O Banco Central (BC) do Brasil deu início, em 2023, ao programa-piloto do Drex, que será a moeda digital oficial do país, a ser utilizada como uma versão do real brasileiro. A nomenclatura Drex foi pensada para traduzir a mensagem do que é essa moeda. A letra D se refere ao formato, que é digital; o R à moeda nacional, que é o Real; o E é ao sistema, que é eletrônico; e o X, por fim, representa a inovação. Cada brasileiro poderá ter o seu “Real Digital”, podendo realizar transações no mesmo valor da cédula física. A diferença maior é que o armazenamento será virtual, ou seja, ao invés de sacar dinheiro em caixas eletrônicos e andar com notas na carteira, qualquer valor será guardado em carteiras digitais que serão disponibilizadas pelas instituições financeiras.
Em maio, o BC anunciou o avanço à segunda fase do Drex, quando os participantes começarão a testar os possíveis casos de uso e as funcionalidades, como os contratos inteligentes. A expectativa é que o “Real Digital” seja oficialmente lançado em 2025. Enquanto isso, as instituições financeiras estão buscando soluções para se adequarem de forma assertiva à novidade e às suas implicações em todo o sistema econômico do país. Nesse cenário, o diretor-presidente do Sicoob UniCentro Br, Diogo Mafia, conversou com o STG News para explicar um pouco mais sobre a nova moeda digital e contar quais medidas a cooperativa financeira está adotando para receber a novidade. Confira.
O Drex – conhecido como o “Real Digital” – está em sua segunda fase de testes e tem previsão de lançamento no próximo ano. De que forma o Sicoob UniCentro Br está se preparando para essa transição?
Diogo Mafia: O Sicoob UniCentro Br está se planejando através do aumento de investimentos e equipes relacionadas a ativos digitais em preparação para o lançamento do Drex, uma vez que a plataforma de blockchain que acompanha o Drex (mecanismo de banco de dados avançado que permite o compartilhamento transparente de informações na rede de uma empresa, no qual as instituições poderão interagir em rede para a troca de ativos digitais, utilizando contratos inteligentes) impulsionará o mercado de ativos digitais no país. Portanto, para o Sicoob UniCentro Br, o lançamento do Drex representa uma oportunidade significativa de entrada no mercado de ativos digitais e uma mudança em direção à digitalização como uma nova fonte de receita, sendo considerada como uma grande oportunidade de inovação para o setor financeiro para crescer em um ambiente de mudança tecnológica e social.
Esse novo modelo coloca o Brasil em vanguarda entre as economias do mundo? Como você avalia esse passo inovador nos serviços financeiros?
DM: A expectativa é de que essa moeda digital melhore a eficiência do mercado de pagamentos de varejo, promovendo competição e inclusão financeira para aqueles que ainda não têm acesso a serviços bancários tradicionais. O Drex deve integrar ativos financeiros em sua infraestrutura, como debêntures (títulos de dívida que geram um direito de crédito ao investidor), títulos de crédito e ações. A adoção dessa nova tecnologia pode trazer mais agilidade, rentabilidade e produtos financeiros atrativos para emissores e investidores. Em um cenário em que o Brasil busca se posicionar na vanguarda do mercado financeiro, o Drex se insere como uma peça fundamental dessa transformação liderada pelo Banco Central e de revolução da estrutura e da organização do mercado financeiro brasileiro, com impactos significativos, especialmente no mercado de capitais privado, oferecendo oportunidades de desenvolvimento e inovação.
Do ponto de vista prático, para o cooperado, quais as vantagens do uso do “Real Digital”?
DM: A regulação do Drex traz uma série de benefícios, como proteger o cooperado, reduzir atividades ilegais, promover estabilidade financeira e transparência, além de incentivar a inovação responsável. Para as cooperativas de crédito, ele representa não apenas uma evolução tecnológica, mas também uma oportunidade de fortalecer o cooperativismo e promover, ainda mais, a inclusão financeira e segurança do cooperado. As cooperativas financeiras comprometidas com o princípio de educação, formação e informação, desempenham um papel vital ao informar sobre esta nova tecnologia. A educação digital dos cooperados será, com certeza, um aspecto crucial para a adoção em larga escala.
Na sua avaliação, qual deve ser o impacto do “Real Digital” na emissão do papel-moeda?
DM: A versão inicial do Drex será uma opção adicional ao uso de cédulas, mas seu impacto sobre a demanda por papel-moeda não deve ser relevante a princípio. A intenção é que o papel-moeda em poder do público conviva com o “Real Digital” na fase de transição por alguns anos, especialmente em virtude da desigualdade social e de pessoas não incluídas digitalmente ou ainda sem uma instituição financeira. O “Real Digital” visa trazer vantagens como a redução do uso de dinheiro em papel, diminuindo a emissão de novas cédulas e moedas que o Banco Central adquire da Casa da Moeda do Brasil, o que reduz os custos das operações bancárias e amplia o contingente de pessoas no mercado financeiro.
O Banco Central tem enfrentado alguns desafios na implantação do “Real Digital”, como por exemplo, a questão da privacidade. Quais outras dificuldades você enxerga também como entraves?
DM: A segurança e solução de privacidade dos dados dos usuários são os dois principais requisitos do piloto do Drex quando se discute sobre a produção e disponibilidade ao mercado, pois eles garantem o sigilo bancário e todas as regras de compliance financeiro (conjunto de ações e estratégias que uma organização aplica para estar aderente às regras internas e externas). O principal problema encontrado no piloto até agora é que a tecnologia de registro distribuído (DLT), por trás dos blockchains e usada na rede escolhida para abrigar o Drex, permite que os membros da rede tenham acesso a dados como os valores, origem e destino de transações. Entretanto, isso viola as leis de proteção de dados no Brasil. Por outro lado, a regulamentação desse tipo de ativo digital também tem levantado preocupação por questões envolvendo segurança digital, o que vai necessitar de um volume de investimentos por parte do sistema financeiro.
Sobre o Sicoob UniCentro Br
O Sicoob UniCentro Br é uma cooperativa financeira de livre admissão que tem o objetivo de administrar os recursos financeiros dos cooperados, proporcionando maior rentabilidade e justiça financeira a todos. A instituição foi fundada há 32 anos, administra mais de 7,1 bilhões de ativos e conta com mais de 127 mil cooperados no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins.
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