Por Laila Santos
Desde 19 de outubro de 2024, eu voltei no tempo. Não cronologicamente, como na série Outlander, em que uma das protagonistas viaja 200 anos no tempo e passa a viver em um contexto totalmente diferente do qual ela vivenciava, se integrando em um cenário nas Highlands, com costumes e regras bem diferentes.
No meu caso, eu adotei rotinas de tempos passados, em que nossas vidas não eram pautadas pelos perfis das redes sociais digitais e, as 24 horas do dia, não eram divididas com o acompanhamento das timelines. Decidi me ausentar de duas, das grandes redes digitais mais acessadas por brasileiros. Meus perfis foram hibernados, sem prazo para retorno.
Assim, voltei aos tempos em que não tínhamos dispositivos mobile nas mãos para nos inteirarmos sobre a vida dos amigos e conhecidos. Nos meus momentos de “folga”, já não é mais o celular que me ajuda a passar o tempo. Assim estou redescobrindo que o tédio da espera, também é importante para o cérebro, e que as pausas no silêncio podem nos aproximar ainda mais da avaliação dos sentimentos e sensações.
Para saber das viagens feita por uma amiga, por exemplo, agendamos um almoço e conversamos longamente sobre os passeios, paisagens e experiências vividas. Bem diferente de quando olhava as fotos em uma sequência rápida nos stories e enviava um like para demonstrar que aprovava a felicidade dela. No encontro, o celular foi usado apenas para apresentar as fotos registradas, sem ocupar nosso tempo acompanhando fatos externos e terceiros e, portanto, evitando que fôssemos retiradas daquele momento dedicado à escuta ativa.
Estar na contramão das “tendências” causa confusões e dúvidas a terceiros. Os mais próximos a mim, sabendo da minha decisão de não estar nas redes, me procuram presencialmente para contar sobre momentos importantes das suas vidas, relatando aniversários, festas, lugares visitados… por outro lado, os mais distantes, ficaram curiosos com a decisão. Com isso, tem havido especulações de que eu estou “mudada”, influenciada por outras pessoas, com problemas afetivos ou, quem sabe, desiludida da vida. O título de “influenciada por outras pessoas” é o que menos me diverte, já que a ideia de estar off é exatamente não me deixar influenciar pelas construções moldadas e, cada vez mais intencionadas, de manipulação e persuasão.
O fato é que, longe de querer defender uma visão maniqueísta sobre as redes digitais, o que desejo é ter consciência daquilo a que dedico meu tempo e de que forma as minhas atitudes podem contribuir positivamente ou não, para o autoconhecimento e bem-estar. Por isso, ao constatar que a vida além desses espaços virtuais pode ser muito mais virtuosa, eu só tenho a dizer que o prazo para retorno continua indeterminado.
Laila Santos
Jornalista, mestranda em Comunicação e, nas horas vagas, trilheira
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