Por Marilene de A. Martins Queiroz
O mundo mudou, não temos o mesmo tempo que tínhamos para pensar, planejar e executar a mudança. A velocidade como as coisas acontecem a nível global impacta o cenário político, econômico e social, e consequentemente, a liderança dos negócios. Antes da pandemia, vivíamos uma transformação na forma de se relacionar impulsionados pela tecnologia e o fluxo das informações no mundo virtual.
Com a pandemia, vimos a disrupção no cenário econômico impactando a sobrevivência dos negócios. As mudanças colocaram à prova a resiliência coletiva, a solidariedade humana e a sua capacidade de enfrentar e superar as adversidades. O mundo se curvou diante do medo, a insegurança tomou conta das pessoas, grandes empresas encerraram as atividades e o pequeno empreendedor foi sugado pela crise. Desemprego, fome e morte assombraram as famílias. O luto não se restringiu às perdas de parentes e amigos, mas principalmente às mudanças impostas no estilo de vida com o distanciamento social. Sem escolhas e sob estresse, a pandemia impactou a forma de se relacionar em diferentes contextos.
Por outro lado, a tecnologia das informações diminuiu a distância entre as pessoas. Ela otimizou os processos de trabalho através da automação e do home office. Isso permitiu a empregabilidade e a condução dos negócios.
Neste cenário adverso não é possível liderar sem levar em conta a vulnerabilidade tanto econômica quanto social e, acima de tudo, as questões relacionadas à condição humana.
Quem não se sentiu inseguro diante de tantas incertezas?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), depressão e ansiedade estão no ranking das doenças mais incapacitantes no mundo. Ainda segundo a OMS, a quarta onda da pandemia se refere a saúde mental. Meio a isso, quantas empresas se viram obrigadas a fechar os seus negócios por não conseguirem promover a mudança necessária em relação ao enfrentamento da crise?
Diante disso, frente a níveis elevados de pressão, se vulnerabilizar significa reconhecer as suas fragilidades. Isso não é fraqueza, é a consolidação da segurança psicológica necessária à mudança. É sinônimo de bravura porque exige das pessoas uma postura ativa em relação à ameaça. No contexto organizacional, isso envolve abrir canais de comunicação que possibilitem fomentar uma postura de acolhimento emocional em relação à vulnerabilidade. O intuito seria promover a mudança necessária tanto a nível individual quanto coletivo.
Além disso, o líder precisa exercitar a humildade para conectar a equipe no mesmo propósito da empresa. No contexto de crise, o líder não pode se comportar como o centro do universo. Embora a humildade seja uma característica de personalidade e um grau elevado de inteligência emocional, essa habilidade pode ser melhorada com treinamento especializado. Nesse aspecto é preciso ter inteligência socioemocional para promover o senso de responsabilidade coletiva e, acima de tudo, autorresponsabilidade em relação ao papel de líder.
Na contramão desse processo, estão os líderes que se julgam super-humanos. Estes por sua vez adotam uma postura de coaches motivacionais pregando uma verdade absoluta para tudo e para todos. Esse tipo de comunicação é pautado na surdez coletiva coerente com a postura de chefe que não abre espaço para escuta, dificultando desenvolvimento da equipe.
Sem autonomia e segurança psicológica não é possível acessar as inseguranças que dificultam o desenvolvimento profissional da equipe, os prejuízos refletem na produtividade e na empresa como um todo. Sem conhecer as vulnerabilidades, não é possível superá-las.
Nesse processo sai à frente quem está alinhado com o seu time em termos de propósito e cultura organizacional. Quem reconhece a sua dor e a dor do outro está preparado para enfrentar os desafios impostos no cenário atual e os demais que estão por vir após a pandemia.
Marilene de A. Martins Queiroz
Psicóloga, Mestre em Psicologia, Diretora do Instituto Habiens.
Parabéns pelo artigo.
Conteúdo fantástico que nos nas refletir alguns posicionamentos frente a necessidade de mudanças impostas pela Pandemia.
Quando se fala em gestão de pessoas, nenhum padrão é absoluto.
A Pandemia nós provou isso.
Obs: “nos faz refletir”