Por Luana Lousa
“A tomada de decisão do consumo do luxo ocorre quando a emoção ultrapassa a razão”
Carlos Ferreirinha
Toda natureza consome, consumir é um ato de sobrevivência! Criamos o escambo para consumir aquilo que não produzíamos, criamos necessidades novas e aumentamos as possibilidades de troca. Entendemos como ordenar e otimizar isso, e então criamos as feiras, depois mercados e shoppings, como evoluções “naturais”, onde a arquitetura assumia o protagonismo do zeitgeist*.
Nesse quesito, o que ainda nos distancia da Natureza é sua capacidade extraordinária de fechar ciclos, de criar ecossistemas inteligentes, onde todos os negócios ali estabelecidos criam um sistema de retroalimentação, beneficiando a todos e ao Todo! Isso não te lembra algo? Numa leitura mais mercadológica, podemos dizer que a Arquitetura vem evoluindo para traduzir esse raciocínio em espaços cada vez mais agradáveis e eficazes no propósito a que se destinam, criando locais com demandas cada vez mais pautadas nas necessidades humanas de consumo. Transmutando espaços frios, com pouca renovação de ar, luzes brancas e exaustivas, em lugares muito mais atrativos, vivos e dinâmicos, com mais luz, mais aberturas, mais verde e mais vida.
Empresários cada vez mais focados no consumidor começam a perceber que “traçar estratégias de negócios tendo o momento atual como única base é um erro”**, e que pode custar a performance e a vida útil do empreendimento. É preciso estar atento às necessidades humanas já que “o que nos move são as tendências de consumo, que vão continuar a existir” e cujas bases podem ser interpretadas (apreciadas) nos dados históricos da neuroantropologia do consumo e devem ser consideradas na construção do espaço, já que a era é da experiência, do encantar de clientes e do engajar pessoas. Uma era onde estratégias de marketing e comunicação dissociadas de uma arquitetura sedutora podem não trazer os resultados previstos. É de extrema relevância entender o comportamento das pessoas que irão consumir produtos e serviços, fazer uso da multisensorialidade espacial de forma a proporcionar experiências que superem expectativas! A necessidade do ambiente se associar aos estímulos para prosperar o negócio não é algo novo, mas o comércio vem se apropriando cada vez mais, e os Shoppings vem evoluindo conceitos e se tornando uma tradução viva e saudável de uma velha necessidade humana, o consumo.
Para muito além da implementação de ESGs, da sustentabilidade e suas economias, a arquitetura pode agir de forma eficaz na otimização dos gastos da operação, reduzindo-os, na mesma proporção que conseguem efetivar vendas mais conscientes e prazerosas, fidelizando clientes, gerando mídia espontânea em seus espaços instagramáveis! Ela pode criar ambientes capazes de estimular ou desestimular pessoas. Presença de luz natural, florestas, ventilações naturais e até produção de alimentos, começam a ser ativos em projetos de luxuosos Shoppings pelo mundo, como as mini florestas do shopping cidade jardim e o CJ Shops em São Paulo ou o Burwood Brickworks, em Melbourne, que visa promover abundância de vegetação (terá uma “fazenda” na cobertura), luz natural e ar fresco em todo o centro comercial para atender às necessidades mais evidentes de seus clientes.
Com o avanço da neurociência aplicada à arquitetura e estudos sobre as relações humanas, é factível e justo aproximar as marcas e seus consumidores através, também, da arquitetura, pois só ela é capaz de transformar espaços em momentos de felicidade, revelando uma das máximas de “mestre Ferrreirinha***”, sempre é possível “transformar o ordinário em extraordinário, o simples em especial e o especial, em EXPERIÊNCIA”!
Luana Lousa
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*Zeitgeist é uma palavra de origem alemã utilizada por críticos e pesquisadores para definir períodos ou movimentos culturais. A tradução mais coerente é “espirito da época” significando os comportamentos e tendências de um determinado período histórico.
**Thiago Alonso de Oliveira, presidente do grupo JHSF , proprietários do CJ Shops e Shopping Cidade Jardim
***Ferreirinha – importante formador de opinião sobre o Mercado e a Gestão do Luxo e Premium da América Latina. Fundador da MCF Consultoria – atuação líder em Gestão do Luxo na América Latina, Brasil, Portugal e África.