Imagine uma bebida geladinha, sabor maracujá pérola, baunilha do cerrado ou cajuína para combinar com o calor. Poderia ser um refrigerante tradicional, mas é Kombucha, bebida feita a partir do chá fermentado, sem conservantes artificiais, com propriedades digestivas e anti-oxidantes, que ganhou novos e deliciosos sabores, após a introdução de ingredientes orgânicos do cerrado.
A inovação, com Passiflora setacea (maracujá pérola do cerrado), Amburana cearenses (amburana), Vanilla pompona(baunilha do cerrado), Brosimum gaudichaudii (mamacadela) e outras espécies regionais, foi introduzida por Ana Paula Montandon e Gustavo Siqueira, farmacêuticos industriais e empresários, de Anápolis, Goiás.
Testes realizados em um laboratório da Universidade Federal de Goiás (UFG), porém de forma independente, concluíram que a saborização de kombuchas com plantas do cerrado incrementou também o potencial antioxidante da bebida probiótica, rica em ácidos benéficos, como o acético e o cítrico. As análises identificaram propriedades antioxidantes, com destaque para o maracujá pérola (gráfico abaixo).
“As propriedades dessas espécies nativas brasileiras agregam sabores inéditos à Kombucha, com potencial para substituir o refrigerante convencional”, projeta Gustavo Siqueira.
Alimento como remédio
De acordo com Ana Paula Montandon, a Kombucha contribui com o funcionamento do intestino e do sistema digestivo como um todo, melhora a disposição física e a concentração.”Além disso, ajuda a combater os radicais livres, aquelas moléculas geradas pelos processos metabólicos que produzem envelhecimento interno e externo, e a prevenir o enfraquecimento do sistema imunológico”, conclui.
Pesquisas recentes apontam que nosso corpo possui 57% de microrganismos e apenas 43% de células. Os microrganismos vivem principalmente no intestino e estão relacionados com uma boa saúde ou com doenças.
“Outros estudos demonstram que a dieta ocidental, rica em ultraprocessados e conservantes, está associada com várias doenças (Collen, Allana, 10% Humano, 2016) e que os alimentos fermentados, como as Kombuchas, ajudam a selecionar os microrganismos relacionados com uma microbiota saudável, como os do gênero Lactobacillus e Saccharomices”, afirma Gustavo Siqueira.
A frase de Hipócrates “que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio” faz muito sentido para Ana Paula e Gustavo, pois há uma linha de pesquisa que relaciona as modificações dos microrganismos da microbiota (microrganismos residentes no intestino humano) com alergias, obesidade diabetes, e doenças auto-imunes. “Por isso, é tão importante consumir alimentos fermentados, ou seja, medicamentos ou alimentos ricos em microrganismos, avalia Ana Paula Montandon.
Produção
Ana Paula e Gustavo são os sócios-fundadores da startup Brizze, que fabrica as Kombuchas saborizadas com frutos do cerrado além de outros sabores, como goiaba, jasmim, hibisco e frutas vermelhas e limão siciliano com gengibre.
Para isso, os pesquisadores se aprofundaram no mundo dos chás e blends, das cascas perfumadas de plantas brasileiras, das frutas escondidas na flora do cerrado, ecorregião que abrange 25% de área territorial brasileira e é responsável por 1/3 da biodiversidade do país, com mais de 11 mil espécies vegetais catalogadas(IBGE).
Os ingredientes utilizados nas Kombuchas Brizze são 100% naturais, valorizam a biodiversidade regional e os produtores locais, ajudando a alavancar pequenos negócios.Para produzir mudanças positivas, a Brizze também apoia competições esportivas, corridas de rua e campeonatos locais de peteca.
A fábrica fica em Anápolis, mas as kombuchas Brizze podem ser encontradas na área refrigerada de supermercados e lojas de produtos naturais, restaurantes de Goiás e de outros estados, como Minas Gerais, Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro, Roraima e Sergipe, em cerca de 400 pontos de vendas.
Para 2023, as metas são expandir o mercado de Kombuchas e criar outros produtos da linha saudável.
Reconhecimento
Fundado em 2018, o projeto que trouxe a inovação para Goiás recebeu o reconhecimento do Centelha, projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás(Fapeg), que visa estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora na região.
Outro reconhecimento foi por parte do Tecnova II, projeto promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações(MCTI), com foco na inovação tecnológica e no suporte aos parceiros estaduais.
Em de junho 2022, foi certificada como empresa graduada pelo Inovacentro, a incubadora de empresas da Universidade Estadual de Goiás(UEG) e em outubro recebeu o prêmio “Mulheres Inovadoras III”, da Finep.