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No País de pessoas e empresas endividadas, a Copa do Mundo nos permitiu pensar que éramos ricos

Na foto: Doha, capital do Catar (Matteo Colombo/Getty Images)

Por Rondinely Leal

A bola rolou para o maior evento esportivo ligado ao futebol do mundo, a Copa do Mundo. O local não poderia ser mais apropriado em matéria de comparação com países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil (falam que é emergente, mas na minha concepção ainda não é), o Qatar. Esse país nos remete à lembranças como gênio da lâmpada mágica ou até mesmo Ali Babá e os 40 ladrões.

Nos dias dos jogos do Brasil tínhamos aquela euforia, as empresas fecham mais cedo, pois estão com o caixa em dia, os funcionários que costumam reclamar por aumento até entendem que já ganham bem demais e fazem até compras extras, os grandes centros ficam desertos, os problemas políticos desaparecem, e até aquele inimigo ideológico volta a falar comigo, e por incrível que pareça, até os hospitais diminuem o fluxo.

Em outro momento durante a copa, as imagens mostram aqueles estádios suntuosos, o camarote parece miragens do deserto, as ruas possuem até ar-condicionado nas calçadas, os arranha-céus parecem até desenho de tanta modernidade e luxo, quando as câmeras focam nos sheiks, nos sultões e nos ilustres convidados com seus Rolex e apetrechos em ouro, ficamos só admirando.

O gênio da lâmpada chamada Copa do Mundo está indo embora! E agora?

Quando comparamos com setembro de 2021, outubro teve uma leve queda no endividamento das famílias, porém nos trouxe que 79% das famílias brasileiras estão endividadas e 30% estão com contas atrasadas (Dados da CNC, Confederação nacional do Comércio). As famílias de baixa renda são as que mais sofrem com a incapacidade de honrar seus compromissos, pois precisam optar na hora de quitar um compromisso passado ou manter uma alimentação no presente. Sobre esse tema alguns cidadãos buscaram apoio jurídico através da recente lei 14.181 que atualizou o código de defesa do consumidor justamente para tratar da repactuação de dívidas e possível concessão de créditos, chamada “Lei dos superendividados”, mas sua aplicação prática parece longe da necessidade da população que continua amargando e pagando as maiores taxas de juros quando o assunto é crédito.

No caso das empresas, a situação delas é passível de vários artigos sequenciais, mas nossa intenção não é esgotar o assunto, apenas trazermos reflexões. No caso de nossa atividade industrial já tivemos a mesma participando com 30% do PIB e hoje pouco mais de 10%. O que nos resta entender claramente as políticas desastrosas vinculadas a industrialização nas últimas décadas, quando olhamos para o comércio vemos claramente a redução do poder de compra da população, oferta escassa e muito cara de crédito que poderia ajudar a aquecer a economia.

 Assim chegamos na reta final de 2022 com muitas empresas em dificuldade financeira em virtude de sequelas econômicas no pré-pandemia e posteriormente aumentadas durante, e, no pós-pandemia. Várias medidas governamentais foram tomadas durante esse tempo, entre elas podemos destacar recursos que foram liberados pelo BNDES através do FGI e também do programa para pequenas e médias, PRONAMPE. Mas tais medidas foram insuficientes e nossas empresas continuam agonizando na UTI.

Em publicação recente o Governo Federal editou a medida provisória 1.139,  de outubro de 2022 flexibilizando os contratos do Pronampe e dilatando seu prazo para 72 meses, beneficiando inclusive os contratos inadimplentes, porém até o presente o momento a caixa não atualizou seus normativos e ainda não está aplicando, restando claro a total dissintonia entre suas burocracias e a necessidade das empresas.

A nossa realidade não nos permite esquecer sequer alguns segundos de nossos problemas nacionais, locais e pessoais. Somos tidos como uma nação que vive de esperança e otimismo, acredito que este deva ser o principal combustível de um povo, porém, quando olhamos para a tela de nosso televisor em dias de jogos da copa do mundo e nos deparamos com tamanha desigualdade de imagens com nosso dia a dia dá a impressão que nossa esperança e otimismo estão muito distantes.

Rondinely Leal

Executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.

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