Por Thiago Neves
Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura – CNA, a participação do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, calculado pela Cepea/USP, representa 26,6% do PIB brasileiro em 2020, um volume expressivo de quase R$ 2 trilhões.
Embora a participação do setor no PIB tenha aumentado 24% em relação ao período de 2019, impulsionada por alta de preços e safras recordes, alguns fatores podem ser analisados como potencial ou real risco constante ao produtor rural, tais como: clima, insumos, custos financeiros, endividamento do setor e condições contratuais.
A elevação da taxa de câmbio é vista por um lado da balança como motivo de alegria, pois aumenta os ganhos do produtor rural brasileiro exportador de commodities, como café e soja. Entretanto, o Índice de Preços ao Produtor Amplo – Disponibilidade Interna (IPA-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas-FGV, evidenciou alta de 31,73% em 2020, enquanto a variação do dólar americano no mesmo período acumulou alta de cerca de 29% nos fechamentos.
Apesar do ganho em exportação para uma fatia do mercado, a alta dos insumos é inevitável, tornando a produção consequentemente mais cara pela elevação do custo de aquisição sementes, defensivos agrícolas, embalagens e combustíveis.
Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), geadas no mês de julho de 2021 afetaram entre 10% e 20% das principais áreas de cultivo nos cafezais paulistas.
Em Ribeirão Preto, no mesmo período, 30% da lavoura de cana-de-açúcar foi atingida pelo frio intenso. Já as perdas de produtividade do milho safrinha, em regiões do Estado de São Paulo, variam de 20% a 70% conforme fase da produção. No Paraná, segundo informações da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), estima-se perdas de até 80% do milho safrinha que não estava pronto.
Outro fator importante a ser observado é o endividamento do setor. Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o volume de recursos destinado ao Plano Safra 2020/2021 é da ordem de R$236,3 bilhões, volume 6% maior que o período anterior, distribuído em 76% para custeio e comercialização e 24% para investimento.
Segundo dados do Banco Central o volume contratado de crédito rural de julho a novembro de 2020 foi de R$108 bilhões, sendo 18% maior que o período anterior. As taxas médias de juros por fonte de recursos variaram de 4,3% a 7% ao ano para subsidiados, enquanto as taxas livres foram, em média 9,6% ao ano em novembro de 2020.
Estas taxas referem-se aos juros contratuais, entretanto, em situações de mora do produtor este custo financeiro pode elevar-se ainda mais, e, a depender dos casos, tornar a dívida impagável, obrigando o devedor a buscar recursos abusivos, como as desvantajosas operações mata-mata, contratando crédito caro para liquidar outro, sob riscos de execuções de garantias via arresto, ou sequestro de bens.
Como agravante, além das questões climáticas, de inflação nos insumos e endividamento, os contratos de crédito muitas vezes apresentam condições desfavoráveis ao produtor rural, seja por meio de cláusulas questionáveis judicialmente, seja por metodologias de cálculo desfavoráveis, que, além de superarem limites técnico-legais, oneram excessivamente os custos de produção, diminuindo a lucratividade e rentabilidade, bem como o caixa do produtor e sua capacidade de honrar os compromissos financeiros assumidos. Neste contexto, buscar renegociação de dívidas parece ser alternativa bem razoável à continuidade saudável dos negócios.
Thiago Neves
Colunista do site Em Sua Defesa
Graduado em Administração pela PUC-GO, especialista com MBA em Perícia e Auditoria Econômico-Financeira pelo Instituto de Pós-Graduação – IPOG; Gestão Financeira pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – Ibmec.