Duas estudantes goianas beneficiadas pelo projeto Profissionaliza Goiás – uma parceria do Senac Goiás com a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) – conquistaram o primeiro lugar na categoria Referência, área de Engenharias, na IX Mostra de Ciência, Inovação, Tecnologia, Empreendedorismo e Cultura (IX Moscitec), realizada em Porto Alegre (RS), de 15 a 19 de setembro.
Ana Gabrielly Miranda Pereira e Anna Beatriz Gonçalves de Souza, ambas de 15 anos, sob orientação da instrutora do Senac Késia de Souza Cruz, 33 anos, desenvolveram o protótipo do Sentipulso, um smartwatch voltado para estudantes neurodivergentes, especialmente aqueles com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não verbais. A participação da equipe na Mostra aconteceu de forma on-line e, além de troféus e medalhas, a mesma ganhou uma credencial para a Feira de Ciência e Tecnologia das Nações (Fenadante), que acontece no ano que vem, em São Paulo.
O Sentipulso surgiu durante as aulas do curso Técnico em Marketing do Senac, ministrado no Centro de Ensino em Período Integral Dr. Mauá Cavalcante Sávio, em Anápolis, unindo sustentabilidade, tecnologia e inclusão escolar. A ideia nasceu da necessidade de apoiar estudantes atípicos não verbais no reconhecimento e na regulação das emoções. Ele monitora sinais fisiológicos, como os batimentos cardíacos, e envia alertas para indicar momentos de ansiedade ou estresse. Além de oferecer mais autonomia e qualidade de vida, o dispositivo é sustentável, reaproveitando materiais e utilizando energia solar.
O projeto também contou com a orientação direta do professor Túlio Vadeley Araújo Silva, 29 anos, e com o apoio do também aluno Pedro Augusto Corrêa Crispim Yoshihara, 17 anos, nos testes e na prototipagem.
“É importante esclarecer que ainda não temos o smartwatch pronto. O que desenvolvemos foi a fase 1 do projeto: a criação do protótipo”, destaca Késia. Nessa etapa, a equipe utilizou metodologias de inovação como o Lean Canvas para validar hipóteses e o método Crazy Eight para gerar ideias de design. “Fizemos um primeiro teste desenhando ícones no pulso para simular as funções do relógio e depois montamos um protótipo funcional reaproveitando materiais, como a carcaça de um relógio digital, um painel solar de calculadora e o vibra-call de um celular antigo, usando o Arduino Uno R3 como componente principal”, detalha a instrutora.
Para o professor Túlio, o maior desafio foi justamente transformar sucata eletrônica em tecnologia inclusiva. “Isso mostrou aos estudantes que, mesmo em uma escola periférica, é possível inovar e construir soluções que impactam a vida real”, pontua.
Os testes foram realizados na escola com alunos atípicos, professores e familiares, cujo feedback motivou a inclusão futura de um aplicativo para monitoramento remoto. “Acreditamos que o SentiPulso pode oferecer uma forma de comunicação acessível e acolhedora, ajudando estudantes não verbais a expressarem suas emoções e necessidades, além de apoiar mães e educadores na rotina. E evitar evasão escolar entre essas pessoas que precisam da nossa atenção”, afirma Ana Gabrielly.
Vitória para além do 1º lugar
Apesar da conquista, os alunos não puderam viajar ao Rio Grande do Sul por falta de recursos financeiros. A organização da feira, porém, foi acolhedora: imprimiu o banner do projeto e o expôs junto com o vídeo enviado pela equipe, permitindo a competição online.
Para as estudantes, que já haviam participado de duas competições anteriores sem vencer, o primeiro lugar teve sabor especial. “Foi um sentimento de alegria e surpresa muito grande. Me senti orgulhosa da nossa equipe e motivada, porque mesmo depois de duas derrotas que tivemos, conseguimos conquistar essa vitória, e ainda em 1º lugar”, celebra Ana Gabrielly.
Anna Beatriz compartilha do sentimento: “Foi uma surpresa enorme, pois já tínhamos tido duas derrotas. Fiquei muito feliz e com uma sensação de orgulho da nossa equipe e valeu muito a pena ter começado o projeto”.
A vitória também transformou a percepção das alunas sobre suas próprias capacidades. “Eu percebi que sou capaz de muito mais do que imaginava. Essa conquista me mostrou que acreditar nas minhas ideias e trabalhar em grupo pode levar a resultados grandes e reais”, reflete Ana Gabrielly. Anna Beatriz complementa: “Eu não acreditava muito em mim mesma, mas depois dessas competições vi que sou capaz de pensar, criar e realizar projetos relevantes. Essa conquista aumentou minha confiança”.
O projeto Sentipulso foi inscrito em três competições. Em uma delas, a Learning Sectors – organizada pela embaixada do Conselho Britânico no Brasil – a equipe ficou entre os 9 colocados do estado de Goiás, contra 122 equipes inscritas.
Próximos passos
A equipe já está trabalhando na fase 2 do projeto, que consiste na construção física do smartwatch, incluindo sensores, mecânica e programação embarcada. O grupo também busca parcerias para fortalecer a iniciativa e, futuramente, levá-la ao mercado.
“Essa vitória foi um marco para todos nós. Mostrou aos alunos que barreiras podem ser superadas com inovação e dedicação. Para eles, foi uma lição de perseverança e reconhecimento do talento. Para nós, professores, foi a confirmação de que a educação abre portas, transforma histórias e cria oportunidades que muitas vezes pareciam distantes”, afirma Késia.
A instrutora faz questão de destacar a importância da parceria institucional: “Quero destacar que a parceria do Projeto Profissionaliza, com o fomento do Senac e da Seduc, foi essencial para que tudo isso acontecesse. Foi dando aulas de Marketing dentro desse projeto que consegui levar a metodologia do Medalhar para a unidade curricular Projeto Integrador, e foi ali que nasceu o Sentipulso. Sem esse espaço, talvez a ideia não tivesse saído do papel. Isso mostra como políticas públicas e parcerias entre instituições de ensino podem abrir portas para a inovação. O Sentipulso é a prova de que, quando damos aos alunos oportunidades para experimentar e criar, eles não só aprendem, mas se tornam agentes de transformação na sociedade”.
O presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac e vice-presidente do Confederação Nacional do Comércio (CNC), Marcelo Baiocchi Carneiro, complementa a fala da instrutora, afirmando que a conquista reforça o compromisso do Sistema com a educação transformadora e inclusiva. “O Sentipulso é um exemplo concreto de como a formação técnica de qualidade, aliada ao incentivo à inovação, prepara nossos jovens não apenas para o mercado de trabalho, mas para serem protagonistas de soluções que impactam positivamente a sociedade.”
“Esse primeiro lugar demonstra a excelência do trabalho que o Senac Goiás vem realizando em parceria com a Seduc, por meio do Profissionaliza Goiás. Projetos como o Medalhar e o Sentipulso comprovam que quando investimos em metodologias inovadoras e damos espaço para que os estudantes desenvolvam seu potencial criativo, os resultados são extraordinários”, comemora o diretor do Senac Goiás, Leopoldo Veiga Jardim.
Medalhar: semeando o caminho para a inovação
O projeto Sentipulso nasceu do Medalhar, metodologia criada em 2022 pela instrutora Késia de Souza Cruz, de 33 anos, especialista em Robótica Educacional pela UFCat e com MBA em Empreendedorismo, Marketing e Finanças. “Criei o Medalhar em 2022 ao perceber que as competições de robótica eram voltadas quase exclusivamente ao ensino fundamental, deixando os alunos do ensino médio, especialmente de escolas públicas e periféricas, sem acesso”, explica a instrutora.
A motivação de Késia foi clara: democratizar as competições científicas e tecnológicas, gerar bolsas de Iniciação Científica Júnior e abrir caminhos para permanência escolar e ascensão social. Entre 2022 e 2024, o Medalhar cresceu de 15 para 37 alunos na turma principal, somando mais de 200 premiações, 34 bolsas de IC-Júnior e viagens para diversas cidades do país. Alguns alunos conquistaram até intercâmbio na Suécia e aprovações em universidades, inclusive no curso de Inteligência Artificial na UFG.
Metodologicamente, o Medalhar combina robótica competitiva, iniciação científica e metodologias criativas, utilizando as Inteligências Múltiplas de Howard Gardner para formar equipes por perfis, o Construcionismo de Papert e a abordagem STEAM para aprender fazendo, integrando robótica, arte, fotografia, impressão 3D e escrita científica.
Em 2025, Késia adaptou o método para o Senac, aplicando-o aos Projetos Integradores dos cursos técnicos. O impacto foi expressivo: de 12 estudantes no início do ano, a adesão cresceu para 51 alunos, com 14 classificados para a Maratona Tech e dois projetos de pesquisa, incluindo o Sentipulso – classificados para competições nacionais.
O Senac Goiás é uma instituição do Sistema Fecomércio Sesc Senac, que tem por presidente Marcelo Baiocchi Carneiro. O Sistema integra a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), presidida por José Roberto Tadros.
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