De um lado, um país que deseja mostrar seu protagonismo na enologia: o México. De outro, um público cada vez mais ávido por novos sabores: os brasileiros. No Brasil, considerado o décimo mercado mundial dos vinhos, o consumo médio da bebida per capita saiu de 1,8 litro em 2019 para 2,7 em 2022, e permanece nesse patamar, de acordo com a consultoria IWSR, especializada no mercado de bebidas.
E agora, os dois países unem seus interesses. O Grupo Tropical, que opera no setor imobiliário no centro do Brasil há 48 anos, juntamente com a empresa do grupo, Raiz Urbana Desenvolvimento Imobiliário, e a tradicional Família Itabaiana, de Brasília, assinou um memorando de entendimento (MoU) com o México no dia 7 de abril, para unir esforços para a expansão do vinho mexicano no Brasil, começando pela capital federal.
A celebração da parceria foi realizada em Goiânia, onde fica a sede do grupo empreendedor, em um jantar no renomado Restaurante Grá, que fica no icônico Órion Complex, o prédio comercial mais alto do Brasil. Estiveram presentes o embaixador interino do México no Brasil, Alejandro Ramos Cardoso, e membros da Câmara de Comércio Brasil-México (Camebra) para a formalização da parceria. A Federação da Indústria do Estado de Goiás (Fieg) também prestigiou o momento.
O grupo empreendedor irá agregar a enologia ao condomínio horizontal Aldeia do Vale Brasília, que está sendo desenhado em uma área de 11 milhões de metros quadrados no Distrito Federal, a 40 minutos da Esplanada de Brasília. A ideia é que o futuro empreendimento seja uma rota do vinho aberta ao público, uma vitrine de vinhos internacionais, como os mexicanos. O relevo e altitude da área também são propícios para o plantio de vinhedos e demais estudos técnicos em andamento. O acordo de colaboração também visa trazer elementos da cultura, gastronomia e arquitetura mexicana para o projeto.
“A relação entre o México e o Brasil é uma história bem bonita, de nações irmãs, e essa possibilidade que agora temos de acrescentar as parcerias no âmbito do vinho é uma possibilidade que nós vemos como algo muito especial e muito interessante, porque o México está produzindo vinhos de altíssima qualidade, como o Brasil também. Temos muito para oferecer em termos de conhecimento, pois estamos fazendo vinhos muito interessantes e reconhecidos do mundo do vinho. Estamos inclusive planejando uma visita do Conselho Mexicano do Vinho ao Brasil, para conhecer o mercado brasileiro, para explorar oportunidades de negócio. Então, vemos essa oportunidade também como um momento ideal para explorar essa parceria”, disse o embaixador interino do México no Brasil, Alejandro Ramos Cardoso.
Nem todo mundo sabe, mas a mais antiga vinícola, ainda em funcionamento, de todas as Américas – Norte, Central e Sul – está no México. Fundada em 1597, a Casa Madero, que originalmente se chamava Bodega San Lorenzo, recebeu do Rei Felipe II da Espanha uma concessão de terras no Valle de Parras, no estado de Coahuila. Em dez anos, o número de vinícolas no País quadruplicou, de acordo com a Wines & Vines Analytics, chegando a 400 vinícolas entre 2012 e 2022.
Durante o jantar, os convidados foram servidos com um vinho feito no cerrado da Monte Castelo Syrah 2022, produzido no Vale do São Patrício, em Jaraguá de Goiás. A bebida recebeu medalha de ouro no Vinalies Enologues de France, um dos concursos de vinhos mais prestigiados do mundo. “Os goianos estão mostrando para o mundo que temos condições de produzir bons vinhos aqui também”, salientou o empresário Victor Hugo Itabaiana Soares, sócio do Aldeia do Vale Brasília, responsável pelo “match” entre as partes que assinaram o memorando. Ele explicou que a evolução das técnicas de cultivo da uva no Cerrado tem provado que a vitivinicultura também tem espaço no centro do País.
“Goiás virou a chave no desenvolvimento de vinícolas há cerca de 10 anos, depois de adotar a técnica da poda dupla, criada pelo mineiro Murillo Regina, para a colheita no inverno”, disse ele. Atualmente, já existem 33 vinícolas em operação.
Paulo Roberto da Costa, sócio-fundador da Tropical, explicou aos convidados que o Aldeia do Vale Brasília está sendo projetado com os princípios de sustentabilidade ambiental do Aldeia do Vale Goiânia, que se tornou uma referência nacional de vida integrada à natureza e, por isso, se transformou em uma linha que está sendo expandida para outras cidades. O propósito de incluir a vitivinicultura vem ao encontro da geografia do espaço e do conceito de agrihood do projeto (comunidade residencial que integra a agricultura à moradia).
Relações comerciais
Apesar de não haver um acordo de livre comércio, o México é considerado o sexto parceiro comercial do Brasil no mundo, e para o México, o Brasil é o sétimo parceiro comercial no mundo. Apesar disso, o volume corrente entre as transações comerciais entre os dois países ainda é considerado pequeno em comparação a outros países – US$ 13,5 trilhões em 2024, de acordo com dados do Conselho Temático de Comércio Exterior da Fieg. Para se ter uma ideia, a corrente de comércio bilateral entre Brasil e EUA atingiu US$ 80,9 bilhões, segundo o Monitor do Comércio Brasil-EUA da Amcham Brasil.
“O México tem uma cultura riquíssima e uma economia diversificada, a exemplo da produção de vinhos e o país precisa destes espaços como estes para apresentar todo o seu potencial. Então, essa parceria, indo além das questões comerciais, também vai trazer a cultura mexicana para mais perto. Mas, do ponto de vista comercial, ela é importante também porque o país tem demanda por muitos produtos. Tem uma população de 190 milhões de habitantes, e uma área pequena para plantio. Os segmentos empresariais brasileiros que já perceberam isso estão tendo bons resultados”, comentou o vice-presidente da Camebra, Djair José de Rezende
“Estamos falando das duas maiores economias da América Latina, mas a gente tem impressionantemente pouco fluxo comercial, o que ao mesmo tempo mostra uma grande oportunidade da gente rapidamente ser capaz de aumentar esses fluxos comerciais entre o Brasil e o México. Essa é uma discussão que está sendo feita no mais alto nível, na Câmara Nacional da Indústria, para justamente ampliar e aumentar as liberalização e aproximação desses mercados, o mexicano e o brasileiro”, salientou Carlos Stuart, consultor em Relações Internacionais e Comércio Exterior na FIEG, também presente no encontro.
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