Por Edwal Portilho ‘Tchequinho’
Industrializar é um desafio para poucos e de décadas. É preciso construir todas as criteriosas condições para se atrair grandes players nacionais e internacionais para investir, capacitar mão de obra e, após a chegada de alguns segmentos, criar polos convergentes que possam ter sinergia para novas expansões e atração de setores complementares, como logística, tecnologia, utilities, consultorias, assessorias, entre outras dezenas que vão chegando às cidades industriais a cada nova fábrica que se instala.
Os municípios se renovam com a industrialização. Novos empregos em áreas que vão exigir capacitações e formações que mudam a realidade de vida e história das famílias.
Goiás caminhou neste sentido e é um dos Estados em que mais se espalharam polos industriais por regiões distintas. Não é característica da indústria se espalhar por várias regiões de um País ou Estado – normalmente, se fortalece mais atuando concentrada em poucos polos.
Goiás conseguiu, por ter várias vocações industriais, ter diversificados polos, disseminados em regiões distintas. É um diferencial no mapa industrial brasileiro.
Mas tem o outro lado da moeda: A desindustrialização.
Desindustrializar é consequência de fatores adversos da empresa ou do ambiente para produzir. A economia brasileira tem favorecido a desindustrialização com a perda de dinâmica industrial. Em resumo: cria seus próprios problemas. Merece uma reflexão mais ampla de causas e, principalmente, de efeitos.
O que dizer de um País que consegue estrangular (um autoestrangulamento, vamos dizer) a sua própria indústria por mais de uma década? Que ignora implantar qualquer política industrial sem se sentir culpado e fortalece dezenas de políticas que incentivam a desindustrialização de setores de base para sofrer com a importação com dólar inflado?
O que dizer se esse mesmo País assiste pacífico a ataques públicos ao setor industrial do alto comando do órgão de assessoramento econômico da Presidência da República e adota políticas econômicas na contramão de qualquer estratégia de país que planeja ser industrial ou é desenvolver seu parque fabril?
E nem falamos da carga tributária, dos juros e spread bancários, burocracia, licenças ambientais, corrupção, falta de infraestrutura e tantas outras variáveis que desafiam a manter a indústria de pé no Brasil. São tempestades perfeitas diárias que muitas vezes explicam os números ruins das últimas duas décadas – e explica porque o Brasil perde 17 fábricas por dia (mais de 1,3 milhão de empregos em cinco anos) e se empobrece, a ponto de travar o País durante a pandemia por uma crise de desabastecimento de insumos para embalagem (alumínio e plástico, por exemplo).
Bom lembrar que hoje, entre outros setores, o Brasil é dependente de insumos para embalagens da China para atender toda sua demanda e que já foi uma indústria forte no Brasil nos anos 1980 e, sem qualquer apoio, desacelerou até perder completamente sua força.
Mas é preciso de um ponto de virada. Aquele momento que a ficha vai cair. Se vai dar tempo de recuperar o que foi perdido é que não sabemos, mas vai ter o momento que “não vai ter mais aquele tanto de indústria pagando imposto como tinha antes” e os mais velhos vão comentar nos gabinetes: “época boa”. A indústria é uma das forças da arrecadação em várias pontas.
Primeiro porque paga diretamente mais de 40% dos impostos arrecadados do setor empresarial. Segundo, porque um dos setores que mais arrecada, o de Energia, tem a indústria como seu cliente ‘vip’, paga indiretamente muito imposto neste setor. E no setor de Combustíveis, outro forte, na base de arrecadação, a indústria além de ser também parte da cadeia de produção com etanol, é forte consumidora (movimenta a geração de impostos). Sem indústrias, paralisa toda essa geração tributária acima.
Estados já perderam milhões e vão perder muito mais com essa redução do potencial industrial brasileiro. Ano a ano, enterramos milhares de indústrias, centenas de milhares de empregos. Enterramos estratégia e dinheiro por falta de visão.
Por uma questão de inteligência, combater o movimento de desindustrialização deveria ser não uma bandeira maior apenas da indústria, mas do setor público, já que este não produz, não gera riqueza, não paga imposto. Estrangular a indústria, assim como o comércio e o setor de serviços, é diminuir o caixa e vai faltar dinheiro para pagar a conta.
Reindustrializar é o caminho. Lutar contra o desinvestimento, a desindustrialização. Buscar setores que foram embora e reincentivá-los, seria uma boa estratégica de futuro. Precisamos pensar décadas a frente, pois as passadas nos condenam. E, se as futuras repetirem o mesmo fiasco, não vão condenar apenas a indústria. É a hora certa de lançar a reindustrilização do Brasil.
Edwal Portilho ‘Tchequinho’
Presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (ADIAL) e ADIAL-LOG.