Por Maicon Farina
O cooperativismo em Goiás consolidou-se como uma das principais forças propulsoras do desenvolvimento econômico e social do estado. Nos últimos anos, a profissionalização das cooperativas goianas foi impulsionada por uma forte adoção de práticas de governança corporativa, que trouxeram avanços significativos em gestão, transparência e eficiência operacional. Esse amadurecimento permitiu às cooperativas não apenas aprimorar seus processos internos, mas também fortalecer sua credibilidade junto ao mercado financeiro, facilitando o acesso recursos para investimentos e expansão.
Com raízes profundas no setor agropecuário, mas também em franca expansão nos segmentos financeiro e de saúde, as cooperativas goianas se destacam não apenas pela geração de empregos e renda, mas também pela capacidade de estruturar cadeias produtivas e democratizar o acesso ao crédito. A implementação de conselhos administrativos independentes, auditorias regulares e políticas claras de compliance tornou a gestão mais profissional e alinhada às melhores práticas do mercado. Como resultado, as cooperativas passaram a ser vistas como instituições sólidas e confiáveis, o que ampliou suas linhas de financiamento e as oportunidades de parcerias estratégicas com bancos e fundos de investimento.
Aqui aprofundamos o panorama atual das cooperativas em Goiás, oferecendo uma análise detalhada do impacto da profissionalização, dos mecanismos de crescimento e das perspectivas para o futuro.
Panorama Numérico do Cooperativismo em Goiás
Segundo dados atualizados do Sistema OCB/GO (2024), Goiás conta hoje com aproximadamente 260 cooperativas registradas e ativas, distribuídas em diferentes ramos — agropecuário, crédito, saúde, indústria, transporte, consumo, infraestrutura, entre outros. Juntas, essas organizações reúnem mais de 614 mil de cooperados, empregam cerca de 19 mil pessoas de forma direta e movimentaram, em 2024, aproximadamente R$ 32 bilhões em receitas com R$ 70 bilhões em ativos. Esses números posicionam Goiás como o terceiro maior estado em movimentação econômica cooperativista no Brasil, atrás apenas de Paraná e Minas Gerais.
Comparando nacionalmente, o cooperativismo brasileiro reúne cerca de 4.800 cooperativas, com mais de 20 milhões de cooperados e movimentação anual superior a R$ 600 bilhões. Goiás, portanto, responde por cerca de 5% desse universo, evidenciando sua relevância estratégica. O fortalecimento da governança corporativa contribuiu diretamente para que as cooperativas goianas conquistassem maior representatividade e competitividade, integrando redes nacionais e internacionais e atraindo investimentos.
Grandes Cooperativas: Casos de Destaque em Goiás
COMIGO (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano):
Fundada em 1975, a COMIGO é referência nacional no cooperativismo agroindustrial. Em 2024, atingiu faturamento superior a R$ 13 bilhões, contando com mais de 12 mil cooperados e cerca de 3.400 funcionários. Sua atuação vai além do recebimento e comercialização de grãos, incluindo industrialização de alimentos, produção de sementes e assistência técnica de excelência. A profissionalização da gestão, por meio de práticas avançadas de governança, permitiu à cooperativa ampliar sua capacidade de inovação, garantir maior transparência nas decisões e conquistar linhas de crédito mais robustas junto ao mercado financeiro.
Cocari (Cooperativa Agropecuária e Industrial):
Com operações em Goiás e Paraná, a Cocari destaca-se pela diversificação produtiva e pelo suporte aos associados. Em 2024, superou R$ 6 bilhões em receitas, com mais de 6.000 cooperados. A adoção de processos de governança corporativa, com foco em auditoria, compliance e qualificação dos gestores, resultou conquistas de operações estruturadas como uma Nota Comercial emitida em novembro de 2024 no volume de R$ 200 milhões.
Sicoob UniCentro Br e Sicoob Unicidades:
O Sicoob, maior sistema de cooperativas financeiras do Brasil, tem em Goiás duas de suas principais singulares: UniCentro Brasileira e Unicidades. Juntas, contam com mais de 120 mil cooperados, ativos superiores a R$ 10 bilhões. Além de financiar seus cooperados, também contam com linhas de investimento como as LCAs e LCIs. Estes recursos, destinado ao mercado de capitais, financiam a cadeia do agronegócio e imobiliário com taxas mais atrativas.
Em síntese, as cooperativas goianas colheram resultados positivos ao investir na profissionalização e na governança corporativa: melhoraram sua gestão, aumentaram a transparência, conquistaram a confiança do mercado e dos associados, e, principalmente, tiveram acesso ampliado a crédito, o que permitiu acelerar o crescimento e a modernização do setor cooperativista no estado.
Impacto Econômico: Geração de Empregos, Renda e Desenvolvimento Local
As cooperativas goianas são responsáveis por um ecossistema robusto de geração de empregos formais, distribuição de renda e dinamização das economias locais. Além dos empregos diretos, há forte impacto indireto sobre fornecedores, transportadores, prestadores de serviços e comércio em geral. A distribuição das sobras (resultado líquido) entre os cooperados, prática típica do modelo cooperativista, reforça o ciclo virtuoso da economia regional, promovendo maior equidade e desenvolvimento sustentável.
Em 2024 as cooperativas goianas tiveram mais de R$ 1,5 bi de sobras. Grande parte desse valor foi devolvido aos cooperados.
Outro destaque é a inclusão financeira: cooperativas de crédito, como Sicoob e Sicredi, ampliam o acesso de pequenos produtores, micro e pequenas empresas e pessoas físicas ao crédito estruturado, muitas vezes em localidades desassistidas por bancos tradicionais. Existem várias cidades em goiás que não há nenhuma instituição financeira que não seja uma cooperativa financeira. Isso resulta em maior investimento local, fortalecimento de cadeias produtivas e redução das desigualdades regionais.
Governança corporativa como Alavanca para o Crédito Estruturado
O avanço da governança corporativa nas cooperativas goianas foi decisivo para a abertura de novas fontes de financiamento sofisticado. Instrumentos como Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio (FIDCs), Notas Comerciais e Debêntures passaram a ser acessados por cooperativas que antes dependiam quase exclusivamente de linhas de crédito tradicionais ou de recursos próprios.
Esse movimento só foi possível porque a adoção de práticas de governança — conselhos deliberativos com membros independentes, auditorias externas, controles internos e maior transparência na prestação de contas — transmitiu ao mercado uma percepção clara de solidez e segurança. Com maior confiança dos investidores, as cooperativas conquistaram ratings mais robustos e puderam captar volumes expressivos com custos mais competitivos.
Impacto Social: Saúde, Educação Financeira e Desenvolvimento Regional
O impacto social das cooperativas em Goiás vai além da economia. Programas de saúde preventiva (caso da Unimed Goiânia), educação financeira (Sicoob, Sicredi), capacitação de jovens e estímulo ao empreendedorismo contribuem diretamente para a melhoria da qualidade de vida, inclusão social e desenvolvimento regional.
Um exemplo é o programa Financinhas promovido pelo Sicoob Unicidades onde a educação financeira é levada, de forma gratuita, às escolas dos municípios onde atua.
Projetos de responsabilidade socioambiental, como preservação de nascentes, recuperação de áreas degradadas e incentivo à agricultura sustentável, também fazem parte do compromisso das cooperativas goianas com o futuro do estado.
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É cada vez mais nítido o que um boa Governança pode trazer para as empresas. Aqui citamos o caso das cooperativas, mas uma governança corporativa bem estruturada eleva sua companhia para um patamar acima e, assim, sua empresa pode se tornar um imã para captação de financiamentos e operações de crédito estruturado. Pense nisso!
Maicon Farina
Sócio-diretor da Lure Capital, vice-presidente da Câmara Setorial de Governança Corporativa da Acieg e conselheiro fiscal do Sicoob Unicidades. Administrador pela PUC-GO, executivo financeiro pela FGV-SP, Estratégia pela FDC-MG e de conselheiro de administração pelo IBGC. Especialista em operações estruturadas de crédito e professor de Matemática Financeira.
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