Goiânia Empresas (GO) – As cooperativas geram impacto positivo sobre a renda, a produtividade e a geração de empregos na agricultura familiar em Goiás. É o que constatou amplo estudo realizado pelos professores Lindomar Pegorini (Universidade do Estado do Mato Grosso), Marcelo Dias Paes Ferreira (Escola de Agronomia da UFG), Guilherme Resende Oliveira (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás e UniAlfa) e Marcelo José Braga (Universidade Federal de Viçosa).
Eles analisaram o impacto do cooperativismo sobre os três indicadores na agricultura familiar em Goiás, com base em dados fornecidos pela Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO).
O estudo aponta que a renda média na agricultura familiar, em Goiás, é de R$ 82.566,35 por ano, com produtividade média de R$ 4.678,01 por hectare ao ano e média de 2,44 empregados ou familiares desenvolvendo atividades na propriedade. Em média, os estabelecimentos têm 37,5 hectares, onde é gerada cerca de 97% da renda do produtor, proveniente principalmente do desenvolvimento da atividade agrícola (73,9%). A maioria dos produtores (77%) reside nas propriedades, geralmente localizadas no Centro Goiano. Dentre as características individuais dos produtores, 84% são homens com idade média de 51,8 anos. Outros atributos de destaque são a presença de cônjuge (70%) e o baixo nível de escolaridade (50% não possuem o ensino fundamental).
Já quando os produtores são cooperados na agricultura familiar, a renda média é superior, com aumento médio de R$ 14.423,64 sobre a renda bruta anual. Participar de cooperativas também promove aumento de produtividade na ordem de R$ 768,61 por hectare. Tal fato pode ser explicado por fatores como acesso a serviços de assistência técnica, melhores condições para compra de insumos e obtenção de crédito para a produção.
Os cooperados goianos também geram mais empregos (0,262 unidades a mais) em relação aos não cooperados, têm maior proporção da renda obtida da atividade agrícola, residem em seus estabelecimentos e estão em maior número nas mesorregiões Leste e Noroeste do Estado. Em média, os não cooperados têm propriedades cerca de 3,5 hectares menores que os cooperados e, com isso, quem participa de cooperativa na agricultura familiar tem renda agrícola e número de empregos maiores, dada a maior escala de produção.
“Geralmente, a participação em cooperativas permite aos produtores rurais receberem um preço maior pelo produto vendido, pagarem um preço menor pelos insumos agrícolas, bem como pela provisão de assistência técnica especializada por parte da cooperativa. Neste contexto, a provisão de assistência técnica por parte de cooperativas permite a transferência de tecnologia de forma mais abrangente do que para os produtores que não participam em cooperativas”, afirmam os professores.
Presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira ressalta que o estudo comprova que o cooperativismo é um modelo que gera maior valor econômico e social para os seus cooperados e para a sociedade em geral. “O estudo mostra de forma técnica que, juntos, sempre alcançamos melhores resultados. Os cooperados na agricultura familiar em Goiás apresentam um uso mais adequado de insumos de produção, têm ganhos de produtividade e conseguem vender seus produtos a melhores preços. Assim, garantem desempenho econômico maior, geram oportunidades para mais pessoas e qualidade de vida no campo”, frisa.
Propriedades com mulheres na condição de liderança empregam mais mão de obra. Ser casado(a) ou viúvo(a) está relacionado a maior renda e emprego em comparação a ser solteiro, mas não influencia a produtividade. A escolaridade apresenta relação positiva e crescente sobre a renda e a produtividade, mas, em contrapartida, apresenta efeito negativo sobre o emprego. Provavelmente, produtores com maior grau de escolaridade são mais adeptos à mecanização e à automação ou estão mais propensos a trabalhar com culturas que gerem maior renda, mas que exigem maior nível de tecnologia.
O tamanho da área está positivamente relacionado à renda, mas negativamente e de forma decrescente em relação à produtividade. Ou seja, quanto maior a propriedade, maior a renda bruta, mas há perda de produtividade, até certo ponto. O tamanho também exerce efeito positivo sobre o emprego. O fato de o produtor morar na propriedade está associado com menor desempenho na renda e na produtividade, mas é positivo para emprego de mão de obra. Esse fenômeno justifica-se para a agricultura familiar, pois residir na propriedade indica que o produtor não dedica todo seu esforço para fins comerciais, mas possivelmente também para subsistência e, ainda, possui mais familiares associados ao trabalho no estabelecimento.
Cooperativismo reduz desigualdades
“O progresso tecnológico tem proporcionado um crescimento substancial da agricultura brasileira ao longo dos últimos 30 anos. Todavia, tem se mostrado desigual, com algumas regiões e classes de produtores apresentando um desempenho superior. Mesmo pequenos produtores apresentando um crescimento produtivo excepcional em termos agregados, uma parcela ainda se apresenta retardatária em comparação aos produtores mais eficientes. Tal discrepância é atribuída a questões de baixa adoção de tecnologia e práticas gerenciais heterogêneas”, afirma o estudo.
Os professores ressaltam que as ações governamentais são limitadas para a redução de tais discrepâncias, sendo que a atuação privada pode complementar a ação do governo. Uma forma de ação privada é a organização de cooperativas agrícolas. Estas implicações das cooperativas parecem ter ainda maior relevância no que concerne aos pequenos produtores, dadas suas características distintivas: pequena escala de produção e baixo poder de barganha perante os parceiros comerciais à jusante e à montante.
“Políticas públicas que fortaleçam o processo de estabelecimento de cooperativas em Goiás poderão reduzir as disparidades de desempenho produtivo, fazendo com que haja maior igualdade e maior eficiência na agricultura do Estado. Dessa forma, o estímulo ao cooperativismo tem impactos produtivos positivos”, afirmam os professores. “Dessa forma, participar em cooperativas pode ser uma estratégia para mitigar as vulnerabilidades presentes na agricultura familiar”, conclui o estudo.