Esta coluna prefere analisar e opinar sobre os indicadores da economia real do que os indicadores do mercado financeiro divulgados pelos financistas da Faria Lima. A justificativa é simples, enquanto a economia real interessa e afeta 99,79% da sociedade brasileira, apenas 0,21%, representados por 413 mil pessoas, classificados como milionários, que tem fortunas aplicadas na dívida do governo federal, aplicações em dólares e aplicações no exterior, interessa e é afetada pelos indicadores do mercado financeiro. Entretanto, a função do economista é analisar e opinar sobre os aspectos da economia como um todo, tanto real como financeira.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou no dia 03 de dezembro de 2024 as contas nacionais trimestrais do Brasil referente ao 3º. trimestre de 2024. As contas nacionais representam a evolução do PIB (Produto Interno Bruto), bem como, a sua decomposição, tanto no lado da demanda como do lado da oferta.
A pesquisa reporta vários comparativos, tais como: evolução do PIB do trimestre comparado com o trimestre anterior; evolução do PIB do trimestre comparado com o mesmo trimestre do ano anterior; evolução do PIB acumulado do ano comparado com o mesmo período do ano anterior e evolução do PIB acumulado nos últimos 4 trimestres contra os 4 trimestres imediatamente anteriores.
Para o objetivo deste artigo analisar-se-á apenas o comparativo da evolução do PIB do 3º. trimestre de 2024 com o mesmo trimestre do ano anterior, ou seja, com o 3º. trimestre de 2023. Esse indicativo demonstra como o PIB está se performando nesse ano em relação ao ano anterior, ou seja, 4 trimestres atrás, período mais do que suficiente para se analisar possíveis tendências.
O relatório do IBGE decompõe a variação do PIB entre dois grupos: pela ótica da produção (oferta de bens e serviços) e pela ótica da despesa (demanda de bens e serviços), ou seja, qual setor está produzindo mais e quem está comprando mais. A somatória da ótica da produção é igual a somatória da ótica da despesa. É a igualdade da contabilidade nacional.
O PIB no 3º. trimestre de 2024 cresceu 4% em relação ao PIB do 3º. trimestre de 2023, ou seja, a economia está crescendo a 4% ao ano, depois de um crescimento de 3,2% no ano de 2023. Crescimento trimestral maior dos últimos anos.
Do lado da oferta, os setores tiveram a seguinte evolução: a indústria cresceu 3,6%; o setor de serviços cresceu 4,1% a agropecuária decresceu em 0,8%. Se o agronegócio tivesse tido a performance de anos anteriores, o PIB poderia ter crescido ainda mais.
Esses crescimentos ponderados totalizaram crescimento de 4%, a agropecuária tem participação de 6,9% da oferta do PIB, enquanto a indústria tem 25,4% e os serviços têm 67,8%.
Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 5,5%; as despesas do governo 1,3%; investimentos 10,8%, exportação 2,1% e importação 17,7%.
Esses crescimentos ponderados totalizaram crescimento de 4%, o consumo das famílias tem participação de 62,9% no PIB; despesa do governo tem 19%; investimentos 15,8%; exportações 18% e importações -15,7%.
É importante o entendimento da participação de cada setor no PIB, bem como, a participação de cada ótica de demanda do PIB. Assim pode-se analisar se o crescimento do PIB é sustentável ou não.
É visível o nível de crescimento da economia brasileira nesses três últimos anos, principalmente no ano corrente. Desde 2010 a economia não tinha crescimento tão significativo (exceção 2021 pós queda em 2020 Covid). Aumento real da renda da população é uma das causas e o menor índice de desemprego, 6,2% da série história, é uma das consequências desse momento.
O que acontece com uma economia quando a demanda é maior do que a oferta? O conceito é básico, se houver mais compradores por uma determinada mercadoria do que a quantidade ofertada dessa mercadoria, o vendedor aumentará o preço da mercadoria para encontrar um novo equilíbrio entre a oferta e demanda, acontecendo isso de forma generalizada na economia, ocorrerá o fenômeno da inflação.
Por isso que economistas, assustados com o crescimento atual da economia, principalmente os do mercado financeiro, estão muito críticos com o aumento do PIB, afirmando-os que tem sido proporcionado pelo aumento do consumo das famílias e principalmente pelo aumento do consumo do governo. Diz eles que a tendência é de que em algum momento esse evento gerará inflação, demanda maior do que a oferta de bens e serviços. Diante disso o mercado financeiro precifica os preços dos ativos financeiros, projeta uma inflação maior e taxa de juros futuro maior.
Porém, não é o caso do Brasil, todo movimento do mercado financeiro em aumentar a projeção da inflação, aumentar as taxas de juros futuros e induzir o Banco Central aumentar a taxa básica de juros tem apenas um propósito, e esse propósito é em benefício próprio.
Por que benefício próprio? Porque não há razão técnica que ocorrerá esse desequilíbrio entre demanda e oferta no futuro, está equivocada a premissa de que o crescimento atual está alicerçado no aumento do consumo das famílias e do governo, a evolução dos investimentos, que nada mais é do que o aumento da oferta futura dos bens e serviços foi o dobro do crescimento do consumo das famílias (10,8% contra 5,5%). Com essa pretensão os financistas da Faria Lima tentam desacreditar os indicadores econômicos para se beneficiar de eventos financeiros no objetivo de maximizar seus lucros sem nenhum pudor de olhar para o povo brasileiro.
Segundo Henrique Meirelles falando sobre o atual governo disse que a economia vai muito bem, pois os dois principais indicadores vitais, o crescimento do PIB e a redução do desemprego estão super favoráveis.
Para uma reflexão histórica, a tabela abaixo demonstra a divisão da economia brasileira em períodos que existiram alternâncias de práticas de políticas econômicas. Duas correntes de política econômica foram praticadas, a política econômica desenvolvimentista, política essa que valoriza a participação do Estado no desenvolvimento econômico, é o agente indutor da economia e a política econômica neoliberal que defende uma participação menor do Estado na economia e uma defesa maior do mercado para regular a demanda, oferta e investimentos, política defendida com “unhas e dentes” pelos agentes da Faria Lima.
Talvez essa seja a maior discussão de política econômica no mundo atual, essas políticas separam os ideólogos da direita dos da esquerda. Enquanto a esquerda preconiza uma maior participação do Estado, a direita preconiza a predominância do mercado.
O quadro acima, da história econômica do Brasil, demonstra que a política desenvolvimentista foi de maior sucesso do que a política neoliberal, os resultados do crescimento do PIB foram mais significativos quando a política desenvolvimentista foi aplicada, como no período de 1930-1980 e nos 3 governos Lula. Os resultados das políticas neoliberais foram pífios, vide governo Temer e Bolsonaro, mesmo o governo Fernando Henrique Cardoso, nos seus 8 anos de mandato, a média de crescimento anual do PIB foi de 2,42%.
Por fim, dia 04 de dezembro de 2024 o Instituto Quaest divulgou pesquisa entre os membros financistas (105 pessoas) do mercado financeiro em relação a avalição do governo Lula e do Ministro Haddad. A desaprovação do governo Lula foi de 26% em março para 90% agora, ou seja, total desaprovação na evolução dos indicadores econômicos do país.
Concluo o artigo, sem medo de errar, de que como está muito ruim para os 105 financistas do mercado financeiro, está ou ficará muito bom para mais de 200 milhões de brasileiros, independentes da sua preferência política.
Marcos Freitas Pereira
Natural de São Paulo, acumula mais de 40 anos de experiência no mercado. Doutorando em Turismo, Mestre em Finanças e economista. Fundador e atual sócio da AM Investimentos e Participações que investe em clínicas médicas, turismo, gastronomia e lazer e entretenimento. Foi também fundador da WAM Brasil maior comercializadora de multipropriedade turismo imobiliário do mundo.
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