Dificuldade de fazer o fluxo de caixa fechar, superestimar o faturamento, necessidade de capital de giro e não conseguir honrar os próprios compromissos pessoais. Estas são apenas algumas das dificuldades que os empreendedores brasileiros enfrentam no seu dia a dia, como demonstra a Pesquisa de Educação Financeira para empreendedores do Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos – Ceape Brasil.
Segundo o levantamento, 69,7% dos entrevistados afirmam que já tiveram problemas para honrar os compromissos do próprio negócio, o que inclui pagar os fornecedores ou colaboradores. E, quando isso é possível, as contas da família ficam em segundo plano, como declaram os 29,3% restantes.
“O cenário macroeconômico brasileiro por si só é desafiador para o empreendedor brasileiro. Temos uma taxa de juros em queda, mas ainda em patamar elevado, a renda do consumidor comprometida, impostos altos e um crescimento econômico ainda baixo. Mas o principal desafio é o próprio preparo do empresário. Muitas vezes, a pessoa não faz o controle das receitas e despesas e não tem conhecimento básico em finanças para tomar as decisões estratégicas que podem levar à longevidade do negócio ou ao fracasso”, explica Claudia Cisneiros, diretora executiva do CEAPE Brasil, instituição especializada na concessão de microcrédito produtivo, ou seja, unindo empréstimo com educação financeira dos tomadores.
Para solucionar os casos mais extremos, quando há gastos emergenciais ou faltam recursos para pagar alguma conta, 38% disseram que recorrem à “reserva de emergência” do negócio. 32,2% buscam linhas de crédito ou microcrédito, enquanto 16,1% utilizam cartões de crédito. 13,6% afirmaram que pedem empréstimos a amigos ou familiares. Para Cláudia, as respostas não surpreendem. “Os pequenos empreendedores enfrentam dificuldades para conseguir crédito no Brasil quando recorrem às instituições financeiras tradicionais, muitas vezes, por não conseguirem provar que estão aptos a arcar com aquele recurso. Por este motivo, recorrem a fontes alternativas para obtenção de recursos”, diz.
Outro dado da pesquisa que chama a atenção é que somente 54,1% dos empreendedores costumam separar as contas pessoais com as da empresa. Do total da amostragem, 5,4% dos entrevistados afirmaram que não veem sentido na separação. Outros 25,2% disseram que às vezes precisam remanejar os recursos pessoais para a empresa e vice-versa, e outros 15,4% observaram que “fazem o que podem”, ou seja, não conseguem ter duas gestões distintas porque as contas não fecham.
“Para estabelecer o controle financeiro dos negócios, é fundamental separar as finanças corporativas dos gastos pessoais, evitando misturar os recursos e seu uso. Não é incomum encontrar empresários que cometam o erro de misturá-las. Porém, a prática costuma gerar problemas de fluxo de caixa, além de afetar a prestação de contas e prejudicar as declarações de impostos e outras obrigações”, afirma o head de educação financeira da plataforma de gestão financeira Controlle, Leandro Benincá.
Caderninho versus planilha
Sobre o controle das receitas versus despesas, os dados obtidos mostram uma situação preocupante: 9,1% dos empreendedores afirmam que controlam tudo de cabeça e outros 7,9% dizem que não usam nenhum controle. Entre aqueles que buscam olhar com mais cuidado o seu caixa, 7% se baseiam nos que seus contadores falam, 14,5% usam planilhas e outros 61,6% utilizam o caderninho para fechar as contas.
“Gerenciar o fluxo de caixa não é apenas sobre números, é sobre estratégia e controle. É preciso ter um fluxo de caixa realista, sabendo quanto entra de recursos financeiros das atividades da empresa e quanto é destinado para cobrir os custos e despesas. Isso é fundamental para uma gestão financeira eficaz, pois serve como uma bússola que orienta as decisões estratégicas diárias, desde pagamentos de fornecedores até investimentos em expansão”, explica Benincá.