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Seguro, no alto e além

Crédito: Silvio Simões

Na última década, as edificações de Goiânia ganharam cada vez mais pavimentos e por consequência, altura. É muito fácil hoje encontrar prédios com mais de 40 andares, sejam residenciais, corporativos ou que tenham ambas as funções. Segundo um texto divulgado no portal da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), no mês de abril deste ano, a justificativa para os empreendimentos cada vez mais altos é a escassez de solo e o espraiamento das cidades. Um relatório da ONU aponta que, até 2050, cerca de 2,2 bilhões de pessoas vão viver nas cidades. Para acomodar esses cidadãos, uma das soluções são os prédios altos, os quais requerem tecnologia, planejamento e pessoas para erguê-los. E, sem segurança, não há avanço, muito menos para o alto.

Por mais que pensemos em Goiânia, pois é na Capital onde se concentram os prédios mais altos do Estado e, alguns da região Centro-Oeste, a indústria da construção civil avança também para o interior. Cidades do Sudoeste Goiano, Sul e da região Metropolitana de Goiânia experimentam um potente crescimento vertical. Não há pesquisas apontando a totalidade, de quantos e onde esses novos empreendimentos estão localizados, porém, é visível. Quanto mais alto, mais chamam a atenção. Para atender sua missão, o Serviço Social da Indústria em Goiás (Sesi-GO), que faz parte da Federação da Indústria de Goiás (Fieg), que é garantir ambiente de trabalho seguro e trabalhadores saudáveis, inaugurou no mês de setembro um Centro de Treinamento em Saúde e Segurança do Trabalho, na Unidade Integrada Sesi/Senai Aparecida de Goiânia e outro, em Itumbiara. A perspectiva é inaugurar, até o fim do ano, outros Centros de Treinamento nos polos de Jataí, Rio Verde, Minaçu, Niquelândia e Catalão.

O destaque para estes CT’s de Segurança de Trabalho é que eles são destinados ao atendimento das Normas Regulamentadoras (NRs) 33 e 35, que tratam do trabalho em altura e em espaços confinados, respectivamente. Apenas o de Aparecida de Goiânia custou R$ 453 mil e a previsão de investimentos após a implementação de todos os CT’s é de R$ 3 milhões. Cada centro é destinado a promover a melhoria da qualidade de vida no ambiente laboral e ajudar as empresas a atenderem exigências específicas da legislação. O presidente da Fieg, Sandro Mabel, disse em Aparecida de Goiânia que o trabalhador treinado nas capacitações e cursos oferecidos pelo Sesi /Senai corre menos risco de se machucar, produz mais e de acordo com todas as normas legais.

O diretor de Saúde e Segurança do Sesi em Goiás, Bruno Godinho, explica que a construção dos CT’s nas regiões Sul e Sudoeste goianas é reflexo do crescimento econômico do agronegócio. A economia forte produz nos municípios dessas regiões um desenvolvimento experimentado em vários segmentos, além disso atrai trabalhadores para estas cidades e todos precisam de moradia. Fato que levou muitas construtoras de Goiânia a erguerem projetos verticais também no interior do Estado, onde há um terreno fértil para o crescimento imobiliário.

Bruno ressalta que o trabalho do Sesi nesses CT’s vai além da capacitação em normas regulamentadoras. Desde o ano 2000, as equipes do Sesi Goiás desenvolvem ações de segurança do trabalho que passam pelo Programa de Gerenciamento de Risco, pelo Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Nesses locais é possível fazer todos os laudos técnicos, laudos de insalubridade, laudos de condições ambientais, laudos de periculosidade. Nos CT’s uma empresa garante com precisão e seriedade obter todos relatórios e laudos que ela necessita, para validar o que já faz corretamente, otimizar o que precisa e ampliar os bons resultados. Além dos Centros de Treinamento de Saúde e Segurança do Trabalho, o Sesi-GO mantém uma série de programas que visam atender a indústria e seus colaboradores a fim de promover, a segurança, capacitação profissional, saúde e bem-estar.
Neste ano de 2023, o Sesi-GO completa 70 anos e a comemoração ocorre durante todo o ano, com inaugurações, novos projetos em implantação, além da realização de atividades que promovam o lazer, o desenvolvimento sustentável e saudável da indústria goiana.

O presidente do Sistema Fieg, Sandro Mabel e o diretor de Saúde e Segurança do SESI em Goiás, Bruno Godinho na inauguração do CT de Aparecida (Crédito: Alex Malheiros)

Alta tecnologia

Um dos segmentos que voltou a crescer com força depois da pandemia foi a construção civil. “Todo dia tem uma planta nova que inicia a construção em Goiânia. Isso é geração de trabalho, de riqueza e a missão da Fieg/Sesi/Senai é promover condições para que esta indústria cresça da melhor forma possível. É preciso atender a legislação vigente de segurança aos trabalhadores responsáveis por colocarem esses prédios de pé, independente da altura, porque isso é benéfico para toda a sociedade”, diz Godinho.

Aliada à crescente demanda da construção civil está a de construir arranha-céus. Este tipo específico de prédio requer alta tecnologia e trabalhadores capacitados. Para atender as essas necessidades de treinamento de alto nível, Bruno Godinho diz que o Sesi Goiás está desenvolvendo uma capacitação com realidade virtual, cujo lançamento deve ser feito até o fim do ano. Ele explica que o uso de simuladores e tecnologias 3D serão empregadas para que o profissional tenha um treinamento mais “real”, em um ambiente controlado para se preparar adequadamente até para os momentos de imprevistos.

O uso de epi’s é fundamental para a segurança do trabalhador (Crédito: Sílvio Simões).

Trabalho incansável

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon), Cézar Mortari, diz que a construção dos centros de treinamento é uma reivindicação antiga do sindicato ao presidente da Fieg, Sandro Mabel. Uma vez que ir para o interior é uma necessidade real. Porém, ele aponta que é preciso mais CT’s em regiões estratégicas de Goiânia, uma vez que a principal escola fica na Vila Canaã. Crítica à parte, ele elogiou o fato do Sesi/Senai também oportunizarem os treinamentos nas empresas/canteiros, pois proporciona uma universalização do conhecimento.

Mortari entende que, assim como a tecnologia empregada na construção civil permite novas aplicações, como a migração do uso de andaimes para plataformas elevatórias, os treinamentos precisam ser melhores, mais acessíveis e em maior quantidade. “O objetivo geral é a busca do acidente zero. Até porque em altura, um acidente normalmente é uma fatalidade. Então nós estamos atentos a isso e o Sinduscon tem incentivado vários workshops nesse sentido”, completa.

O presidente do Sinduscon acrescentou a necessidade de se falar e fazer mais pela segurança em altura. “Isso tem que prosseguir cada vez mais, porque é um assunto que tem que ser falado o tempo todo. Nunca a segurança é total, então ela tem que ser a melhor, a maior possível para que a possibilidade de qualquer acidente acontecer seja reduzida ao máximo. Por isso, o trabalho tem que ser incansável”, enfatiza.

Segurança do Trabalho em Goiás

O cenário da segurança do trabalho em Goiás não está muito positivo. Por mais que as tentativas de entidades, dos órgãos reguladores e fiscalizadores sejam de promover capacitações, treinamentos e monitoramentos, ainda é grande o desrespeito às normas regulamentadoras. Essa realidade pode ser comprovada pelo altíssimo número de autos de infração lavrados em segurança e saúde no trabalho (SST). Apenas até o dia 9 de outubro de 2023, foram registrados em Goiás 1.776 autos, enquanto em todo ano de 2022, 1.756 autos. A fonte dos dados é do painel de informações e estatísticas da inspeção de segurança do trabalho no Brasil, o Radar SIT.
Desmembrando estes autos, tivemos: 56 mortes, destas 52 de homens e 4 mulheres. Destes, 41 trabalhadores tinham abaixo dos 50 anos de idade. Segundo informações do e-Social, do total de acidentes de trabalho comunicados até 9 de outubro: 209 foram de doenças no trabalho, 6.333 acidentes de trabalho típicos e 243 acidentes de trajeto no setor de transporte.

Veja os gráficos gerados a partir dos dados acima:

Fonte: SRTE-GO/RADAR SIT
Fonte: SRTE-GO/RADAR SIT

A Auditora Fiscal do Trabalho e Chefe do Setor de Fiscalização de Segurança e Saúde no Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho em Goiás (STRE-GO), Jaqueline Felix e Souza disse que, infelizmente, os números são resultados dos flagrantes dos auditores e que os dados de 2023 já estão muito altos, principalmente se comparados a 2022. Segundo ela, estes dados são o resultado da precarização das relações de trabalho após a reforma trabalhista. “Nós estamos com apenas 12 auditores fiscais, o menor número em 25 anos. Mesmo assim, onde nós conseguimos entrar, onde nós podemos fiscalizar, nós encontramos essas irregularidades, em especial na parte de segurança e saúde no trabalho. E nós não registramos problemas referentes a legislação, então o problema pode ser ainda maior”, argumenta ela.

A auditora fiscal do Trabalho, Jaqueline Felix diz que obedecer as normas é fundamental para a segurança (Crédito: Arquivo pessoal).

Jaqueline destaca outro ponto importantíssimo: que dentre as 56 mortes, 41 foram de trabalhadores abaixo dos 50 anos, ou seja, pessoas economicamente ativas. “Quando acontece um acidente fatal ou incapacitante, há um empobrecimento em cadeia, na família da pessoa, para a União, para o Estado e para o município. Há uma perda de forma geral para a sociedade”, relata a auditora. Há inclusive, casos de empresas que chegam a ser fechadas devido à gravidade das infrações cometidas, as impede de permanecerem abertas e de pagar as multas geradas pelos problemas apresentados.

A auditora também ressalta que é observado um grande número de acidentes de trabalho nos setores de transporte, máquinas e equipamentos e, na construção civil. Como mostra o segundo gráfico. Jaqueline diz que a solução do problema, principalmente na construção passa pela retomada eficiente das relações de trabalho, a fim de diminuir a precariedade, deve ser feito um bom plano de gerenciamento de riscos ocupacionais nas obras que vai à fase do projeto ao acabamento da obra. “A partir do momento em que há essa implementação, há o gerenciamento de riscos ocupacionais correto, com os devidos planos de ação, é possível diminuir e até eliminar por completo os riscos”, acrescenta. Questionada sobre o trabalho em altura, ela diz que os problemas nos canteiros se apresentam de forma geral. Porém, quando se ocorre um acidente no alto o risco de fatalidade ou incapacidade é maior a necessidade de mitigar os riscos.

Mas e o EPI, faz muita falta? Jaqueline explica que o fornecimento de EPI é uma das últimas medidas da NR35. “É essencial começar com as medidas administrativas organizacionais, depois fornecer a proteção individual, que aliados aos treinamentos, fazem a diferença”, destaca. A auditora também ressalta a importância das auditorias, dos centros de treinamentos e capacitação para melhorar as condições de trabalho nos canteiros de obras. “Eles auxiliam bastante, é uma iniciativa muito válida porque, nós precisamos é que todos os trabalhadores tenham acesso à educação e sejam informados dos riscos aos quais eles estão expostos. Se aquele trabalhador tiver a consciência de que tem esse direito junto à norma, ele pede para não trabalhar em uma situação de risco grave e iminente, ele não se sujeita”.

No alto do empreendimento da GPL, um funcionário realiza o trabalho em segurança (Crédito: Sílvio Simões).

Planejar para garantir a segurança

Uma das construtoras de destaque no mercado goianiense, a GPL Incorporadora não brinca quando o assunto é segurança dos seus funcionários, tanto que é uma empresa com o certificado Great Place To Work. O diretor Técnico da GPL, Daniel Antonio do Carmo Franco, diz que desde a concepção do produto, toda a viabilidade técnica é planejada, desde a tipologia do empreendimento que a área comporta, até a visibilidade que se pretende ter com a obra. Em paralelo a este planejamento é feito o projeto de gerenciamento de riscos. “Realmente a gente busca fazer muita coisa para que nossos funcionários entendam a importância que é a segurança dentro do ambiente de trabalho, que a empresa dá aos colaboradores e, também, quando ela tem esse cuidado de capacitar as pessoas”, explica.

A Coordenadora de Segurança do Trabalho e Ações Sustentáveis da GPL Incorporadora, Danielle Alves dos Santos relata que hoje o mercado de trabalho não tem espaço para as pessoas que não querem se comprometer com a parte da segurança. Ela explica que a empresa investe em segurança e em capacitação, mas ressalta que o funcionário preciso ter, além do comprometimento deve aplicar os conhecimentos apreendidos no canteiro. Além disso, a empresa também passa por constante reciclagem para se adequar a evolução da norma e dos equipamentos de segurança.

De acordo com Daniel, em 2022 houve uma alteração na NR35, que já está sendo adotada pela GPL. Ele também explica que a empresa, não para e acompanhou a evolução tecnológica, com foco para melhoria da segurança do trabalhador em altura. Um exemplo foi a substituição das bandejas pelas telas de fio a fio, que segundo ele, são mais seguras e confortáveis. A empresa investe de 1% a 2% do valor da obra em segurança do trabalho e treinamento.

O Diretor Técnico diz que a GPL tem cerca de 500 funcionários entre os espalhados pelos canteiros e administrativo. Em cada canteiro, há um responsável pela segurança do trabalho, que verifica o trabalho, treina e auxilia no que é necessário para aplicação das normas. Além disso, a empresa tem um programa, o Capacete Dourado, que premia o funcionário que mais se destaca na obra. “Hoje em dia, os canteiros estão mais limpos, organizados, a busca por um ambiente mais saudável de trabalho e mais seguro, a ponto de um cobrar do outro o uso do EPI. Então, eu vejo uma rede maior de contribuição e de engajamento pois, os resultados lá na frente serão melhores para todos”, comenta ele.

Danielle lembra que a GPL está com um empreendimento em Rio Verde, e que ter um centro de treinamento do Sesi Goiás no interior é fundamental para ter nos municípios, funcionários com a mesma qualidade que se tem em Goiânia. Segundo ela, esta capacitação em altura é especificamente mais escassa no interior e a necessidade já começa a existir. Então, é uma praticidade a mais para as construtoras que cumpram a norma com perfeição.

Há quase 20 anos na Consciente, Erly Marques cuida da segurança dos trabalhadores (Crédito: Silvio Simões).

Cuidar para permanecer

O Engenheiro Mecânico e de Segurança do Trabalho, Erly Marques, trabalha na Consciente Construtora e Incorporadora, há quase 20 anos e a construtora foi fundada há 40 anos. Nestas quatro décadas de trabalho intermitente a empresa nunca registrou uma morte em seus canteiro, garante o engenheiro. Ele justifica a ausência de mortes à cultura de treinamento e de valorização do trabalhador que a empresa possui. “Quando um novo funcionário entra na empresa ele já é treinado e posteriormente cobrado para se adequar ao modo Consciente de trabalhar, com responsabilidade e engajamento”. Além do treinamento, ele destaca a importância de seguir o plano de gestão de riscos com fidelidade para reduzir ao máximo a ocorrência de acidentes, principalmente em altura.

Erly explica que em cada obra há um responsável pela segurança do trabalho e independentemente da quantidade de funcionários por canteiro, pois a meta é agressiva a fim de reduzir acidentes. “Sabemos que acidentes acontecem, mas fazemos o máximo para evitar. Além dos treinamentos passamos por contínuos processos de reciclagem”, argumenta. Por facilitar esses treinamentos aos trabalhadores e às empresas é que o engenheiro de segurança do trabalho diz que a construção desses CT’s é importante. Ele diz que ainda não utilizaram os treinamentos corporativos, mas que essa solução é bastante interessante e ressaltou a parceria de longa data que mantém com o Sesi-GO. “Utilizamos a academia, a escolinha, o clube, vários serviços e atividades de lazer fruto desta parceria. E vejo que esta modalidade de treinamentos corporativo/canteiros é muito importante para empresas que não tem condições de treinar seus funcionários ou de enviá-los para treinamento fora. O mais importante é obedecer e respeitar as normas de segurança”, justifica.

Outro ponto comentado por Erly que contribui para a segurança e o bom ambiente de trabalho são as oportunidades que o funcionário tem de crescer dentro da empresa. “Nós temos uma filosofia de valorização do funcionário, pagamos um salário acima da média e procuramos reter os nossos talentos para que eles queiram permanecer na Consciente. Temos muitos exemplos de pessoas que estão aqui há mais de 20 anos e pretendem se aposentar aqui. Um exemplo é o nosso diretor de Engenharia que começou no almoxarifado”, completa.

A ascensão de Maria Géssica na Consciente é tão rápida quanto a construção de um prédio (Crédito: Silvio Simões).

Rumo ao topo

Em apenas um ano e quatro meses de trabalho, a Auxiliar Técnica de Segurança do Trabalho da Consciente Construtora e Incorporadora, Maria Géssica Rodrigues dos Santos, começou na empresa como estagiária e agora se prepara para assumir como Técnica de Segurança do Trabalho. Para ela, o céu é o limite. Animada com o trabalho, conserva o sorriso no rosto e se mantém firme ao ministrar treinamentos para vários grupos de funcionários homens e bem mais velhos que ela.

Motivada, ela diz que a empresa é um excelente lugar para trabalhar. Sob o ponto de vista da segurança do trabalho, ela diz que a Consciente se preocupa muito com a qualidade de segurança do trabalhador, que treina, orienta e oferece boas condições dos funcionários exercerem bem suas funções. “Principalmente para trabalhar em altura requer mais cuidado. Não basta chegar, dar o cinto de segurança e dar o EPI. A gente treina aquele trabalhador desde o início e a empresa disponibiliza todos os equipamentos. Vejo aqui consciência e preocupação com a saúde e a segurança do trabalhador”, conclui.

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