Por Marcos Freitas Pereira
Fui surpreendido, muito negativamente, com o post ao lado no twitter na semana passada. Diante de um fato desse é impossível ficar calado e passivo visto o que está ocorrendo na nossa sociedade.
Já vem de longe, na história do Brasil, o repúdio às classes sociais excluídas pela nossa elite. Segundo o sociólogo Jessé de Souza, a elite do atraso. O principal exemplo e principal responsável por essa discussão de classe social foi a escravidão no Brasil durante 300 anos, quase 5 milhões de escravos foram negociados no nosso Brasil.
O fim da escravidão esteve longe de uma ação solidária, consciente e de valor à vida. Ela foi exigida pelo mundo. E no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, quem foi ressarcido pelo fim da escravidão foram os proprietários de escravos.
Nos dias atuais, principalmente, no governo do Presidente Bolsonaro, fatos demonstram um recrudescimento nesse repúdio por parte da elite às classes menos favorecidas, as excluídas, tais como: os negros, os homossexuais, os índios, as mulheres, os moradores de ruas e principalmente os pobres.
Desde a invocação do presidente à imunidade de rebanho como providência na pandemia do COVID-19, a qual os menos favorecidos seriam os principais prejudicados, até as declarações do ministro da educação dizendo que a universidade não é para todos e que alunos com deficiências atrapalham outros alunos na escola, demonstram uma total falta de compromisso com os menos favorecidos. Por último, a mensagem desumana do presidente de deixar de comprar feijão para comprar fuzil.
O tratamento dado a pandemia pelo governo federal assemelha-se ao tratamento dado na época da escravidão, onde a vida é/foi apenas um detalhe. Na pandemia mais de 20 milhões de pessoas foram atingidos pelo Covid-19 e quase 600 mil já perderam a vida. Muitos casos e muitas mortes poderiam ter sido evitados caso tivéssemos um governo responsável e comprometido com a vida.
Esse governo representa essa parte dessa elite brasileira. De um modo geral, eles se acham superiores, sentimento de estarem por cima, a prepotência, o fato de alguns ignorarem a pandemia da COVID não apoiando as ações de isolamento, uso de máscara e distanciamento demonstram essa pseudo superioridade, “não corro risco de pegar essa gripinha”.
Repúdio aos mais necessitados, como a figura desse artigo, demonstra o distanciamento das classes dominantes justificado pela política do mérito: todos têm o que merecem, todos têm o que fizeram por merecerem.
Não é assim que ouvimos diariamente de pessoas muito próximas de nós?
De onde vem essa total falta de solidariedade, essa soberba, esse preconceito, esse racismo, essa desumanidade?
Segundo Michael Sandel, professor da Harvard, a meritocracia só existe quando todos tem as mesmas condições de competição. E cabe ao Estado prover essa igualdade de condições. Acesso à universidade para as classes menos favorecida é obrigação do Estado, ao contrário do que quis dizer o Ministro da Educação do atual governo.
No mais recente livro de Jessé Souza, “Como o racismo criou o Brasil”, o autor declarou que essa classe de excluídos e humilhados é composta quase inteiramente por negros e mestiços comprovando as consequências do processo escravocrata na sociedade brasileira de hoje.
Ainda segundo o autor Jessé, os filhos de pais da classe média vão chegar como vencedores à escola já aos 5 anos, porque receberam de berço todos os pré-requisitos emocionais, morais e cognitivos, os filhos dos excluídos e humilhados, quase todos negros, chegarão como perdedores já no ponto de partida. Mais tarde os negros e pobres terão que estudar e trabalhar, já aos 11 ou 12 anos, tornando ainda mais difícil a competição meritocrática, ou seja, Jessé confirma a tese de Michael Sander, só existe meritocracia quando existe igualdade de competição.
Alguns cientistas sociais, durante a pandemia, chegaram a declarar e confesso que acreditei nessa discussão, que o mundo será mais humano, mais solidário após o fim do Covid-19. Hoje não acredito mais. O mundo está mais duro, mais fragmentado, mais polarizado. A crise abateu de forma inconteste as classes menos favorecidas e não está havendo ações de solidariedade por parte das classes dominantes, pelo contrário, o ódio está tomando conta da nossa sociedade.
Recentemente, o Padre Julio Lancelotti foi duramente criticado e ameaçado por ajudar moradores de rua. Moradores de rua são vítimas de assassinos. O ódio nas redes sociais contra os negros é absurdo. Vivemos em um momento que a supremacia branca começa ocupar um espaço maior na nossa sociedade, isso não é admissível.
Políticas inclusivas de educação, políticas inclusivas de renda, políticas inclusivas de saúde e políticas inclusivas de moradia devem ser obrigações de um Estado comprometido com a sociedade brasileira, porém, qualquer alternativa de possibilitar a inclusão social ou resgatá-la, como fizeram Vargas e Lula, irá produzir golpes de Estado que buscam mantê-la eternamente explorada, oprimida e humilhada, essa é a face de parte da elite brasileira.
O Brasil precisa de mais solidariedade, o Brasil precisa de mais amor, o Brasil precisa de mais inclusão. E só um governo comprometido com isso poderá reverter essa situação cruel que estamos vivendo. E só a democracia pode reverter essa situação, situação essa predominante nos países autocratas, ditatoriais e fascistas, achar que um ser humano é melhor do que outro ser humano.
Basta!
Marcos Freitas Pereira
Natural de São Paulo, acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts.
Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.