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Quantos por cento de nossas vidas são a crédito?

(Pexels)

Por Sandro Souza

Porque “vidas a crédito”? Quando li o livro do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que utiliza o conceito de “Modernidade líquida” como forma de explicar como se processam as relações sociais na atualidade, percebi o quanto nossas vidas estão sustentadas por essa forma tão antiga e importante de moeda. É isso. O “crédito”, uma forma de moeda, que aparente parece nova, porém ela nasceu há muito tempo. Vamos voltar no tempo…

A humanidade esteve presa nessa encruzilhada por milhares de anos, e os acordos de crédito de um tipo ou de outro existiram em todas as culturas conhecidas voltemos à antiga Suméria, que (+) de 5000 anos atrás os Sumérios, Babilônios, Romanos… Já utilizavam o crédito como forma de financiar as obras de infraestrutura, agricultora e outras. Porém, existia uma grande desconfiança com o futuro, pois naqueles tempos em que grandes guerras, pandemias, problemas climáticos, dentre outros afetavam as populações.

Porém, 3.500 A.c. houve primeiros aportes para fins agrícolas – nesse momento os indícios de concessão de empréstimos.

1800 A.c., já com várias inciativas de empréstimos já presentes, o Código de Hamurabi, na Babilônia, surge formalizando as primeiras leis conhecidas sobre crédito, com taxas de juros máximas que poderiam ser usadas legalmente.

O crédito necessário que permitia construir o presente à custa do futuro, não era tão simples, pois não confiavam que o futuro seria melhor que o presente.

Entretanto, o crédito continuou sendo concedido, de forma ainda muito tímida. E lá por volta do ano 800 D.c. Pós colapso do império Romano.

​Na Europa, a atividade econômica foi interrompida, sob o governo de Carlos Magno (768-814 D.c) a igreja proibiu a usura, prática de cobrar juros sobre empréstimos. Essa proibição a cobrança de juros, que naquela época era considerado crime e pecado, “claro com fortes influências da Igreja”, trouxe novos percalços nas inciativas e portanto, o crédito passou por uma fase inconstante e somente nos anos de 1500-1600 era da expansão marítima e comercial com expedições marítimas o crédito voltou a ser importante, pois a confiança que era a base da concessão, passou a ser mais real e no retorno das expedições pagava-se o crédito tomado com mercadorias como especiarias e pedras preciosas. A partir desse momento, na Europa, iniciou um período grande da expansão do crédito. As missões comerciais exploravam terras distantes os navegadores pegavam crédito para realizar as viagens com promessa de devolver depois em mercadorias.

A nova fronteira do crédito

Nos últimos 500 anos, a ideia de progresso fortaleceu a mentalidade das pessoas a confiarem cada vez mais no futuro. Essa confiança gerou crédito; o crédito trouxe crescimento econômico real; e o crescimento consolidou a confiança no futuro e abriu caminho para ainda mais crédito.

Dentro desse contexto, houve uma migração de sociedade de agricultores, produtores e atualmente de consumidores, onde: “O desejo do consumo existe em todos os grupos sociais, mesmo que nem todos possam atendê-lo Zygmunt Bauman chega a sugerir que as lojas fossem denominadas farmácias, porque oferecem remédios para variados males. Está triste? Compre! Está eufórico? Compre! Está com tédio? Compre!” Na verdade, o que acontecia era uma transição da sociedade “Sólida” de produtores para a sociedade “Líquida” de consumidores. Ainda segundo Bauman. Objeto das operações de crédito, não é só o dinheiro pedido e emprestado, mas o revigoramento da psicologia e do estilo de vida de “curto prazo”.

O grande historiador Yuval Noah Harari conceituou que “Todo comercial de televisão é mais uma pequena lenda sobre como consumir algum produto ou serviço tornará a vida melhor.” Harari ainda afirma que “toda iniciativa é, portanto, baseada na confiança em um futuro imaginário.”

Porém não é só de flores que a vida a crédito vive, segundo Eduardo Gianetti, economista e professor, Ele conta, no livro “O valor do amanhã”, que, no sul dos Estados Unidos, o acesso da população negra ao mercado de crédito deu contornos ainda mais definidos ao problema. As taxas de juros pagas pelos americanos ex-escravizados no início do século XX eram da ordem de 40% por semana. O abuso desse “filão de mercado” pelos setores mais “competitivos” do sistema bancário levou a um Ato Legislativo (Lei geral dos pequenos empréstimos) criado em 1916, adotada por mais de 20 estados, fixando 3,5% a.m.

Agora voltou a te perguntar, quantos por cento de nossas vidas são a crédito???

Espera aí que eu te responderei, se tenho o contrato de internet em casa e telefone, abastecimento água, energia elétrica, taxa de condomínio, aluguel, seguro do carro/casa, se tenho um cartão de crédito, se tenho financiamento do carro, casa, compras parceladas. paguei a vista para tê-los? Não tudo é crédito!!! O crédito faz parte de nossas vidas a muito tempo, não há dúvidas que isso é real? E as novas mudanças que chegaram como cadastro positivo que em breve terá informações de toda nossa “Vidas a crédito” e ainda com a chegada Open Banking em nossas vidas onde a relação com as instituições financeiras mudaram significativamente, onde as informações do Cadastro Positivo em que os consumidores com seus behavior de crédito considerados bons com seus altos Scores terão mais crédito e mais baratos e passarão a serem cada dia mais assediados por condições ainda melhores.

​​Enfim, vivemos em mundo de constante mudanças, como sempre! Há dúvidas que nossas vidas serão ainda mais a crédito!!!

Sandro Souza

Administrador, MBA Projetos – FGV. Especialista em Gestão Financeira e Planejamento Orçamentário em operações de Crédito e Cobrança, Cursos de extensão em Inovação Estratégica – INSPER, Negociações de Sucesso – Estratégias e Habilidades Essenciais – University of Michigan, Gestão Para Resultados – Falconi Consultores, Metodologia Ágil e Framework Scrum – IPOG.

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