Por Rubens Fileti
Os números do emprego em Goiás estão aquecidos desde o segundo semestre do ano passado. É um processo de reposição das vagas perdidas nos últimos 24 meses. Com os casos de COVID-19 sobre controle, os empresários voltam a abrir novos postos de trabalho. O Brasil gerou 136,1 mil empregos com carteira assinada em março deste ano, segundo dados do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
É um sinal claro de que uma futura retomada da economia, que não será neste ano, não vai se dar por investimentos públicos nem privados, mas possivelmente pela ampliação da massa salarial e a geração de empregos. Entretanto, algumas pedras ainda estão no caminho. Por exemplo, as seguidas altas na taxa Selic, que já refletem no consumo e no emprego (mas não na inflação, que era seu objetivo).
Goiás, que chegou a ter uma taxa de desemprego acima de 12,5%, a reduziu para abaixo de 10% nos últimos 12 meses. Cabe observar que a contratação ocorre, principalmente, em empregos de baixa qualificação. Mas não qualificar é um risco. O IBGE aponta que mais de 70 mil pessoas procuram emprego em Goiás há mais de dois anos sem conseguir êxito. Este número tem crescido. Há um ano, eram cerca de 63 mil trabalhadores.
Para empregos com maior exigência e formação, sobram vagas e faltam currículos. Áreas como tecnologia, serviços, transportes, logística, eventos, bares e restaurantes, entre outras, estão contratando desde o ano passado e sofrendo para repor profissionais – e já sentem a baixa oferta afetando em alta no valor dos salários. Muitas vezes, as empresas assumem o custo e risco de treinar o trabalhador, que nem sempre vai corresponder ou permanecer por muito tempo na empresa.
Já vivemos este gargalo na mão-de-obra em outras oportunidades que a economia aqueceu. Mas o Brasil não aprende com os erros. Aliás, consegue piorar. A crise da qualificação que vamos viver nos próximos dois anos será pior que qualquer outra que ocorreu.
O Brasil tem uma base longa de trabalhadores com baixa ou nenhuma qualificação. Em seguida, uma faixa também grande de trabalhadores com qualificação defasada, deficiente ou formada em áreas de baixa empregabilidade. E, por fim, um grupo menor de trabalhadores que se especializaram, têm experiência e, se já não são hoje, serão alvo de disputa no mercado.
O gargalo da mão de obra afeta nosso produto em pelo menos dois momentos. Na baixa produtividade, que já é uma marca registrada negativa do Brasil. E também no custo de produção, na medida em que, se é necessário disputar colaboradores no mercado, inflacionam-se salários e o preço final do produto local fica mais caro.
O grande desafio não é apenas gerar emprego, mas ter programas de qualificação que nos coloquem de fato em um cenário competitivo no mercado nacional e internacional. O momento exige uma reflexão e um amplo projeto nacional para capacitar a mão de obra no Brasil. É um desafio de todos, empresas, governos, academia e entidades formadoras, pois as perdas são generalizadas e recorrentes.
Rubens Fileti
Empresário e presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg)