Meses após o início do programa Desenrola Brasil, do governo federal, a situação dos inadimplentes não parece ter mudado significativamente. Dados do Índice FinanZero de Empréstimo mostram que o volume de solicitantes de empréstimos que possuem restrições no mercado segue sendo maior do que aqueles com o nome limpo – uma tendência histórica da base de clientes da empresa.
Em setembro, por exemplo, 51% dos clientes da fintech estavam com contas atrasadas. Em julho, mês do início da iniciativa, essa era a situação de 52% deles.
A última vez que o volume de pessoas sem restrições foi maior ocorreu em setembro do ano passado, quando 52% dos usuários que pediram recursos emprestados estavam com o nome limpo.
Os números se tornam ainda mais relevantes quando relacionados com o Desenrola Brasil, nota-se que a maior parte dos pedidos por dinheiro emprestado segue sendo para pagar dívidas atrasadas. Em setembro, essa foi a motivação de 32% dos solicitantes.
Foi uma realidade mais presente em estados como Rio Grande do Sul e São Paulo, onde 46% e 44% dos pedidos, respectivamente, foram feitos para lidar com contas que precisavam ser pagas com urgência.
No entanto, quando analisados os pedidos de empréstimo focados para negócio próprio, nota-se que um terço das solicitações está relacionado a esse propósito (14%) e a reformas domésticas, o que, para Rodrigo Cezaretto, COO da fintech, pode ajudar a entender o fenômeno.
Na percepção dele, a queda da Selic já começou a refletir em menores taxas de juros no crédito. Com isso, muita gente colocou tudo na ponta do lápis e percebeu que é vantajoso buscar crédito para resolver pendências financeiras ao invés de continuar pagando juros de atraso, juros rotativos e cheque especial, além disso a busca por crédito para realizar investimentos e sonhos de consumo volta a ser uma alternativa viável.
Para Cezaretto, ainda é cedo para termos efeitos nas taxas de inadimplência. “A maioria dos brasileiros endividados estava, na verdade, ainda fora do escopo do programa do governo. A fase do Desenrola que atinge as camadas mais baixas começou há algumas semanas. São elas que sustentam uma quantidade relevante da dívida do consumo, por exemplo. Nossa expectativa é que os impactos, se confirmados, reflitam em melhores ofertas de crédito até o fim do ano”, analisa.
A segunda fase do Desenrola, que entrou em vigor no começo de outubro, atinge pessoas com renda até 2 salários mínimos e com dívidas até R$5 mil. Elas podem ser quitadas em prazos que chegam a cinco anos e com taxas que não passam de 1,99% ao mês.
“Daqui até dezembro será interessante ver o movimento desses fenômenos em paralelo: pessoas pedindo empréstimos para consumir e até investir, porque a Selic caiu, mas também para pagar dívidas atrasadas e, com isso, organizar a vida financeirar”, explica Cezaretto.
BUSCAS DE NEGATIVADOS
A FinanZero também mapeou as buscas mais comuns no Google relacionadas a dívidas no Brasil.
Em setembro, subiu muito (200%) a procura por empréstimos para negativados e que aceitem veículos como garantia de pagamento, uma alternativa extremamente vantajosa para consumidores com restrição de crédito. Também aumentaram as buscas pelo termo fintechs “confiáveis” para pegar dinheiro, mostrando o aumento do poder de escolha do consumidor
Considerando que os dados gerais indicam que pelo menos um terço das famílias brasileiras estão inadimplentes hoje, a demanda se torna auto explicativa.
No entanto, é esperado que tanto a queda na taxa Selic como a evolução do programa Desenrola mudem esse cenário e incentivem a economia. O programa deve refletir em breve na melhora das taxas de inadimplência e o crédito mais acessível voltará a ser uma solução para quitar dívidas, investir em um negócio ou para atender outras necessidades financeiras dos brasileiros.