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Prefeitura de Maracaju (MS) retoma área doada ao grupo chinês BBCA

Filial da BBCA em Maracaju (MS) (Reprodução/BBCA Group)

Campo Grande Empresas (MS) – A prefeitura de Maracaju resolveu colocar fim a imbróglio que se arrasta desde 2015. A gestão decidiu retirar os incentivos fiscais concedidos ao BBCA Group, grupo de investidores chineses, para a construção de um empreendimento bilionário no município. 

A área doada ao grupo, de 102 hectares e avaliada em mais de R$ 3 milhões na época da concessão, será retomada pelo município.

De acordo com o prefeito de Maracaju, Marcos Calderan (PSDB), o extenso prazo dado aos empresários chegou ao fim e, por isso, os incentivos serão retomados. 

“Venceu o prazo que constava na concessão – já passou do prazo que era para eles cumprirem com as obras e a execução do projeto – e automaticamente [o terreno] volta às mãos da prefeitura. Nós praticamente só comunicamos ao BBCA que isso vai acontecer, que a gente vai executar essa retomada da área que havia sido cedida”, afirmou ao Correio do Estado.

O grupo de investidores havia anunciado investimento de US$ 1,21 bilhão (R$ 6,3 bilhões em valores de hoje) e geração de mil empregos diretos e indiretos.

Conforme divulgado pela gestão municipal, o vice-prefeito, Mauro Christianini, que estava cumprindo agenda como chefe do Executivo, participou de reunião com os dirigentes da empresa para que fossem apresentados os planos de instalação, tendo em vista que até o momento a indústria não se concretizou no município.

Uma das cláusulas da Lei de Incentivo Fiscal é a retomada do terreno doado à empresa, que deverá ter seus trâmites burocráticos iniciados de forma imediata. 

“Cobramos solução imediata para esse imbróglio que se arrasta por anos, trazendo prejuízos ao município, que apostou nesta empresa como geradora de emprego e renda para nossa gente, agora, contando com o apoio da Câmara Municipal e do Conselho de Desenvolvimento, tomaremos medidas mais drásticas e definitivas, inclusive, exigimos que seja cumprido o que foi acordado em 2014, quando a empresa apresentou seu plano de trabalho”, disse Christianini, durante a reunião realizada na semana passada.

Os investidores asiáticos adquiriram uma área de 272 hectares para construção do que seria um complexo do segmento do agronegócio. Dos 272 hectares, 170 hectares foram comprados pelo grupo BBCA e 102 hectares, doados pela prefeitura.  

Conforme já noticiado pelo Correio do Estado em agosto de 2021, dos 170 hectares comprados pelo grupo, 50 hectares teriam sido vendidos pelos chineses a outros moradores de Maracaju.

Ainda segundo fontes locais, a administração municipal teria investido em torno de R$ 7 milhões para viabilizar o megaprojeto da multinacional, contando a doação dos 102 hectares (avaliados em R$ 3,07 milhões na época) e a construção de uma estrada de acesso aos armazéns do BBCA Group.

OBRA

O grupo BBCA chegou a construir, dentro dos 170 hectares comprados, dois armazéns graneleiros, barracões e um secador, utilizado na secagem de grãos como soja e milho após a colheita.  

Conforme apurou a reportagem, na época das negociações, entre 2013 e 2015, a prefeitura de Maracaju teria desapropriado outro terreno para ceder ao BBCA, cerca de 86 hectares ao lado da área que os chineses já teriam adquirido, em razão do terreno desapropriado ter acesso a um rio.  

“Sabemos que grandes empresas são importantes para o desenvolvimento dos municípios, e Maracaju merecia um grande projeto como este. Mas é preciso ter muita cautela quando são grupos de fora, de outros países. E quando envolve valores tão altos como os que foram investidos nessa indústria do BBCA”, disse um morador que preferiu não se identificar.

“Hoje está tudo abandonado em uma grande área onde poderiam estar funcionando pequenos negócios, girando a economia da cidade. A administração da época poderia ter investido no próprio município, em vez de investir em um projeto fantasma”, complementou o morador.

A estrutura que deveria abrigar a megaindústria foi alugada. Trabalhadores do município confirmam que desde 2020 os armazéns e o barracão do bilionário grupo chinês foram locados pela Lar Cooperativa Agroindustrial, informação que também foi confirmada pela gestão estadual. 

Questionada sobre o período de vigência do contrato, a cooperativa ressaltou que não se pronunciaria.  

TRATATIVAS

As tratativas do grupo chinês com as gestões estadual e municipal começaram ainda em 2013. Em 2015, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) formalizou a parceria do Estado com os investidores do BBCA Group e o Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank – CDB), este último sendo o financiador da indústria esmagadora de grãos.  

O governo do Estado, que era entusiasta do empreendimento, já havia desistido de cobrar os empresários, conforme informado pelo Correio do Estado em agosto do ano passado.  

“Na minha avaliação, eles devem ter errado muito na estratégia deles e eu não acredito que eles venham a ter o empreendimento que tinham sinalizado lá atrás. Eu não acredito que no curto prazo retomem aquela obra do BBCA. Se retomarem, que é o que eles estão sinalizando, vão retomar com um processo menor do que eles planejavam”, disse o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, em agosto de 2021.  

A fábrica de Maracaju seria uma unidade industrial química a partir do processamento do milho e da cogeração de energia. Segundo informado em 2019, a primeira unidade consumiria US$ 100 milhões em investimentos. 

O restante dos investimentos – superiores a US$ 1 bilhão – seriam aplicados na fabricação de produtos químicos voltados à indústria alimentícia e de embalagens. A estimativa era de processar 1,2 milhão de toneladas de milho.

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