Por Júlio Manfrin
“A tecnologia não é nada. O importante é ter fé nas pessoas, que são basicamente boas e inteligentes, e se você lhes der ferramentas, farão coisas maravilhosas.”
Steve Jobs
A relação entre o setor financeiro e a tecnologia da informação (TI) tem uma longa história de cooperação e conflito. Desde os primeiros computadores usados para cálculos financeiros até as sofisticadas ferramentas de análise de dados que temos hoje, a tecnologia tem sido uma aliada indispensável para os profissionais de finanças. A ciência de dados, em particular, revolucionou o campo, permitindo análises mais precisas, previsões mais confiáveis e uma maior eficiência nos processos financeiros. Essa transformação, no entanto, não veio sem desafios. O amor e o ódio entre financeiro e TI são alimentados tanto pelos benefícios quanto pelas frustrações que a tecnologia traz para o dia a dia corporativo.
De uns dez anos pra cá, a ciência de dados se tornou uma peça central nos departamentos financeiros. Ferramentas avançadas de análise permitem que empresas de todos os tamanhos tomem decisões informadas com base em grandes volumes de dados. Análises preditivas ajudam a antecipar tendências de mercado, identificar riscos e descobrir novas oportunidades de investimento. Costumo brincar em meus clientes que antes do termo “big data” se popularizar, controllers e contadores já brincavam de cientistas de dados. Salvo, claro, as devidas proporções…
E não se engane achando que análise de dados é algo que só é possível com cálculos supercomplexos feitos por algoritmos de 1000 linhas. Um exemplo que sempre me vem à cabeça quando converso sobre análise de dados é de um cliente nosso que representava a operadora Claro. Nesse negócio existe um produto de altíssima recorrência em vendas, mas de valor muito baixo, na casa dos centavos, que nunca chamou a atenção de ninguém: o chip. Comercializado dentro de um plano pós-pago não tem custo para o representante, mas em qualquer outro plano sim. Quando fizemos uma análise simples, cruzando plano vendido X número do chip vendido, descobrimos que os vendedores sempre os ofereciam gratuitamente para facilitar as vendas. O Resultado era perda de faturamento na casa de R$ 60.000,00 ao mês, aproximadamente.
Apesar de uma inegável vantagem como essa ilustrada, a TI também pode ser fonte de grande frustração. Sistemas complexos e frequentemente não intuitivos podem tornar uma atividade corriqueira num grande desafio. Problemas técnicos, falhas de sistemas e a necessidade constante de atualizações podem interromper o fluxo de trabalho e causar atrasos incalculáveis, sob a perspectiva de custo. (Se você lembrou da CrowdStrike + Microsoft, você não está sozinho). Além disso, a dependência de suporte técnico especializado para resolver problemas pode gerar sentimento de impotência entre os profissionais de finanças, que muitas vezes se veem à mercê de uma tecnologia que deveria facilitar, e não complicar, seu trabalho. A cereja no bolo das frustrações fica por conta da extração de dados. Cada relatório “maravilhoso” que nós temos nos ERPs, não é verdade?
Mas se de um lado temos frustrações, de outro temos também algumas alegrias. Por muitos anos o Excel foi nosso companheiro fiel. Além de deixar os profissionais de TI boquiabertos com as automações que conseguimos gerar numa planilha, agora temos a inteligência artificial pra completar o pacote. Quem aprender a dominar ferramentas de IA poderá substituir muitas das tarefas mecânicas do dia a dia, além de analisar grandes volumes de dados em segundos, identificar erros e padrões que escapariam ao olho humano e até mesmo fazer recomendações de investimento. Embora essa última não recomendo, por experiência própria, acho que ainda precisa de mais inputs…
A conclusão é que a relação entre financeiro e TI não é de amor e ódio, mas de oportunidades e desafios. Enquanto a tecnologia pode frustrar pela sua complexidade e necessidade de manutenção constante, ela também oferece ferramentas poderosas que aumentam a eficiência e a precisão no setor financeiro. A inteligência artificial, embora ameaçadora para alguns profissionais, também representa uma oportunidade de evolução e melhoria contínua para aqueles que estão dispostos a explorá-la. Lembre-se: qualquer ferramenta tecnológica não passa disso: uma ferramenta. Quando utilizada em seu máximo, transforma nosso trabalho. Profissionais financeiros demandam precisão e eficiência; é essencial que abracemos a tecnologia, aprendamos a desvendar suas complexidades e tiremos proveito das ferramentas disponíveis para facilitar nosso trabalho. Somente assim poderemos transformar amor e ódio em algo produtivo e benéfico.
Júlio Manfrin
Sócio diretor da Lure consultoria desde 2010, especialista e responsável pelos serviços de Controladoria Financeira e Tecnologia.
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