Por Edwal Portilho ‘Tchequinho’
Em maio deste ano atingimos a fabulosa quantia de R$ 1 trilhão em impostos pagos em 2021. Isso mesmo, R$ 1 trilhão saiu dos bolsos privados para o setor público em menos de seis meses. Podemos dizer que nós, contribuintes brasileiros, empresários e trabalhadores, carregamos o País nas costas.
Se observamos a indústria brasileira, no acumulado dos últimos 12 meses, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que ela encolheu 3,1%.
E os mesmos números apontam que está se faturando 16,5% a menos que se faturava em abril de 2020 – pico da primeira onda da pandemia. Já o setor de serviços perdeu 8% no acumulado de 12 meses. Se avaliarmos apenas o segmento “serviços prestados à família”, a queda, em 12 meses, é de absurdos 46,5%.
Vamos falar também dos números oficiais do comércio: nesse mesmo período, o varejo encolheu 0,3%. No ano, teve pequena alta acumulada de 0,6% – mas fechou no vermelho em três das últimas quatro pesquisas mensais divulgadas. Agora, vamos fazer uma comparação com a receita dos governos. Mesmo com as empresas no chão, nos piores patamares de crescimento em mais de uma década, mesmo assim, os brasileiros pagaram mais de R$ 1 trilhão em impostos este ano. O crescimento é espantoso. É um crescimento de economia chinesa.
Em 2020, se chegou a essa receita somente em 27 de junho. Ou seja, neste ano gastou-se 140 dias para chegar a 1 trilhão… Foram arrecadados no Brasil em 2021, R$ 7 bilhões por dia.
No ano passado, gastamos 177 dias para chegar a R$ 1 trilhão, o que significa que arrecadamos R$ 5,6 bilhões por dia. Na outra ponta, empresas estão quebrando. Números mais recentes do IBGE mostram que nos últimos doze meses, pela PNAD Contínua, 2 mil CNPJs industriais foram extintos em Goiás.
A taxa de desemprego em Goiás saltou de 9% para 13,5%, com mais de 485 mil trabalhadores procurando emprego – apesar do Caged, graças à indústria, dar um saldo positivo de quase 50 mil novos empregos no ano. Ou seja, a procura de emprego está crescendo em um ritmo maior que a geração de vagas. Preocupante, já que a geração está em nível favorável.
Enquanto isso, os governos estão nadando em dinheiro e reclamando como nunca. Sem falar que estão investindo como sempre… quase nada.
Não melhoramos nossas estradas – temos de pagar pedágio; não melhoramos nossa saúde – temos de pagar plano de saúde; nunca se gastou tanto com segurança privada e a previdência também precisa ser particular.
Na mesma proporção, o Poder Executivo, em todas instâncias, só reclama que está quebrado, falido, mas quem estão realmente falidos são empresários e trabalhadores.
Se arrecadassem menos e deixassem o dinheiro no setor privado, teríamos mais empregos, mais de vida para o trabalhador, que hoje tira da alimentação, do remédio, da educação de seus filhos para pagar imposto. De uma forma quase invisível, pois o imposto está embutido no preço dos produtos e paga-se sem perceber – um dos motivos pelos quais reclamamos tão pouco da carga tributária. Há pouco mais de 30 dias, comemoramos o Dia de Tiradentes. Há 229 anos, Tiradentes foi esquartejado, assassinado, porque rebelou contra o pagamento de um quinto de impostos, por pagar 20%. Hoje, mais de 34% do Produto Interno Bruto (PIB) é só de receita de impostos. Se somarmos ao déficit primário (3% do PIB), mais os juros da dívida (7% do PIB), 44% do PIB do Brasil sai do bolso das empresas para pagar impostos, juros e déficits de governo.
Com todo esse contexto e com a nova Reforma Tributária proposta – fraca, por sinal – vamos apenas fortalecer a injustiça tributária (o dobro pior que na época de Tiradentes) e perpetuar a péssima distribuição de renda. Aproximadamente 44% vai para a máquina do Estado e os 220 milhões de brasileiros dividem o que sobra. Pronto, está aí um a receita para se fazer um País injusto e pobre.
Vamos trabalhar diariamente para bancar um setor público caro e impassível, que enxerga nas empresas e no trabalhador, não um parceiro para o crescimento, mas o contribuinte, o pagante que mantém suas mordomias e desigualdades. Mesmo com atraso, deixo meus parabéns ao Brasil do século 18, Brasil de Tiradentes, que pelo menos teve coragem de reagir.
Edwal Portilho ‘Tchequinho’
Presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (ADIAL) e ADIAL-LOG.