Palmas Empresas (TO) – Após um ano de pandemia e com o fôlego financeiro limitado, as pequenas empresas se depararam com uma interrupção da recuperação do faturamento em fevereiro, mesmo momento da chegada da segunda onda de contágio de Covid-19. No mês passado, a queda média das receitas das pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras foi de 40% em relação à pré-pandemia, retrocedendo ao mesmo patamar de agosto do ano passado. Essa piora precede o aumento da adoção pelos estados de medidas restritivas mais duras para combater o alto índice de contágio.
A última pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, a 10ª realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que o crescimento do faturamento vinha sendo mantido desde abril, o mês mais crítico da crise até aqui, quando a queda das receitas chegou a 70%. Dos entrevistados, 57% disseram estar muito preocupados com o futuro e com dificuldades para manter o negócio – ante um total de 47% em novembro.
“O efeito sanfona do abre e fecha é desastroso para a pequena e média empresa”, comenta o presidente do Sebrae, Carlos Melles. Segundo ele, a recuperação virá, de fato, com o ganho de ritmo de vacinação no Brasil, o que poderá levar a uma retomada firme para essas empresas a partir do segundo semestre. “Vemos que existe um represamento da demanda de consumo.”
Baque
Em um dos setores que mais sofreu o baque da crise, a dona da Rick Turismo, Cristiana Carvalho, teve que repensar seu negócio com a pandemia, que deixou as pessoas em casa – e sem viajar. Para movimentar a empresa, pegou carona nas “lives”, que se tornaram uma marca em tempos de isolamento social, e fez as suas com clientes falando sobres as experiências de viagens. Tomou a iniciativa de vender vouchers de viagens – o cliente pode ir pagando para realizar a viagem futuramente. “E sempre mandamos mensagens aos clientes. Quem é visto é sempre lembrado”, comenta.
Com isso, a empresa conseguiu manter algum faturamento, mas não pôde evitar um tombo de cerca de 60% das receitas em 2020. Em setembro, conta, a demanda dos clientes começou a melhorar, mas a recuperação começou a ser afetada com a nova onda. “Quando as pessoas forem vacinadas, as coisas vão voltar a ser como eram”, diz.
O vice-presidente de Pequenas e Médias Empresas e Identidade Digital da Serasa Experian, Cleber Genero, aponta que, para 2021, as empresas carregarão o aprendizado adquirido no ano passado, quando as companhias, após o susto, tiveram que correr para se inovar, digitalizar e arrumar a casa financeiramente para se manter de pé.
Para 51% dos entrevistados na pesquisa do Sebrae, a principal medida do governo para auxiliar o segmento seria a extensão das linhas de crédito como o Pronampe. Cerca de 13% apontaram a extensão do auxílio emergencial.
Para Mariane Ferreira, dona do Empório Sabor Real, a chegada do crédito foi difícil. Sem muito fôlego financeiro, a pequena empreendedora tem trabalhado com pouco estoque e fazendo suas vendas por meio de redes sociais, Whatsapp e aplicativos de entrega. “A gente acorda sem saber se o negócio vai estar vivo no outro dia. Os preços também subiram muito e eu não consigo repassar para o consumidor”, conta.
Com queda de seu faturamento da ordem de 40%, Mariane foi atrás de crédito. Buscou todas as linhas lançadas, mas encontrou as portas fechadas para sua demanda. Decidiu recorrer a um crédito pessoal, ou seja, com juros muito mais altos.