Por André Ladeira
Recentemente, as abelhas foram oficialmente reconhecidas como os seres vivos mais importantes da Terra. A declaração foi feita pelo Earthwatch Institute durante o último Congresso de Geociências da Sociedade Real de Londres e, embora possa parecer surpreendente à primeira vista, há razões profundas e urgentes por trás desse reconhecimento. As abelhas, embora pequenas e discretas, são responsáveis por sustentar grande parte da vida como a conhecemos. E o mais curioso: quando observamos com atenção o funcionamento de uma colmeia, é possível enxergar reflexos diretos e poderosos do que acontece no mundo dos negócios.
As abelhas são as principais responsáveis pela polinização de cerca de 75% dos alimentos que consumimos no mundo. Frutas, legumes, grãos, sementes e até mesmo o pasto consumido pelos animais de corte dependem, em grande parte, da atividade incansável desses insetos. Sua ausência comprometeria diretamente a segurança alimentar global, derrubaria a produção agrícola e provocaria um efeito cascata em toda a cadeia alimentar. Além disso, as abelhas são indicadores naturais da saúde do ambiente: onde há poluição, uso excessivo de agrotóxicos ou desequilíbrio ecológico, há também colmeias fracas ou desaparecendo.
Essa lógica de interdependência e equilíbrio é muito semelhante ao que observamos nas empresas. A colmeia funciona como uma organização exemplar: cada abelha tem um papel claro, seja na coleta de néctar, na produção de mel, na proteção da colmeia ou no cuidado com a rainha. Todos trabalham em sinergia, guiados por um objetivo comum e uma estrutura bem definida. Da mesma forma, os negócios que prosperam são aqueles que valorizam a colaboração interna, definem papéis com clareza e operam com base na confiança e no alinhamento de propósito entre seus membros.
Outro aspecto notável das abelhas é seu impacto silencioso. Elas não aparecem em propagandas, não têm presença chamativa, mas estão por trás de quase tudo que alimenta a vida. Nos negócios, muitas vezes são os setores mais silenciosos e operacionais — como o financeiro, o RH, a logística ou o atendimento — que sustentam as bases da empresa. Mesmo não estando sob os holofotes, essas áreas são indispensáveis e seu bom funcionamento garante a continuidade e o crescimento da organização.
Além disso, as abelhas operam com foco na sustentabilidade. Elas polinizam sem destruir, produzem sem esgotar os recursos. Esse modelo, que respeita o equilíbrio do meio ambiente, é o mesmo que se espera dos negócios do futuro. Empresas que pensam apenas no lucro imediato, ignorando o impacto ambiental ou social de suas ações, estão condenadas à instabilidade. Por outro lado, marcas que integram práticas sustentáveis, responsabilidade social e propósito no centro de sua estratégia estão construindo bases sólidas para o futuro.
A colmeia também nos ensina sobre adaptabilidade. As abelhas ajustam seus hábitos conforme as estações, a oferta de flores ou as mudanças climáticas. No mundo corporativo, a adaptabilidade é uma das competências mais valiosas. Empresas que não percebem as mudanças de comportamento do consumidor, a transformação digital ou as novas exigências de mercado, tendem a perder espaço rapidamente.
Por fim, talvez a lição mais poderosa esteja na noção de rede e interdependência. Uma abelha sozinha pouco pode fazer. Mas juntas, em milhares, elas criam sistemas complexos e resilientes. O mesmo vale para empresas: nenhuma cresce ou sobrevive isoladamente. A força está nas conexões — com fornecedores, clientes, parceiros, comunidades e investidores. O sucesso de uma organização depende da saúde de todo o ecossistema ao qual ela pertence.
Portanto, reconhecer as abelhas como os seres mais importantes da Terra é, acima de tudo, um alerta e uma inspiração. Se quisermos construir negócios duradouros, prósperos e realmente relevantes, precisamos aprender com a natureza: cooperar mais, pensar no coletivo, respeitar os ciclos, agir com propósito e cuidar do ecossistema ao nosso redor. Assim como as abelhas sustentam a vida no planeta, empresas conscientes podem sustentar o futuro da humanidade. Basta que escolham polinizar valor — e não apenas extrair.
André Ladeira
Empresário e sócio da AM Investimentos, que administra um pool de empresas no Brasil e nos Estados Unidos
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