Muito antes da crise começar vivíamos momentos de mudanças tanto economicamente quanto culturalmente no que se refere ao mercado de consumo brasileiro e mundial. Já questionávamos a importância do ter e a irrelevância do ser, questionávamos se o consumo desenfreado comprando o supérfluo era realmente uma necessidade ou apenas sensação de prazer momentâneo.
Perguntávamos o que as empresas poderiam oferecer além do produto (cada vez mais commodities), qual experiência viveríamos através do que comprávamos.
A marca que identifica-se comigo tem responsabilidade social real? Questionávamos também.
Enfim, as mudanças já apontavam que o caminho iria mudar e os produtos e empresas também, muito antes da pandemia que assola nosso mundo.
Lembro bem que há apenas 10, 15 anos, o consumo era simples, não tinham grandes questões envolvidas. Bastava a propaganda ser criativa e a(o) atriz(or) bonita (o) que já valia a compra, isso bastava para nos identificarmos com o produto.
Hoje antes de pegar um produto, ou melhor, antes de clicar em um produto passa pela cabeça do consumidor, mesmo sem ele saber, uma verdadeira engenharia e em segundos se vai construindo o sentido de adquirirmos ou não aquilo.
A crise veio acelerar tudo isso, forma de se relacionar com a marca e produto, forma de comprar, forma de avaliar a marca, mas principalmente a forma de entender que TER é menos importante do que SER. Mais que isso, a marca (produto) tem que ao mesmo tempo ser útil, socialmente responsável, entregar experiência, identificar-se com o cliente, entender o cliente, ser transparente, não ser oportunista, estar ao alcance da mão e ser financeiramente acessível.
Estas questões sempre rondaram as empresas independente da pandemia atual, da crise da bolsa, da inflação alta, dos planos econômicos e de tantas outras turbulências de mercado.
Algumas empresas enxergam isso e inovam, renovam, entendem, perduram e perdurarão sempre, outras infelizmente desaparecem, seja por não entender o mercado, o produto ou até mesmo por não entender o que vendem.
Enfim, a pandemia irá nos ensinar muita coisa sobre nossos produtos e consumidores, mas infelizmente não dará o tempo necessário para quem não for rápido suficiente em aprender.
A única certeza é que o mercado irá normalizar-se novamente e muitas empresas não irão ver isso, não apenas por problemas financeiros, mas por pura miopia mercadológica.