Por Edwal Portilho ‘Tchequinho’
Nas últimas semanas, o risco inflacionário vem rondando a economia brasileira. Quando estes primeiros sinais se tornaram temas de conversas entre as famílias e nas empresas, artigos de jornais e debates entre especialistas, já se tinha a dimensão do tamanho do problema, que se alastra em processo de ampla difusão na economia.
O sinal amarelo acendeu com a alta forte do arroz, que gerou um baque na sociedade, levantando uma série de interrogações, que foram se agravando a cada novo produto que anunciava majoração.
Quando da alta no preço do arroz, já prevíamos na Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (ADIAL) que o mesmo poderia ocorrer e, aliás, já vem ocorrendo, com o preço da soja, do milho e de seus derivados.
A situação se agravou e voltamos ao assunto, capa da edição passada da Pró-Industrial, porque a inflação é algo muito sensível para a indústria brasileira, sempre uma parceira direta da nossa economia, que hoje é pressionada por movimentos inflacionários que o setor industrial não tem condições de controlar. Desde 2015, com longos ciclos de recessão e estagnação, a indústria segurou repasses de reajustes menores que ocorriam no interior da cadeia produtiva.
Primeiro, não teria demanda, pois a renda do trabalhador estava achatada e a concorrência puniria diretamente qualquer ação oportunista. E, em segundo lugar, a cultura da estabilidade de preços já estava implantada. Reajustes excessivos, oportunistas e aleatórios seriam punidos pelo mercado, com fornecedores e indústrias perdendo clientes para outras as empresas que praticam concorrência leal e justa.
Diferente dos últimos anos, este recente ciclo inflacionário que a sociedade enfrenta é mais profundo e com maior risco. Ele, aliás, chegou antes na indústria e causou pânico.
A preocupação do setor é que o repasse de aumento de preços implica na queda de vendas, o que já tem ocorrido. E, perder vendas agora, neste momento, tem sido um baque para o industrial. Os fornecedores alegam falta de matéria-prima, que vai da embalagem aos insumos produtivos. A questão é que não faltam apenas milho, soja e arroz, exportados em abundância por conta de um câmbio favorável, mas faltam também papelão, plástico, cobre, alumínio, resinas, entre outros itens essenciais para o produto ser fabricado, embalado e entregue.
Este desabastecimento de insumos eleva os preços ao teto. E, ainda assim, mesmo pagando o reajuste de até 30%, não se tem garantia de fornecimento.
Um exemplo simples, como caixas de papelão, item essencial na indústria para embalar as encomendas: para quem consegue comprar, mesmo pagando o preço reajustado, os prazos de entrega subiram de 15 dias, em média, para 60 dias ou 90 dias. Com a oferta baixa e a procura altíssima, os preços disparam. E não tem negociação. Priorizam quem já era cliente. Novos clientes? Fica na fila de espera para 2021. O problema está estabelecido.
São situações que afetam toda indústria de bens de consumo. Lutar contra este problema exige uma força coletiva, de governos e setores do mercado que acelerem a importação e a produção local.
Agora vamos falar de um assunto que a ADIAL bate na tecla há mais de cinco anos: a desindustrialização da indústria de base. Repetidas vezes reclamamos do descaso de não ter uma política industrial, vários setores foram dizimados, ficando poucas indústrias, gerando altíssima dependência da importação. Estamos de mãos atadas.
Centenas de fábricas nacionais foram fechando pois não eram competitivas contra, principalmente, os chineses. Agora, para importar insumos com o dólar nas alturas e a demanda mundial aquecida, o Brasil entra na fila e espera.
O fabricante estrangeiro escolhe para onde enviar seu produto e a que preço quiser. Neste caso, estamos refém destas manobras de mercado. É um elo da nossa indústria que foi enfraquecido e que muito nos afeta.
Importante, agora, é separar o joio do trigo. O industrial brasileiro não tem culpa se grande parte do nosso insumo agrícola sai in natura para o exterior, aliás, com imposto zero; que o câmbio disparou nos últimos anos; e, que a desindustrialização parcial de setores da indústria de base e a consequente dependência da importação destes itens nos afete tanto neste momento.
O industrial vai pagar a conta também, pois seu custo de produção ficou muito caro, a margem de lucro de novo foi esmagada e as vendas, tombaram.
Aos poucos e com muita dor, vamos entender porque países que estão crescendo tratam a indústria como setor altamente estratégico. Ao Brasil, cabe repensar ou chorar, aprender com seus erros, voltar o foco para o desenvolvimento, e valorizar sua indústria.
Edwal Portilho ‘Tchequinho’
Presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (ADIAL) e ADIAL-LOG.