As goianienses são conhecidas por gostarem de estar arrumadas, maquiadas, cheirosas e com os cabelos e unhas bem tratados. Do outro lado é cada vez maior o número de goianos que frequentam as barbearias, para dar aquele toque polido no visual. Cada vez mais esses cuidados deixam de ser supérfluos e se aproximam mais da saúde, principalmente mental, e do bem-estar. De acordo com os números divulgados na Beauty Fair 2025, a maior feira do segmento realizada em São Paulo, no Brasil os negócios da beleza movimentam mais de R$130 bilhões por ano.
O País é o terceiro maior mercado consumidor do mundo e fica atrás apenas dos Estados Unidos e da China. De acordo com a Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Serviços (SIC), em 2023, foram abertos em média 15 salões de beleza no Estado. Este crescimento é corroborado pelo presidente do Sindicato das Empresas de Barbearias, Institutos de Beleza do Estado de Goiás (Sindibeleza), Marcelino Lucena. Ele afirma que o crescimento anual dos negócios de beleza em Goiás, varia entre 15% a 20% ao ano.
Parece um crescimento baixo, porém a base é alta. E os números mostram isso. Um levantamento rápido feito pela Junta Comercial de Goiás (Juceg), da quantidade de estabelecimentos relacionados a beleza em 2019, antes da pandemia, havia em Goiás: 350 estabelecimentos atacadistas de cosméticos e perfumaria; 3.171 empresas do comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e higiene pessoal e 16.187 profissionais em atividade como cabeleireiros, manicures e pedicures. Em setembro deste ano, o registro saltou para: 545 estabelecimentos atacadistas de cosméticos e perfumaria; 11.764 empresas do comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e higiene pessoal e 46.374 profissionais em atividade como cabeleireiros, manicures e pedicures. Atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza subiram de 2.586 em 2019, para 16.214, em setembro de 2025. E o ano ainda não acabou. Outro destaque é a cidade de Aparecida de Goiânia, que é o 6º maior polo de produção nacional de cosméticos.
É de uma representante de Aparecida que vem a expectativa de 300% em crescimento previsto para os próximos 5 anos, citado no título desta matéria. Fundada em 2014, na cidade de Aparecida de Goiânia, pelo casal Djonata Dal Santos e Kelly Dal Santos, a Nuance Professional começou pequena com pouco recurso financeiro e apenas dois produtos no portfólio. Hoje ostenta mais de 150 criações, que são comercializadas em 20 países e está presente em mais de 800 salões cadastrados apenas em Goiânia e Aparecida, além de ser comercializada em uma das maiores redes de vendas no varejo e atacado do Estado, a Inovar Cosméticos. Acumulando as funções de CEO, fundadora e diretora de marketing, Kelly Dal Santos, diz que ela e o marido se sentem vitoriosos com a jornada e com as conquistas alcançadas. “Levar a inovação aos nossos clientes está em nosso DNA e não pretendemos parar de lançar produtos inovadores e embalagens exclusivas que levam experiência e resultado em cada aplicação do produto” ressalta.
Kelly explica que o início da empresa não foi fácil e a maior dificuldade era falta de recursos para investir na marca. “Além disso, o pouco conhecimento na área nos fez tomar muitas decisões erradas. Por fim, a dificuldade de colocar um produto novo no mercado também foi um desafio. No atual momento, contamos com o crescimento e expansão da marca no Estado, já temos um caixa bom para investir na marca, bem como o apoio da rede social no mercado digital”, relata.
A expansão é comercial e física, Kelly espera concluir em 2026 a nova planta fabril da Nuance Professional que está em construção no novo polo industrial de Aparecida de Goiânia, assim como a nova sede. De acordo com ela, a empresa é considerada de médio porte, “mas o potencial é ilimitado”, diz.
A executiva explica que apesar da expansão, os desafios ainda são grandes. Tanto em Goiás e no Brasil como um todo são os custos de logística, os preços de matérias primas e impostos são bastante altos. “Já os desafios internacionais são as barreiras regulatórias específicas impostas por cada País, as exigências de rotulagem/registro, obstáculos cambiais e a própria construção de uma presença de marca local”, argumenta.
Um shopping de cosméticos
Há exatos 27 anos, do sonho de um empresário que sempre trabalhou com o pai de deixar um negócio para as filhas, o CEO e fundador do Shopping dos Cosméticos, Robson Machado, decidiu mudar de área, saiu do ramo de alimentos e vendo que a área de cosméticos em Goiás ainda não tinha uma loja específica e exclusiva decidiu empreender. De uma pequena loja de 70 m² e prestes a abrir a 31ª loja em Goiás e no Distrito Federal, o empresário tinha uma certeza, “o desejo muito grande de fazer aquilo se tornar algo maior”, diz.
Foi em 1997 que o Shopping dos Cosméticos abriu suas portas, hoje o empresário Robson Machado e uma das filhas prepara a sua sucessão junto ao filho caçula. Porém, animado e cheio de vitalidade, ele comemora os resultados alcançados e não se deslumbra. Ele explica que o setor tem crises sim, apesar de muitos dizerem de forma inconsequente que não. E relata que como todo ramo da economia têm pessoas que se aventuram só vendo o potencial e não calculando os riscos, por isso muitos quebram. Para ele, o mercado da beleza é um dos que mais demoram a entrar em crise e sai mais rápido por ser um mercado de uso contínuo. E faz a seguinte comparação. “Quando você tá na crise, o que é que a pessoa faz? Ela vai e migrar para produtos mais baratos, mas ela não deixar de consumir. Temos a grande vantagem de morar em um Estado onde as mulheres gostam de andar muito produzidas. Onde a gente tem um clima quente, então a pessoa lava o cabelo facilmente quase todos os dias. Existem as vantagens, mas existem também as dificuldades”, ressalta.
Observando esta oportunidade das mulheres goianas de andarem bem arrumadas que ele teve a ideia do conceito de supermercado, hoje replicado por outros concorrentes, como prateleiras e gôndolas mais baixas e acessíveis, uma variedade grande de produtos que podem atender a qualquer faixa de cliente, desde a marca mais cara até a mais barata. Com consultoras treinadas para facilitar a escolha e a experimentação dos produtos, até chegar ao padrão atual.
Também empenhado em estar onde o cliente está, o empresário investiu no e-commerce do Shopping dos Cosméticos. Apesar da baixa representatividade, apenas 10% das vendas, o e-commerce é importante, diz o empresário, porque cada cliente tem uma necessidade e a expectativa é atender a maior gama possível. Por isso, o Shopping dos Cosméticos agora também está no IFood. “Aos poucos nós fomos montando esse seu cardápio de opções de vendas para oferecer para o cliente e hoje buscamos estar em um maior número de canais possível e onde faça sentido para nós”, argumenta.
O gerente de negócios da CDL Goiânia, Wanderson Lima, corrobora com a narrativa do CEO do Shopping dos Cosméticos, Robson Machado, sobre a sazonalidade e os ciclos do varejo da beleza atravessa. Lima explica que além de serem muito dinâmicos e carecerem de novidades constantes, o varejo da beleza está sujeito a todas oscilações do mercado em geral. “Agora mesmo a gente está passando por uma situação econômica complicada, com inflação alta, produtos com preços mais altos. Mas muitas vezes a pessoa não deixa de ir no salão, se ela ia toda semana, talvez ela passa a ir a cada 15 dias. A cada 30 dias. Então isso faz com que o ciclo finalize”, ressalta. Lima aponta que o maior problema é se o financeiro no salão não for bem sedimentado, e ficar refém dos picos de receita. A melhor para cada salão, diz ele, é fazer uma previsão de orçamento mais longa, já pensando nessa oscilação do financeiro, quantas pessoas estão indo, quanto estão gastando em média. “O que não pode é ficar naquele negócio, ele não dá lucro, mas ele sobrevive. Exatamente, ele sobrevive e isso não é o ideal e nem garante a perenidade do negócio”, reflete.
Lima relata que os empresários do ramo da beleza em Goiânia atravessam um momento de crise econômica e crise política. Mas ainda é possível ver crescimento no setor, muito puxado pelo e-commerce. Porém ele destaca as duas faces deste canal de vendas. “O e-commerce ao mesmo tempo que ele ajuda o empresário a estar em vários canais de vendas para qualquer lugar do Brasil ou do mundo, ele também sofre uma concorrência com isso”. No entanto, o Gerente de Negócios da CDL Goiânia, diz que Goiás, tem-se mostrado um Estado mais forte, com crescimento no varejo ainda que avançando aos poucos. “Agora, no final do ano, a gente tem as datas boas para novembro, dezembro, dia das crianças também que faz com que esse empresário ganhe um gás a mais. A gente está gerando muito emprego. E enquanto tá gerando muito emprego, automaticamente a gente gera renda e os negócios vão se mantendo” destaca.
Pequenos e o apoio da IA
Retomando os números da Juceg, no mês de setembro foram registrados como exercendo a atividade econômica de cabeleireiros, manicure e pedicure em Goiás, mais de 46 mil profissionais. Outros milhares orbitam neste mercado ainda na informalidade. Mas o segmento da beleza dá o sustento e ele também requer dedicação, comprometimento e constante aprimoramento. Fatores que profissionais autônomos e que atuam em pequenos negócios não possuem condições de realizar. Automatizar atendimentos, controlar entrada e saída estoques e realizar um pós-venda de produtos e serviços personalizado são soluções que podem ser aplicadas com o uso da inteligência artificial a custos menores, como o visagismo, que consiste na combinação de cores, corte de cabelo, maquiagem, design de sobrancelha para extrair o melhor da aparência de cada um.
A analista do Sebrae Goiás, Rhaiane Procópio relata que ainda hoje, os micro e pequenos negócios ainda vivem o medo da sobrevivência até os dois anos de abertura. Além disso, os pequenos negócios da beleza têm uma grande dificuldade, por concorrerem também com grandes empresas que chegam hoje no mercado. “É sobre a sobrevivência mesmo que a gente fala aqui no Sebrae”, aponta Rhaiane. Para sobreviver a toda essa concorrência, ela enumera a necessidade de uma gestão profissionalizada de organização financeira e controle de processo. “Só assim ele consegue fazer um trabalho realmente personalizado, individualizado para o cliente dele, vai mostrar o valor do trabalho que está sendo entregue. Hoje os pequenos empregos conseguem se diferenciar, tendo um bom relacionamento com o cliente, fazendo uma fidelização e oferecendo benefícios mais exclusivos”, resume.
Mas onde entra a IA? Seja na CDL Goiânia, no Sebrae Goiás ou no Senac, os mei, micro e pequenos empreendedores podem se capacitar para eles próprios desenvolverem suas automações, ou ter conhecimento o suficiente para contratar um profissional especializado e dizer quais são suas necessidades e como ele pode ajudar. Para muitos, a inteligência artificial é coisa do futuro, mas não é não. O texto de uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), mostra que historicamente o varejo brasileiro tem uma enorme capacidade de adaptação, porém a IA surge como uma ferramenta poderosa para impulsionar a inovação e a competitividade, especialmente para as micro e pequenas empresas. Esta pesquisa feita pela entidade em julho deste ano, com empreendedores de todo o país, mostra um cenário de paradoxo no uso da IA entre empresários brasileiros. Embora 87% dos entrevistados já conheçam ou utilizem soluções de IA, apenas 14% fazem uso efetivo da tecnologia em seus negócios. E a principal barreira para a não adoção da IA é a falta de conhecimento sobre como usá-la (52%).
Ver para crer
E foi para conhecer mais sobre ferramentas que podem impulsionar os negócios da beleza que aproximadamente 280 proprietários e profissionais da beleza participaram do Senac Beuty, no dia 22 de setembro em Anápolis. E a palestra mais concorrida e que teve a maior concentração de participantes foi a do Stefany Mendes de Souza do time da TI Senac Goiás.
De acordo com Stefany Souza, a IA é fundamental em qualquer negócio. No salão de beleza, é possível a automação de vários serviços, principalmente solucionar um dos maiores gargalos, o atendimento. Hoje é possível fazer o atendimento através de chatbot, através do WhatsApp, através de uma interação direta com o link do site. Com o uso da IA se pode automatizar esse processo fazendo com que o atendimento fique à disposição do cliente, 24 horas por dia e 7 dias por semana. Sem ocupar o profissional que está no trabalho. Além disso, a IA pode reduzir custos diminuindo o desperdício, otimizar o tempo e proporcionar crescimento sustentável. Além de atrair mais clientes para o negócio.
Ele ratifica que a inteligência artificial está aí para nos servir. “E eu tenho que olhar ela, e ver como que posso utilizar isso dentro do meu negócio. Então, como que eu posso trazer uma experiência diferente para o meu cliente? Posso utilizar a tecnologia a meu favor? Eu acredito que sim”, ressalta Souza.
Segundo Souza, essas ineficiências dos negócios da beleza resultam em 30% de perda de receita, devido a uma agenda pouco eficiente ou de papel, 25% de desperdício em estoque, gerado por produtos vencidos ou comprados desnecessariamente, e 40 horas perdidas por mês provocadas por tarefas administrativas manuais.
E os custos da aplicação da IA no meu negócio, são altos? Quando questionado sobre isso, Souza diz que não pode ser leviano e dizer que tudo é gratuito. Há custos de capacitação se a pessoa for fazer sozinha, há o custo mensal ou anual da ferramenta de IA ou de um profissional que o empresário contrate para a fazer a gestão do negócio. O que não pode é a pessoa ficar refém do medo e da desconfiança e deixar de se atualizar, porque já foi comprovado que a má gestão gera perdas de tempo e de dinheiro”, resume. As diferenças entre os negócios que vão sobreviver ou não está na disponibilidade do empresário em calcular os riscos e seguir adiante no melhor caminho que vislumbrar.