Por Leandro Resende
A WAM Brasil é jovem, seis anos, e até por isso nem todos goianos a conhecem. Questão de tempo. No entanto, os primeiros capítulos da trajetória dos Palmerstons e sua influência na formação e expansão do turismo regional do País não têm como esconder. Foram nas mãos desta família, que entra agora na quarta geração dedicada ao setor, que surgiu a Pousada (hoje Rio Quente Resorts), a qual vendeu nos anos 80, e também o Grupo Prive, uma das empresas da WAM, líder absoluta no segmento de multipropriedades no País. O desafio atual: a internacionalização. Melhor não duvidar que em dois ou três anos a bandeira de Goiás, via WAM Brasil, vai estar fincada em Orlando, Miami ou Lisboa.
Questão de tempo.
Em entrevista exclusiva à Leitura Estratégica, Waldo Palmerston (Waldinho), relata a história da família, da ligação com Caldas Novas e Rio Quente, dos passos para formação da WAM Brasil e dos projetos em execução e consolidação no Brasil e também do futuro, que, admite, é a internacionalização do grupo. Em sua quarta geração no negócio, vale aos Palmerstons o preceito da pérola, que, antigamente, estava ligada à força fundamental da vida. O valor está em seu brilho. Nos olhos de Waldinho, a WAM brilha, reluz à distância – aliás, além das fronteiras brasileiras. Confira a seguir os principais trechos de mais de duas horas de conversa sobre história, família e negócios:
Como começou a trajetória da WAM Brasil?
WALDO PALMERSTON: Toda nossa origem no turismo começou em Caldas Novas. Meu avô era médico e cirurgião na cidade e em toda a região. Depois mudamos para Araguari (MG), onde nasci. Quando meu avô faleceu, meu pai começou todos os negócios em Caldas Novas. Mas antes, meu avô fez um negócio que chamou a atenção na época. O pessoal falou: “Ué, o doutor Ciro está doido? Ele se desfez de algumas fazendas e comprou uma área muito ruim, cheia de morros só porque tem um ribeirão com água quente lá dentro”. Foi um visionário. Sua estratégia mudou o rumo do turismo no Brasil central, no interior do País. Hoje é a cidade de Rio Quente. Para você ter uma ideia do tamanho desta área, tínhamos de Morrinhos a Caldas Novas 50 mata-burros. Eram 60, 70 quilômetros de terra…
Lá surgiu a Pousada do Rio Quente, hoje Rio Quente Resorts?
W.P.: Exato. Meu pai começou em 1964. Ele ainda era funcionário do Banco do Brasil, em Brasília. Ele chamou os irmãos e falou: “Vamos fazer esse negócio aqui. Vocês vendem 200 títulos em Goiânia e eu vendo 200 para os meus amigos aqui no Banco do Brasil e no Banco Central”. Conseguiram dinheiro para fazer 24 apartamentos de madeira. Surgia a Pousada do Rio Quente. Quando ele, acho que 1980, vendeu a empresa para o doutor Francisco, já tinha 400 apartamentos. Existia o hotel de baixo e o de cima. Depois, fizeram o Hotel Cristal. Nesse tempo que eles fizeram o Hotel Cristal, eu fiz 4 mil apartamentos em Caldas Novas.
E depois da venda?
W.P.: Eu, que já trabalhava com meu pai, o chamei para conversar: “Vamos continuar o negócio”. Eram seis irmãos e só nós continuamos no negócio de construção civil, entretenimento e lazer. Criamos o Grupo Prive e o Clube Privé. Eu comecei com a incorporação e comprei o Hotel Privé, que tinha 12 apartamentos na época. Nós não saímos do negócio. Agora, em 2019, a WAM Brasil recomprou o Grupo Prive dos demais familiares e reformatamos a sociedade.
Quando passou a dirigir o grupo?
W.P.: Meu pai morreu há sete anos, mas, nos últimos 20 anos, eu já que estava na cabeça do negócio. De lá de Caldas Novas, fomos para Olímpia (SP), Porto Seguro (BA), Gramado (RS), São Pedro (SP), Campos de Jordão (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Búzios (RJ). Hoje temos 60% do mercado de multipropriedades no País. A WAM Brasil é uma empresa nova, de seis anos, e surgiu quando eu trouxe o Marcos Freitas e André Ladeira para serem sócios. A empresa deu um salto gigantesco.
E o foco do grupo na multipropriedade, como se deu?
W.P.: Em uma dessas vezes que fui ao exterior, entrei em uma sala de timeshare em Cancún, há 30 anos, e para sair da sala minha mulher falou: “Assina logo esse negócio!”. No fim, acabei usando e até recomprei. Nós não inventamos a roda, só adaptamos a roda ao mercado brasileiro. O que é que os caras estavam vendendo na época? Apartamentos de 3 quartos, casas. Depois eu estive em Miami e em Orlando, o pessoal continuava vendendo. Hoje, eles já estão nos copiando porque foram baixando o ticket médio. Nesse mercado, vendemos à prestação, vendemos o sonho do turismo, não vendemos o financeiro. Vendemos é o turismo mesmo, estamos focados nisso.
E como foi esse salto do Grupo Prive para a WAM? Como foi a ideia de começar a WAM?
W.P.: Quando chamei o André e o Freitas, estávamos vendendo timeshare no Prive, em Caldas Novas. Se você falar de timeshare, fracionado e/ou multipropriedade, tudo começou em Caldas. Fomos nós que começamos. Já estávamos vendendo o timeshare com outro grupo. Chamei o André e o Freitas e falei: “Cara, vamos montar uma empresa e começar lá em Olímpia também”. De Olímpia, nós já fomos para outros lugares. Nós éramos felizes e não sabíamos porque apenas vendíamos. Éramos comercializadores. Até a hora que decidimos entrar em uma incorporação lá em Porto Seguro, depois em Gramado. Começamos do chão, do zero. A WAM Brasil então começou a ser incorporadora, não só a vendedora. Foi nesse momento que ela deu um grande salto. Hoje ela está nesses projetos todos, do Hotel Nacional, ícone do Rio de Janeiro, e de Búzios. Na verdade, WAM deu um salto na hora certa e que hoje é difícil uma empresa repetir.
Goiás sempre teve, no cenário nacional, empresas líderes como a Arisco e a Encol. Hoje tem a Piracanjuba e no setor de turismo temos marcas em forte expansão. A WAM ainda é uma pérola não descoberta da economia goiana?
W.P.: É verdade. Somos mais conhecidos fora de Goiás do que dentro do Estado. Temos escritório em São Paulo, mas a “cabeça” do negócio, praticamente 99,9%, é em Goiânia. Temos outros pontos que são apenas de venda. A tendência é que, até o final de 2020, cheguemos a 4 mil apartamentos.
E a BR Trip e o Clube Cia, o que seriam?
W.P.: Ambas fazem parte do grupo. A BR Trip é uma empresa de hotelaria, é uma bandeira. Acabamos de abrir. É a bandeira que vai para o Hotel Nacional, Búzios e os hotéis de Caldas Novas. Eu estava em São Paulo, com o pessoal da RCI, quando eu fui mudar a chave do timeshare e de multipropriedade. Eu conversei com o pessoal dessa forma: “Você tem de cobrar 250 dólares por contrato”. Aí eu estava almoçando e pensei: “Não. Vou mudar a chave. Vamos trabalhar junto”. Quando cheguei aqui, chamei esses moços e falei: “Cara, vamos criar uma RCI para nós”. E criamos o Clube Cia, que é uma empresa hoje que está voando alto, com mais de 75 mil associados na carteira e resultado respeitável para pouco tempo de vida.
E o Hotel Nacional, como surgiu?
W.P.: Em conversas com amigos empresários. Tenho apartamento no Rio de Janeiro e pensava em fazer uma incorporação por lá. O Wilder (de Moraes, empresário e político) conhecia meus negócios. Ele levou os sócios do Hotel Nacional para ver o empreendimento da WAM em Olímpia (SP). Viram 2 mil apartamentos no meio do mato. Lógico que quiseram saber como vendi. Expliquei que tem um parque ali que leva lá quase 3 mil pessoas por dia. Inauguramos agora 922 apartamentos, tinha pouco mais de 400. E tem mais mil em obras, com 90% de vendas e 50% em obra. Na verdade, foi um ano e dois meses de conversa.
Então eles não queriam vender, queriam parceria?
W.P.: Eles queriam fazer uma parceria, mas depois viram que não queriam participar de um negócio de longo prazo. Cara, eu não tenho longo prazo. Você para, faz a carteira numa XP da vida, num fundo, desconta isso. Com a carteira paga, pega o dinheiro, põe no bolso e resolve o problema. É o que fiz. Nós inauguramos o hotel em setembro de 2019 e está um burburinho no Rio de Janeiro. Nós ficamos quatro semanas para catalogar o que tem dentro do Hotel Nacional. Tem 25 mil copos, 50 mil talheres. O equipamento do Hotel Nacional hoje é o melhor do Rio em relação a cozinhas, restaurantes, churrascaria e obras de arte. O heliporto estamos viabilizando a liberação. O Hotel Nacional será uma grande vitrine para nós.
A WAM Brasil tem limite territorial? Já pensam em algo fora do Brasil?
W.P.: Já estamos pensando sim. Já pensamos em Orlando e Portugal (Lisboa ou Porto). Mas temos muita coisa para consolidar agora no Brasil. Chegamos a Fortaleza também, com hotel pronto (425 apartamentos).
Qual diferencial da WAM Brasil?
W.P.: O pulo do gato é a comercialização. Todo mundo faz, mas bem como nós fazemos, não é todo mundo não. A WAM sabe fazer muito bem, mas depois precisa carregar esse cliente 80, 90 meses junto. Por que nós criamos as bandeiras? Nós já temos uma série de hotéis que estão funcionando nesse sistema. O cara chega lá e fala: “Eu vou pegar um apartamento desse e entregar para uma bandeira qualquer.” Não pode. Tem de entregar para uma bandeira que saiba fazer isso. É um negócio que precisa ter começo, meio e fim. Terceirizar não adianta. A intenção não é ganhar dinheiro com um condomínio caro, é receber a carteira “bonitinha” e poder gerar um segundo, terceiro, quarto negócio.
A negociação entre a WAM e o Grupo Prive muda o conceito do grupo?
W.P.: Não muda muito. O que muda é a gestão. A gente entrou com uma gestão nova – a WAM comprou 40% do grupo e eu continuo com a outra parte –, mas vamos juntar as forças dos executivos atuais com os da WAM e da BR Trip. A empresa familiar, na verdade, é muito ruim. Então, como eu fiquei sozinho agora, trouxe pessoas que não são da família. Já estamos trabalhando nisso mesmo antes de comprar o grupo.
A Lei da Multipropriedade, que é nova, vai mudar inclusive a parte empresarial, estão surgindo novas empresas…
Antes da Lei do Fracionado, teve a Lei do Timeshare, pois qualquer um estava vendendo de qualquer jeito. Isso foi importante para o mercado brasileiro. Tem muita gente que acha que consegue fazer isso e, na prática, não consegue. E isso até respinga em nós, porque somos preocupados em fazer sempre a coisa muito certinha e, quando vemos um negócio feito de qualquer jeito, sabemos que o cara vai lançar e não vai entregar. Isso mancha o mercado.
O que sente quando você avalia seus negócios do início até hoje?
W.P.: É um sentimento muito bacana porque o meu pai foi meu grande guru. Meu pai dirigia muito bem. Mas, morávamos em Brasília e ele já me colocava para dirigir para a Pousada do Rio Quente. Eu ainda com 18 anos. Vinha dentro do carro ouvindo sua conversa com os executivos. Fui criado dentro de hotel, praticamente, nasci dentro disso. Às vezes fico pensando, a nossa quarta geração que está vindo aí. No meu avô, que comprou; depois no meu pai, que fez; e eu, que peguei a empresa e joguei para cima, nacionalizei o negócio. Agora está vindo o Alexandre e o Frederico (filhos) junto com o Freitas e o André (sócios). Os meninos já estão grudados comigo. Já estão dirigindo (risos). O Freitas tem uma bagagem gigante, desde a Superintendência do Rio Quente Resorts, quando meu pai vendeu a empresa, ele ficou lá por anos. Acho que temos uma história bonita e com responsabilidade. E, daqui para frente, nos próximos três anos, temos um desafio gigante.
Qual?
W.P.: Hoje dentro do Brasil, nós já fazemos muita coisa boa. A tendência é irmos para fora mesmo.
Entrevista realizada em janeiro de 2020 para a revista Leitura Estratégica 08.