Apesar da queda na taxa de desemprego no Brasil, um paradoxo persiste: o mercado de trabalho segue com vagas sobrando em diversas profissões, mas não encontra candidatos qualificados para preenchê-las. Segundo um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), das 231 profissões que concentram 80% dos empregos formais no país, 92 enfrentam uma preocupante escassez de mão de obra.
Os setores mais afetados incluem serviços gerais, construção civil e indústria pesada. Essa realidade escancara um descompasso entre o sistema educacional, a capacitação profissional e as demandas do mercado, ao mesmo tempo que desafia empresas a encontrar soluções criativas para atrair e reter talentos.
O custo da escassez para o mercado
A falta de profissionais qualificados em setores essenciais não é apenas um problema para os empregadores — ela impacta diretamente a economia e os consumidores. Empresas enfrentam atrasos, aumento de custos operacionais e dificuldades em manter padrões de qualidade. “Quando não conseguimos preencher essas posições, perdemos competitividade, produtividade e a capacidade de crescer de maneira sustentável”, avalia Leo Moreira, CEO da Meta Serviços Especializados e Mestre em Recursos Humanos e Inteligência de Negócios.
Fatores que agravam o problema
Vários fatores explicam esse déficit de mão de obra. Entre eles estão:
- Falta de capacitação profissional: Muitos trabalhadores não têm acesso a cursos técnicos ou de qualificação básica, especialmente em áreas periféricas e regiões mais carentes do país.
- Baixa valorização de carreiras essenciais: A falta de reconhecimento social e a percepção de salários baixos desestimulam os candidatos.
- Mudanças tecnológicas: O avanço da automação em algumas funções administrativas também contribui para a falta de interesse em determinadas áreas.
- Desalinhamento entre educação e mercado de trabalho: O sistema educacional nem sempre prepara os jovens para as profissões mais demandadas, criando um vácuo entre oferta e demanda.
Leo Moreira destaca que a evasão de trabalhadores para programas sociais ou para setores de trabalho informal também é uma preocupação crescente. “Há uma falta de incentivo para os profissionais buscarem postos formais quando percebem que podem obter ganhos similares ou superiores em atividades menos regulamentadas”, pontua.
Soluções possíveis
Para enfrentar esse cenário, empresas, governo e instituições de ensino precisam atuar em conjunto. Moreira sugere que a criação de programas de treinamento e capacitação técnica seja prioridade para empresas que desejam superar o problema. “Investir no desenvolvimento humano deve ser visto como uma estratégia de negócios, não apenas como um custo”, afirma.
Outras estratégias incluem:
- Campanhas de valorização de profissões: Destacar a importância das funções e seu impacto positivo na sociedade pode atrair mais interessados.
- Revisão de salários e benefícios: Ajustes nos pacotes de remuneração podem tornar as posições mais atraentes.
- Parcerias entre empresas e escolas técnicas: Incentivar uma formação mais alinhada às necessidades do mercado é essencial para reduzir o descompasso entre oferta e demanda.
Um problema estrutural
A escassez de mão de obra qualificada não é exclusiva do Brasil, mas a falta de planejamento estratégico no país agrava o problema. Dados do IBGE mostram que, embora a taxa de desemprego tenha caído, boa parte das novas contratações ocorre em empregos temporários ou informais, o que limita a formação de uma base de trabalhadores qualificados.
“É preciso pensar no longo prazo”, reforça Leo Moreira. “A formação de uma força de trabalho resiliente, diversificada e qualificada não só melhora a vida dos indivíduos, mas também impulsiona o desenvolvimento econômico e social de forma geral.”
Ação coletiva para o futuro
Se por um lado as empresas precisam se adaptar para atrair talentos, por outro, o governo e o setor educacional devem revisar suas políticas e currículos para que atendam às demandas reais do mercado. “É fundamental criarmos um ambiente onde o trabalhador veja valor no emprego formal, tanto no aspecto financeiro quanto no social”, conclui Moreira.
A escassez de mão de obra, embora desafiadora, é uma oportunidade de repensar as prioridades do mercado e as políticas públicas. Com estratégias alinhadas, o Brasil pode transformar essa crise em um impulso para o desenvolvimento de carreiras e para a valorização do trabalho em todas as suas formas.
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