores.  

“Produzíamos muito antes da pandemia, mas agora reduzimos totalmente, tínhamos três pessoas que trabalhavam pra gente, e tivemos que dispensar todos devido a falta de recursos para pagar. Para nos mantermos fizemos empréstimos”.  

Além da pandemia, em 2021 o País enfrentou a maior crise hídrica dos últimos 90 anos. A produtora relata que o cenário piorou durante o período, ela precisou escolher quais plantas priorizar.

“ Com a crise hídrica, tivemos que escolher qual planta vivia e qual morria, isso destruiu muito da nossa produção. [Tinha] pouquíssima água, tínhamos muita banana plantada, e tivemos que escolher entre as frutas e as verduras o que iria irrigar.” 

“Eu achei que a banana conseguiria aguentar mais tempo sem água, e demos prioridade para as verduras, e aí o bananal não resistiu ”.  

Antônio Manoel da Silva, popularmente conhecido como Toninho da feira, de 49 anos,  morador de Mundo Novo, também relatou à reportagem do Correio do Estado que foi muito prejudicado pela crise hídrica e a pandemia, de acordo com ele, seu faturamento caiu em 50%.

“A pandemia prejudicou bastante a gente, trabalhamos com feira, com as restrições e as pessoas não indo foi desafiador para nós trabalhar. São as pessoas mais velhas que vão para  a feira comprar e justamente são aquelas que fazem parte do grupo de risco.” 

“Nessa pandemia perdemos 50% das nossas vendas. E agora estamos numa seca muito forte aqui na região de Mundo Novo, a perda de produto está sendo inevitável, estou sem alface porque nesse calorão a planta não resiste e aí tem a falta da água, estamos regando com água do poço artesiano, mas não é o bastante”, afirmou.

CLIMA

O diretor-executivo da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Fernando Nascimento, disse que fatores climáticos como as geadas e a seca contribuíram para a queda das produções.

“Realmente, tivemos uma seca relativamente severa, e agora tivemos, duas geadas fortes também, então algumas lavouras foram afetadas neste ano, e isso contribui para a redução da renda desses trabalhadores”.  

Diferente de Eva e  Antônio, alguns produtores não conseguiram continuar. 

“Tem um rapaz que morava aqui de frente comigo em uma chácara de 2 alqueires, com essa situação toda, ele vendeu e foi embora para a cidade.” 

“Tem outro, que era do assentamento, vendeu o sítio porque não estava conseguindo sobreviver e isso me deixa bem preocupado”, relatou o produtor de Mundo Novo.

EXPECTATIVA

Para 2022, a expectativa é de um ano mais produtivo. De acordo com Eva, o ano deve ser de retomadas, participante da Feira Agroecológica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) há 12 anos, no próximo ano ela deve retornar para o corredor central da universidade com a volta dos alunos.  

“Estamos positivos para esse próximo ano, a volta do movimento pouco a pouco, agora com mais pessoas vacinadas as aulas presenciais voltando, poderemos atender novamente os alunos da universidade, isso tudo vai influenciar para retomarmos nossa produção como era antes”.

Questionado sobre o aumento de agricultores familiares no ano de 2022, o diretor da Agraer disse que sempre há novos interessados e que a classe aumenta ano após ano.

“Sempre registramos novos agricultores, então há sim a previsão de um crescimento, até porque a agricultura familiar produz muito daquilo que está em nossas mesas todos os dias, como leite, frutas e verduras”, finalizou Fernando Nascimento.

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