Por Júlio Manfrin
“Então você acha que o dinheiro é a raiz de todo mal. Mas já se perguntou qual é a raiz de todo dinheiro?”
Ayn Rand
O Drex, a moeda digital brasileira, surge em um contexto global de crescente interesse por criptomoedas e seus benefícios, como a redução de custos em transações internacionais e a promessa de inclusão financeira. No entanto, a proposta do Drex, por ser uma moeda digital controlada pelo governo, caminha na contramão das demandas da sociedade, e se assim for concebido, ficará muito, mas muito distante dos princípios fundamentais das criptomoedas: descentralização e liberdade.
Um dos pilares da liberdade individual é a privacidade, direito ameaçado pela centralização do Drex nas mãos do governo. A possibilidade de rastrear cada transação realizada, desde um café até doações para ONGs, cria um cenário de vigilância constante e potencial censura financeira. Imagine um governo com o poder de bloquear o acesso a bens e serviços essenciais, como a compra de alimentos ou medicamentos, com base em critérios políticos ou comportamentais, como doações para causas específicas ou compras em lojas consideradas “indesejáveis”. Essa perspectiva levanta sérias preocupações sobre a utilização do Drex como ferramenta de controle e repressão. Um exemplo hipotético seria o de um jornalista investigativo que, por ter suas transações financeiras monitoradas, poderia ter suas compras de alimentos ou medicamentos bloqueadas por investigar casos de corrupção envolvendo o governo. Distópico? Sim, mas tenicamente possível.
Além da erosão da privacidade, o controle governamental sobre o Drex abre espaço para a manipulação da economia e o favorecimento político. A desvalorização arbitrária da moeda, a censura de informações financeiras e a criação de programas sociais atrelados a apoio político configuram um cenário distópico onde a liberdade econômica e a democracia estão em risco. Imagine um cenário onde o governo, para combater a inflação, desvaloriza o Drex, diminuindo o poder de compra da população, especialmente dos mais pobres. Ou ainda, um governo que utiliza o Drex para criar programas sociais que beneficiam apenas seus apoiadores, condicionando o acesso a benefícios à adesão a determinadas políticas ou candidatos.
A centralização do Drex também intensifica a dependência tecnológica, tornando a sociedade vulnerável a falhas sistêmicas e ataques cibernéticos. Uma falha na infraestrutura do Drex pode paralisar a economia, enquanto ataques hackers podem levar ao roubo de recursos e à manipulação de dados. A concentração de poder sobre o sistema nas mãos do governo cria um ponto único de falha, amplificando os riscos inerentes a qualquer tecnologia. Um ataque hacker bem-sucedido ao sistema do Drex poderia, por exemplo, paralisar completamente as transações financeiras no país, impedindo o pagamento de salários, a compra de bens e serviços, e o funcionamento de serviços essenciais como transportes e fretes. Lembra da greve dos caminhoneiros? Imagine 100% deles paralisados por falta de recebimentos…
Embora o Drex prometa inclusão financeira, a exclusão digital e a concentração de riqueza apontam para um aprofundamento da desigualdade social. Pessoas sem acesso à internet ou a dispositivos digitais ficariam à margem do sistema, enquanto grandes empresas e instituições financeiras poderiam se beneficiar desproporcionalmente. A promessa de liberdade financeira se transforma em um aprisionamento em um sistema controlado e potencialmente excludente. Um agricultor em uma região remota, sem acesso à internet, ficaria impossibilitado de utilizar o Drex para vender seus produtos diretamente para consumidores em cidades, perdendo a oportunidade de aumentar sua renda e participar da economia digital.
Em conclusão, o Drex, apesar de apresentar avanços em termos de eficiência e acesso a serviços financeiros, representa um passo na direção oposta à crescente demanda da sociedade por liberdade. A centralização do controle nas mãos do governo ameaça a privacidade e a autonomia econômica, criando um paradoxo entre inovação financeira e liberdade individual. As moedas digitais vieram pra ficar, não há mais volta. A sociedade brasileira precisa urgentemente entender os riscos e benefícios delas, em especial as centralizadas. É nossa obrigação exigir soluções que garantam a evolução tecnológica sem comprometer os valores fundamentais de liberdade individual.
Júlio Manfrin
Sócio diretor da Lure consultoria desde 2010, especialista e responsável pelos serviços de Controladoria Financeira e Tecnologia.
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