*Por Augusto Schmoisman
A notícia da saída de Jeff Bezos do cargo de CEO da Amazon é algo que revela um caminho que muitos CEOs de outras grandes empresas devem percorrer. Não significa que ele esteja se aposentando, pelo contrário, mas que estará mais atento aos novos projetos que estão sendo desenvolvidos e também ao novo mercado tecnológico.
Tanto a Amazon quanto a maioria das companhias digitais estão se preparando para diferentes frentes de negócios. Um novo mundo virá, não há dúvidas disso, razão pela qual grandes empresas sairão ao mercado para competir entre si com todas as suas forças. Uma competição acirrada, na qual, muitos se concentrarão em negócios comuns. Como, por exemplo, o mercado de carros elétricos, que apesar de ter a Tesla na liderança, deve ter Google, Apple e várias outras marcas de diferentes países competindo no mundo automotivo. Seja nos Estados Unidos, Israel, China, Coreia do Sul, Rússia, Índia, Brasil, Argentina e etc.
Essas corporações, que nasceram no formato digital e com outra cultura nos últimos 20, 30 anos, se destacaram, cresceram, tornaram-se referências mundiais e começaram a seguir novos rumos. Inclusive, outros mercados como financeiro, bancário, educação, saúde, seguros, comunicações, entretenimento, drones, entre tantos outros em que as empresas digitais entrarão a curto prazo – independentemente dos novos segmentos que surgirão.
A ironia é que as companhias tradicionais ainda não perceberam essa ameaça existencial e seguem sem enxergar essas grandes empresas e novas startups como concorrentes. Mesmo com muita experiência e um bom banco de dados, se não souberem tirar proveito disso e não compreenderem o valor das informações, estão fadadas ao fracasso. Um bom exemplo disso é o que tem feito o Google, Facebook, WhatsApp, Waze, entre outras que não cobram por seus serviços ao consumidor final porque usam seus dados.
Agora pergunto: qualquer empresa deixaria de cobrar pelos serviços que presta? A maioria jamais faria isso. Mas, a grande questão é que, mesmo não taxando os serviços, elas estão entre as corporações mais lucrativas do mundo porque o consumidor está pagando com os seus dados, o que vale muito mais.
É preciso enxergar que as companhias têm a solução nas mãos se souberem tirar proveito dos dados, da tecnologia e de seu capital humano. Mas, também, é necessário haver uma mudança muito grande que deve vir de cima para baixo. Essa transformação será o início de sobrevivência para não decretar falência a longo prazo.
No caso das empresas chinesas, provavelmente estão sofrendo um pequeno atraso na saída para esta guerra competitiva de mercado, diante de um pequeno impasse enquanto o presidente da China diz que o monopólio do poder político está em suas mãos e ninguém deve cruzar essa linha. É um processo que levará pouco tempo para que não haja dúvidas quanto ao novo cenário.
Falo tudo isso para afirmar que as mudanças estão acontecendo, exigindo que empresas sejam mais maduras, ágeis, responsáveis e ousadas. É uma transformação até de paradigmas, na qual terão relevância os CTOs, RHs, CISOs que, atualmente, não são considerados tão essenciais como o CFO ou CLO (financeiro ou jurídico). Será necessário saber ouvir, ainda mais, as pessoas dentro da organização e distinguir nos novos tempos quem é bom profissional de quem somente vende-se bem.
É muito comum que, atualmente, grandes presidentes ou CEOs fiquem um pouco confusos sobre a direção a seguir. Mas, é preciso saber ir direto ao assunto, quebrar esse medo do desconhecido porque as grandes marcas digitais estão avançando com o estudo de dados e estratégias. Esta nova etapa não vai perdoar aqueles que não se adaptam, porque o cronômetro contra o tempo continua funcionando.
No caso de Jeff Bezos, sua saída revela a busca por essa autonomia para focar em inovação, novos negócios e novas tecnologias, estando ainda mais presente no mercado competitivo. Afinal, as bigtechs, foco do executivo, têm um DNA diferente das empresas tradicionais, pois criaram uma cultura de dependência dos seus serviços gratuitos, mas que são “pagos” com a disponibilidade dos dados dos consumidores. Em geral, os CEOs das bigtechs desafiam constantemente seus limites, transformam seu campo de atuação em algo global, analisam o negócio em seu máximo potencial, planejam a médio e longo prazo e estão sempre cientes do seu poder.
Augusto Schmoisma
CEO da Citadel Brasil
Especialista em defesa cibernética corporativa, militar, aeroespacial