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Selic vai a 13,75%, a maior taxa dos últimos sete anos

Foto: Reuters/Bruno Domingos

Campo Grande Empresas (MS) – Pela 12ª vez consecutiva, a taxa básica de juros, a Selic, foi elevada pelo Comitê Nacional de Política Monetária (Copom). Com aumento de 0,50 ponto porcentual, o juro básico foi a 13,75% ao ano. O juro se iguala à taxa praticada de novembro de 2016 a janeiro de 2017, conforme os dados do Banco Central (BC).

A Selic subiu 11,75 pontos porcentuais desde a mínima histórica de 2,0% – que vigorou até março de 2021. Esse é o maior choque de juros desde 1999, quando o banco elevou os juros em 20 pontos de uma só vez. Em comunicado, o Copom sinalizou para uma nova alta de 0,25 p. p. em setembro.  

O indicador é utilizado como parâmetro para a manutenção das principais regras de financiamento do País. A elevação segue a tendência anunciada pelo BC no fim de 2021, quando o presidente Roberto Campos Neto disse que a alta seria intensificada após as medidas do governo federal de injetar dinheiro na economia para evitar uma recessão ainda mais forte.  

O principal objetivo com os aumentos é deixar o crédito mais caro ao consumidor, para reduzir o consumo e frear a escalada da inflação.

Segundo o doutor em Economia Michel Constantino, era esperado que esta fosse a última alta do ano.

“É importante destacar que na próxima reunião, em 21 de setembro, esse diagnóstico será mais preciso, pois teremos o real efeito nos preços por redução de impostos e aumento de auxílios”.  

A inflação já deu uma arrefecida em junho, e o movimento deve ser o mesmo em julho – o indicador do mês passado ainda não foi divulgado. Mas o principal motivo para a queda foi a redução de impostos, que acabou diminuindo preços de combustíveis e energia elétrica.  

“Com os produtos mais baratos, consequentemente temos uma queda da inflação. É um conjunto de fatores que ajudam nessa deflação. Mas, por outro lado, possivelmente aumentará o rombo nas contas do governo”, avalia o economista Marcio Coutinho.  

“E para o governo segurar esse rombo, como é que ele capta dinheiro? Aumentando os juros. Uma conta fecha a outra, a inflação diminui e a dívida aumenta”, completa.

Conforme o assessor de Investimento da Safra Investimentos, Eliseu Nantes, a única certeza é de que o ciclo de aumentos está no fim. Para ele, a situação que o Brasil atravessa é muito parecida com a dos Estados Unidos, também na fase final de elevação dos juros.

Para 2023, o especialista prevê uma retração da taxa.  

“A ideia é que no ano que vem, de fato, a gente tenha um recuo na Selic. Tudo vai depender do comportamento da inflação”.  

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial de Campo Grande foi medida a 0,64% em junho, contra 0,67% da nacional. No acumulado dos 12 meses, o Brasil está com inflação de 11,89% e Campo Grande mede 12,06%.  

“É fato que essa repercussão na inflação vem em quatro ou cinco meses. Então, o governo está enxergando lá na frente. Quando ele altera a taxa de juros, ele está sempre vendo o futuro, apostando na queda da inflação. Com certeza vai frear a inflação”, reforça Coutinho.

DEFLAÇÃO

Segundo o Boletim Focus do fim de julho, a expectativa para a inflação é de queda. Um mês antes, o material previa IPCA em 7,96% em 2023. Atualmente, essa métrica caiu para 7,15%.  

No caso da taxa Selic, as perspectivas foram mantidas em 13,75%. Para 2023, a expectativa é de terminar o ano em 11%; em 2024, em 8%; e para 2025, 7,5%.  

Já a inflação deve convergir para o centro da meta em 2023 e atingir 5,33%. Para 2024 e 2025, a expectativa é de 3,3% e 3%, respectivamente. Essa redução nos indicadores de inflação esperados pelo boletim são resultados de uma política monetária anticonsumo.  

Constantino comenta que a alta da Selic já está surtindo efeito na inflação, em conjunto com a redução de impostos.  

“Porém, o indicador de intenção de consumo está aumentando com a melhora do mercado de trabalho, e tudo isso será levado em conta para avaliar a Selic”.

Já o mestre em Economia Eugênio Pavão comenta que esse efeito é sentido em diversas economias pelo mundo. “A alta de taxas de juros faz com que, em um movimento recessivo, a economia freie e a inflação caia. A velocidade dessa queda pode ser abrupta ou gradual, conforme o setor privado responde, reduzindo investimentos, contratações, etc.”, explica.  

Ele classifica ainda que a queda gradual se dá com a alta progressiva e lenta dos juros, a tática usada pelo BC nesta série. A queda abrupta se dá com altas expressivas de juros, movimento também notado por alguns especialistas que consideram os patamares de juros muito elevados.  

No entanto, alas do mercado consideram que o efeito da alta da Selic foi mitigado pelos benefícios e corte de impostos dados pelo governo federal, esfriando a força com que a inflação desacelera.  

Como Eliseu Nantes revelou ao Correio do Estado, essas alas consideram que ainda haverá altas um pouco menos expressivas nas próximas reuniões. Alguns analistas, segundo ele, trabalham com a Selic em 14% até o fim do ano.

INVESTIMENTOS  

Apesar de a alta da Selic já estar consolidada pelo mercado, ainda é possível sentir insegurança de investidores na hora de aportar dinheiro com tanta turbulência no mercado.  

Eliseu Nantes, da Safra Investimentos, comenta que, por estarmos no fim de um ciclo de alta de juros, o efeito disso nas aplicações de curto e médio prazo já está muito menor e com tendência de cair.  

“Lá em meados de fevereiro e março, a realidade seria outra. Como o mercado financeiro já vai antecipando coisas que acontecerão no futuro, ele já está se comportando a uma série de indicadores que começaram a tentar buscar a normalidade”.

Segundo ele, no começo do houve um fluxo de capital saindo da bolsa americana e da bolsa brasileira e indo para a renda fixa.

“Agora já começa a acontecer o contrário. De pouquinho, mas já começa a acontecer. A renda fixa, por conta da Selic, ficou altamente atrativa, ainda está, principalmente a Selic de curto prazo”, revela.  

Ele conta que existem ainda títulos de renda fixa pré-fixados, com taxas de 14% ou 15% ao ano, mas que não se deve retirar a atenção de títulos de renda variável.

“Ainda está atrativa, mas já foi melhor. Eu acredito que agora já é um momento de ficar esperto com a bolsa, porque você tem muitos ativos baratos”.  

Nantes ainda comenta que o cenário está chegando a um ponto de atenção muito importante. O aporte em ativos de renda fixa devem ser pensados com clareza, pois ele cita a eleição no segundo semestre, que se mostra um período de grande volatilidade na Bolsa de Valores.  

“Já é o momento de começar a fazer entradas pontuais, porque com um cenário já em um certo esgotamento, ou seja, curva de juros já próxima do fim, a inflação já começando a regredir, daqui a pouco o mercado de renda variável começa a valorizar. E para não entrar atrasado nisso é bom começar a se posicionar”, finaliza.  

Maior juro real entre 40 economias mundiais

Com o novo aumento da Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. 

Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,52% ao ano, mais do que o dobro do segundo lugar da lista, o México (4,20%).

14% ao ano

O Banco Central deixou ainda a porta aberta para mais um reajuste de menor magnitude na próxima reunião. Com isso, em setembro, a Selic pode chegar a 14% ao ano. 

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