A crescente evasão de mão de obra para programas sociais tem sido motivo de preocupação entre empresários de diversos setores da economia. Além disso, as empresas enfrentam desafios adicionais relacionados à dificuldade em cumprir cotas para Pessoas com Deficiência (PCD) e Jovem Aprendiz, e ainda lidam com os desafios trazidos pela concorrência acirrada com plataformas digitais de entrega e transporte.
De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), nos últimos dois anos, a adesão a programas sociais governamentais, como o Bolsa Família e o Renda Cidadã, tem aumentado consideravelmente. Porém, a saída de parte dos beneficiários do mercado de trabalho tradicional tem impactado negativamente a produtividade e a estabilidade de muitas empresas.
No caso das Pessoas com Deficiência (PCD), que trabalham em serviços de apoio, a remuneração geralmente é baixa, situando-se apenas um pouco acima do piso salarial nacional. Nesse contexto, o BPC LOAS (Benefício de Prestação Continuada, Lei Orgânica da Assistência Social) desempenha um papel significativo. O BPC LOAS é um benefício assistencial concedido pelo governo brasileiro a pessoas com deficiência e idosos em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
O benefício tem como objetivo garantir uma renda mínima para esses indivíduos, visando melhorar suas condições de vida e assegurar-lhes dignidade e inclusão social. Entretanto, para as empresas, o fato de os portadores de deficiência receberem o BPC LOAS torna-se uma das maiores dificuldades enfrentadas, pois o valor do benefício muitas vezes equivale ao salário oferecido pela empresa para o mesmo tipo de trabalho.
Essa equivalência entre o valor do benefício e o salário pago pelas empresas gera um desafio, uma vez que os empregadores enfrentam limitações para oferecerem remunerações mais atrativas aos colaboradores PCD, sob o risco de questionamentos legais relacionados à isonomia salarial. Isso significa que pagar mais do que o valor do BPC LOAS poderia resultar em problemas na justiça do trabalho, uma vez que seria considerado uma discriminação com base na deficiência, indo contra os princípios da igualdade de direitos no ambiente de trabalho. “Como resultado, essa questão torna-se um obstáculo para atrair e reter mão de obra PCD e pode levar à evasão desses profissionais para programas sociais ou outras oportunidades de emprego com remuneração mais competitiva”, disse o CEO da Meta Serviços Especializados, Leo Moreira.
Além dessa preocupação, as empresas também enfrentam desafios no cumprimento de cotas destinadas à inclusão de PCD e Jovem Aprendiz. Segundo relatórios do Ministério do Trabalho e Emprego, muitas organizações têm encontrado dificuldades em preencher as vagas reservadas para esses grupos, seja por falta de candidatos qualificados ou por limitações de acessibilidade e adaptação ao ambiente de trabalho.
Leo Moreira, CEO da Meta Serviços Especializados, uma empresa referência no setor de terceirização de mão de obra, que destaca as preocupações enfrentadas pelas organizações. “A evasão de funcionários para programas sociais é uma questão delicada, e essa situação é agravada quando as empresas lutam para cumprir cotas importantes, como as destinadas a PCD e Jovem Aprendiz. Temos buscado formas de promover a inclusão, mas as dificuldades persistem”, afirma Moreira.

Além dessas questões, as empresas enfrentam a concorrência cada vez mais intensa com plataformas digitais de entrega e transporte. Com a expansão do comércio eletrônico e a crescente demanda por serviços de entrega, muitos trabalhadores têm optado por trabalhar como entregadores autônomos em vez de permanecerem vinculados a empregos formais.
Leo Moreira compartilhou ainda sua preocupação em relação à evasão de mão de obra. “Além das dificuldades com as cotas e o abandono de postos de trabalho para ingressar em programas sociais, também enfrentamos a saída de funcionários para o trabalho autônomo. Essa concorrência tem sido um desafio para manter uma equipe estável”, disse.
Diante desse cenário, especialistas apontam a necessidade de políticas governamentais que incentivem a permanência dos profissionais no mercado formal, por meio de programas de capacitação, incentivos fiscais para empresas que cumpram cotas, e o fomento ao empreendedorismo social para a inclusão de PCD e Jovem Aprendiz. Além disso, é fundamental que as empresas busquem inovação e adaptação ao contexto digital para garantir a competitividade no mercado atual.
A evasão de mão de obra para programas sociais, aliada às dificuldades com cotas e a concorrência digital, representa um desafio complexo para as empresas e a sociedade como um todo. A busca por soluções que promovam a inclusão social sem prejudicar a economia deve ser uma prioridade para garantir o desenvolvimento sustentável do país.