Um levantamento da plataforma Conexa Saúde revelou que o Brasil ocupa atualmente o segundo lugar no ranking mundial de buscas pelos termos Ozempic e Mounjaro, dois dos medicamentos mais conhecidos da classe GLP-1, utilizados no controle de peso e no processo de emagrecimento.
Além de impactar a vida de milhões de pessoas, esses remédios já começam a refletir no setor de alimentação fora do lar. Pacientes que utilizam medicamentos para emagrecimento tendem a reduzir a quantidade de comida consumida e, muitas vezes, a frequência de visitas a bares e restaurantes.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde cerca de 10% da população faz uso do Ozempic, metade passou a sair menos para comer, e 63% reduziram o tamanho das porções, segundo pesquisa da Bloomberg em parceria com o Morgan Stanley.
Esse movimento desperta a atenção de empresários brasileiros. Com o aumento da demanda por esses medicamentos no país, o setor de alimentação fora do lar precisa entender como se adaptar para não perder clientes — e, mais que isso, como transformar a mudança em oportunidade.
O impacto dos remédios na rentabilidade e no desperdício
O grande ponto de interrogação para os empresários é: se as pessoas comem menos, o ticket médio vai cair? Segundo Adriana Lara, líder de Educação e Produtividade da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), essa é uma preocupação legítima, mas que pode ser encarada como uma chance de repensar modelos de cardápio e de operação.
“Porções menores podem reduzir o ticket médio, mas também permitem ajustar preços e margens, além de incentivar o consumo de acompanhamentos e bebidas. Na operação, simplificam a produção, reduzem desperdícios e exigem revisão das fichas técnicas e do planejamento de compras”, afirma.
Ou seja, em vez de encarar o uso de remédio como uma ameaça, os negócios podem se adaptar. Em alguns casos, a redução de tamanho abre espaço para maior diversificação. O cliente pode pedir duas pequenas entradas em vez de um prato principal, ou experimentar sobremesas que antes não caberiam após uma refeição maior. Isso amplia a experiência e pode equilibrar o faturamento.
Outro ponto positivo é o combate ao desperdício de alimentos, um dos grandes desafios do setor no Brasil. “Pratos mais ajustados à real necessidade do cliente reduzem sobras no prato e perdas na cozinha, ajudando a enfrentar um dos maiores problemas dos negócios”, reforça Adriana.
Cardápios menores e adaptação como diferencial competitivo
Oferecer cardápios adaptados a esse público não deve ser visto apenas como ajuste, mas como diferencial competitivo. Nos Estados Unidos, já existem redes que anunciam explicitamente menus pensados para usuários de remédios GLP-1. É o caso da Smoothie King, que criou um “cardápio de apoio ao GLP-1”, com smoothies ricos em proteínas, fibras e baixo teor de açúcar.
No Brasil, alguns estabelecimentos de alta gastronomia já oferecem meia porção, pratos individuais ou menus degustação mais curtos, ainda que não diretamente associados ao consumo de remédio. Esse tipo de flexibilidade pode se tornar cada vez mais relevante.
A mudança exige, no entanto, atenção redobrada em relação à segurança dos alimentos. “É preciso dar atenção na manipulação dos ingredientes fracionados, pois isso aumenta o risco de contaminação. O armazenamento adequado de porções menores é essencial, assim como refazer fichas técnicas para garantir padronização e custos corretos”, orienta Adriana.
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